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Deixe que a tela conte sua história: Arte terapia para mulheres na fronteira do Equador

Comunicados à imprensa

Deixe que a tela conte sua história: Arte terapia para mulheres na fronteira do Equador

Deixe que a tela conte sua história: Arte terapia para mulheres na fronteira do EquadorComo uma cebola, a tela se desenrola numa viagem interior em camadas. Assim surgem as serapilheiras, tapetes que refletem as vozes de mulheres que vivem na fronteira norte do Equador.
25 Julho 2013

LAGO AGRIO, Equador, 25 de julho de 2013 (ACNUR) – Como uma cebola, a tela se desenrola numa viagem interior em camadas, com histórias de rios, bombas, mortes e esperanças. Assim surgem as serapilheiras, tapetes que refletem as vozes de mulheres que vivem na fronteira norte do Equador. Por muitos anos, elas viveram com sentimentos guardados, sem deixá-los fluir, sem falar sobre eles.

“Mataram o meu marido. Violentaram minha filha. Mas o tempo aqui tem me ajudado. Aprendi com as companheiras e tirei do peito tudo o que sentia. Agora me sinto forte, agora posso falar. Aprendi a tirar a dor e o ódio”, diz a voz por detrás da tela de linha enfeitada com outras cores que representam uma casa, uma vida.

Ela, uma refugiada, conta sua história para outras mulheres, diplomatas em atividade no Equador. Na conversa se diluem as nacionalidades, escolaridades, viagens. São mulheres que se entendem e se identificam às margens de um rio binacional.

Outra voz vem de uma mãe de quatro filhos, indígena colombiana que fugiu do conflito no seu país há mais de uma década: “Fiquei doente, mas pude me recuperar. Desabafei e pude seguir a diante. Agora quero florescer com os meus filhos. Já sei me defender, e não me dou por vencida”, afirma sorrindo enquanto segura o tapete enfeitado por um arcoíris.

Depois de varias décadas trabalhando juntas, as mulheres refugiadas e equatorianas, vítimas de distintas formas de violência, a Federação de Mulheres de Sucumbíos, com o apoio do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) nessa província da Amazônia equatoriana, desenvolveram esse tipo de arte terapia.

Desde 2012, as sessões coletivas reúnem as mulheres equatorianas e refugiadas de origem colombiana no Lago Agrio, na comunidade fronteriça de Barranca Bermeja. Nessas sessões, através do processo de criação dos tapetes que contam suas vidas, elas conseguem falar sobre os maus-tratos familiares, violência, feridas e sofrimentos.

Como explica Amparo Penãherrera, coordenadora no Lago Agrio (Sucumbíos) da Casa Amiga, albergue de primeira acolhida para mulheres vítimas de violência, assim como seus filhos e filhas: “A assistência para mulheres deve ser acompanhada do processo de reabilitação. Com ele, crescemos todos. Este aqui é um lugar seguro para curar as feridas e aprender”.

Esta antiga organização de apoio às mulheres, feita por mulheres, surgiu na Amazônia equatoriana há três décadas e realiza um projeto como parte do processo integral de assistência às vítimas de violênciam, num ambiente em que seis de cada 10 mulheres viveu algum tipo de violência, indíce já observado. Essas cifram crescem para oito de cada 10 mulheres, quando se trata de mulheres colombianas em situação de refúgio.

No Equador, país que acolhe mais de 55 mil pessoas reconhecidas como refugiadas e que recebeu desde 2000 mais de 168 mil solicitações, a violência que vivem as mulheres se multiplica quando elas tem que fugir em busca de proteção internacional.

“70% dos refugiados no Equador são mulheres, meninas e meninos. Eles estão muito vulneráveis à violência no país de acolhida, unindo-se dessa maneira a violência que já sofreram antes de serem forçados a fugir”, explica John Fredrikson, representante do ACNUR no Equador. “Como uma agência preocupada com a proteção dessas pessoas, e graças ao apoio da União Européia, o ACNUR está desenvolvendo programas os quais, tal como executa a Federação de Mulheres, incidem no processo de integração dos refugiados. Além do mais, esses programas lhe dão a oportunidade de curar frente às duras experiências que viveram”.

Graças a esta visita que aproxima mundos distintos, as Damas Diplomáticas estenderam a sua solidariedade às mulheres que, apesar de sua vulnerabilidade, souberam se superar. “Nunca tinha conversado com alguém tão importante”, reconhece uma voz tímida. Porém, todas se reconhecem nas dificuldades das demais. 

Enquanto isso, o rio divisório da frontera escuta todas essas histórias que ao se tecerem não se esquece, mas te ensinam a viver.

Sonia Aguilar em Lago Agrio (Equador).