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4 cidades que acolhem refugiados

Comunicados à imprensa

4 cidades que acolhem refugiados

26 Outubro 2021
Sharmarke Dubow, vereador da cidade de Victoria, em frente aos edifícios do Parlamento em Victoria, British Columbia, Canadá. Sharmarke foi forçado a fugir da guerra civil na Somália quando tinha oito anos © Quinton Gordon

Quando as pessoas pensam em refugiados, muitas imaginam campos extensos cheios de tendas. Mas você sabia que a maioria das pessoas que foram forçadas a fugir de suas casas devido à violência ou perseguição vivem em cidades? Mais de 60% dos cerca de 26 milhões de refugiados do mundo e mais de 80% dos 46 milhões que fugiram de suas casas, mas permanecem dentro das fronteiras de seu país, vivem em centros urbanos.

As pessoas forçadas a fugir da guerra ou da perseguição - assim como as que não têm nacionalidade (apátridas) - frequentemente não têm acesso à educação de qualidade, saúde e empregos. Em 2018, o ACNUR, Agência da ONU para Refugiados, lançou a campanha #ComOsRefugiados, uma iniciativa que convida as cidades a assinarem uma declaração para dar as boas-vindas publicamente às famílias forçadas a fugir. Muitas dessas cidades também estão incluindo refugiados nas políticas e tomada de decisões. Mais de 250 cidades em 50 países se comprometeram até agora.

“Minhas experiências como refugiado me ajudaram como líder”

A iniciativa nunca foi tão importante. A pandemia de coronavírus exacerbou a desigualdade, devastou economias e interrompeu a educação de várias crianças. Incluir os deslocados em respostas de saúde, bem como nos planos de recuperação social e econômica, é fundamental e inteligente.

As cidades que adotaram esses recém-chegados são mais fortes por conta disso. Os refugiados são professores, donos de lojas, engenheiros - nossos vizinhos. Enquanto a COVID-19 se alastrava, muitos trabalhavam como enfermeiras, médicos e socorristas. Reconhecendo um enorme mercado inexplorado, vários países e alguns estados nos Estados Unidos tornaram mais fácil para os trabalhadores de saúde refugiados obterem suas licenças - muitas vezes um processo demorado e proibitivamente caro para aqueles que se formaram no exterior.

Abaixo, vemos como quatro cidades garantiram que aqueles que vieram em busca de refúgio também encontrassem um lar - e como todos foram beneficiados.

Milão, Itália

Milão tem servido de exemplo para o resto da Itália, Europa e o mundo com políticas e práticas que ajudam a inserir os refugiados na capital da moda. Em 2018, quando uma lei nacional impôs mais restrições aos solicitantes da condição de refugiado, Milão garantiu que eles ainda tivessem acesso a empregos, escolas e ao sistema público de saúde. Desde então, a legislação nacional tem se inclinado mais para a integração dos refugiados, mas Milão continua se destacando.

O prefeito da cidade, Giuseppe Sala, pertence ao Conselho de Migração de Prefeitos, que defende políticas mais inclusivas para migrantes e refugiados. Em resposta à pandemia do coronavírus, ele e outros membros do conselho pediram aos governos locais e nacionais que permitissem a todas as pessoas acesso igual a cuidados de saúde e assistência econômica, independentemente de seu status de migração. Eles também encorajaram as autoridades a incluir migrantes e refugiados no desenvolvimento e implementação de respostas à pandemia no combate à desinformação, o racismo e a xenofobia.

“Nosso objetivo é construir uma resposta inclusiva para refugiados e crianças migrantes”, disse o prefeito. “A mobilidade humana é um dos desafios mais urgentes do nosso tempo e exige uma resposta conjunta pragmática, e não ideológica”.

São Paulo, Brasil

O Brasil acolhe cerca de 364.000 deslocados à força, metade dos quais foram forçados a fugir da violência e da instabilidade na vizinha Venezuela. Por décadas, São Paulo liderou a inclusão de refugiados, migrantes e apátridas na política e na prática. A cidade inclui migrantes e refugiados em sua resposta à COVID-19, garantindo que informações sejam disseminadas em vários idiomas, e fornece dinheiro, comida, saúde e moradia às pessoas afetadas pela pandemia, incluindo refugiados e migrantes.

Trabalhando com o ACNUR, São Paulo criou um programa especial para refugiados e migrantes transgênero para garantir que eles não sejam discriminados na resposta à COVID-19.

No próximo ano, São Paulo implementará seu primeiro Plano Municipal de Políticas Públicas para Refugiados e Migrantes para garantir que as políticas públicas atendam aos deslocados à força que vivem na cidade. Um corpo eleito de refugiados e migrantes, o Conselho Municipal de Imigração, desempenhou um papel central no desenvolvimento do plano.

O conselheiro Jean Katumba, engenheiro que fugiu da perseguição política na República Democrática do Congo, chegou ao Brasil em 2013. Ele já morou em um abrigo público com outros refugiados. Agora, ele é um líder comunitário e fundador de uma ONG que ajuda os refugiados a se integrarem ao país. Ele falou com o ACNUR sobre a importância dos refugiados desempenharem um papel de destaque na formulação de políticas. “Ninguém pode saber dos desejos de outra pessoa, exceto a pessoa envolvida”, disse Jean. “As percepções que temos, as ideias que pretendemos implementar e a vontade de o torná-las possível é o que me inspira”.

Victoria, British Columbia, Canadá

Aproximadamente um quinto dos que vivem em Victoria são imigrantes ou refugiados, de acordo com os últimos dados disponíveis do censo (2016). Victoria se orgulha de ser uma cidade que trabalha com todos os setores da sociedade para criar um ambiente inclusivo e acolhedor para os recém-chegados. Ela ainda oferece US$ 50.000 de seu orçamento para investimentos em projetos que tornam a vida mais fácil para os recém-chegados, um projeto promovido pelo vereador Sharmarke Dubow.

Dubow desempenhou um papel fundamental em transformar Victoria em uma “cidade acolhedora”, que faz parte de uma rede comprometida em incluir imigrantes e refugiados na política e na prática. O vereador fugiu da guerra civil na Somália em 1992, quando tinha apenas oito anos. Ele viveu em um campo de refugiados no Quênia e depois na Etiópia e no Egito antes de finalmente chegar ao Canadá em 2012 com a ajuda do ACNUR. Ele trabalhou com a Sociedade do Centro de Imigrantes e Refugiados de Victoria e a Associação Intercultural da Grande Victoria antes de ser eleito para o conselho municipal em 2018 (ele se tornou cidadão canadense em 2017).

Além do projeto de investimento, ele trabalhou para levar trânsito gratuito a jovens (menores de 18 anos) e refugiados recém-chegados (por um ano, independentemente da idade). Ele também se ofereceu como voluntário para a agência de ajuda internacional Khalsa Aid Canadá para levar mantimentos e alimentos para famílias não documentadas e refugiadas durante a pandemia do coronavírus.

“A pandemia de COVID-19 trouxe muito estresse e incerteza para nossas comunidades”, disse Sharmarke ao ACNUR. “Minhas experiências como refugiado vivendo por mais de 20 anos em incertezas precárias me ajudaram como líder, a ter uma compreensão de como as pessoas estão preocupadas agora - pessoas se sentindo fora de controle”.

Viena, Áustria

Logo após a Segunda Guerra Mundial, Viena acolheu refugiados - aqueles que fugiram da Hungria após a revolução de 1956, o rescaldo da Primavera de Praga de 1968 e a guerra na ex-Iugoslávia na década de 1990. Mas foi realmente na última década que a cidade cresceu e se tornou um modelo de integração. Agora, o modelo de “integração desde o primeiro dia” é seguido, mesmo com o país sendo mais rígido com os solicitantes da condição de refugiado e os migrantes.

Em 2016, após a chegada de dezenas de milhares de refugiados no ano anterior, os líderes lançaram um programa denominado CORE, por exemplo. A iniciativa convidou refugiados a trabalhar com instituições públicas e a sociedade civil para desenvolver programas que os ajudassem a prosperar.

A equipe CORE comemorou seu sucesso em outubro passado e encerrou o programa em si, mas os projetos que impulsionou continuam vivos. No âmbito de um programa denominado Start Vienna, a cidade também organizou eventos sob medida em diferentes idiomas para refugiados, fornecendo informações sobre moradia, educação, mercado de trabalho e muito mais.

Jürgen Czernohorszky, Conselheiro Executivo da Cidade para Educação, Integração, Juventude e Pessoas, disse ao ACNUR: “Tem havido um grande engajamento da sociedade civil. Para ser honesto, não teríamos conseguido sem os voluntários. É disso que precisamos - o coração aberto das pessoas que vivem na cidade”.

Compilado por Sarah Schafer, Editora Digital Global Sênior do ACNUR.