40 anos do golpe de estado no Chile: Avós da Praça de Maio identificam um novo neto
40 anos do golpe de estado no Chile: Avós da Praça de Maio identificam um novo neto
BUENOS AIRES, Argentina, 18 de setembro de 2013 (ACNUR) – 11 de setembro de 1973, um golpe militar derrubou no Chile o governo eleito democraticamente do presidente Salvado Allende. O golpe de estado foi seguido imediatamente pela repressão das atividades políticas legitimas e da detenção massiva de dezenas de milhares de partidários do anterior governo.
A repressão que se seguiu à instalação da ditadura militar forçou a milhares de chilenos ao exilio durante os seguintes anos. Muitos deles emigraram como refugiados a países de América latina e Europa. Entre os que fugiram para Argentina, houve vários casos que não só tiveram que aguentar penúrias próprias do exílio, mas também continuaram expostos a graves abusos contra seus direitos humanos.
As seguidas investigações judiciais em torno do “Plano Condor” têm demostrado como a coordenação de ações repressivas entre as ditaduras de Argentina (1976) e Chile conduziram ao assassinato e ao desaparecimento forçado de refugiados que haviam conseguido fugir da repressão.
Entre estes casos se encontra Pablo Athanasiu Laschan, que foi apresentado no último dia 06 de agosto como o neto recuperado n°109 por Estela de Carlotto, presidenta da Associação Civil Avós da Praça de Maio. Em abril, após uma árdua tarefa de investigação, Pablo foi contatado pelos integrantes da associação e concordou em realizar o exame imunogênico que conseguiu determinar sua familiaridade com o sobrenome Athanasiu Laschan.
Pablo nasceu em 29 de outubro de 1975. É filho do casal chileno Frida Laschan Mellado e Angél Athanasiu Jara. Quando só tinha poucos meses de idade, Pablo e seus pais foram sequestrados em uma operação que forças de segurança realizaram no hotel em que moravam na cidade de Buenos Aires, onde haviam chegado fugindo da perseguição em seu país de origem.
Pablo foi entregue pelas forças da ditadura e registrado como filho próprio de um casal ligado ao regime militar. Seu sequestrador se encontra preso no marco de uma causa por crimes contra a humanidade. Seus pais, Frida e Angél, continuam como desaparecidos até hoje.
Estima-se que mais de 500 netos foram sequestrados pela ditadura militar argentina, que criou um plano sistemático de roubos de crianças que incluiu o sequestro de bebês, crianças e mulheres gravidas, assim como a instalação de maternidades clandestinas em centros de detenção. As crianças roubadas como “botim de guerra” pela repressão foram registrados como filhos próprios pelos membros das forças de repressão, deixados em qualquer lugar, vendidos ou abandonados em institutos como seres sem nome. Dessa maneira, fizeram-nos desparecer ao anular sua identidade, privando-os de viver com sua legitima família.
A Associação de Avós da Praça de Maio é uma organização não governamental que tem como finalidade localizar e restituir a suas legitimas famílias todas as crianças sequestradas desaparecidas pela repressão de politica em Argentina, e criar as condições para que nunca mais se repita tão terrível violação de direitos das crianças, exigindo ainda que seus responsáveis sejam sometidos à justiça.
Desde sua criação, as avós conseguiram recuperar 109 crianças desaparecidas. Segundo palavras de Abel Madariaga, secretario de Avós de Plaza de Maio, o trabalho e compromisso das Avós respondem a “uma busca coletiva e não individua”. Pelo seu compromisso com a defesa dos direitos humanos e os valores democráticos, a Associação Avós da Praça de Maio foi indicada em diversas oportunidades ao prêmio Nobel da Paz.
O caso de Pablo e seus pais trás à tona riscos sérios de proteção e abusos contra os direitos humanos que muitos refugiados passaram nesta região pouco depois de abandonar seu país de origem em busca de proteção durante os anos das ditaduras latino-americanas. O caso renova a importância de lutar sempre pelo respeito dos direitos humanos dos refugiados e o estrito cumprimento das normas internacionais para sua proteção.
Ainda que não existam números exatos do número de pessoas que fugiram ao exilio nos anos em que as ditaduras militares se apoderaram dos governos dos países do Cone Sul, estima-se em várias dezenas de milhares o número total de quem fugiu do julgo das ditaduras.