ACNUR alerta sobre travessias perigosas no mar que banha o Chifre da África
ACNUR alerta sobre travessias perigosas no mar que banha o Chifre da África
GENEBRA, 19 de janeiro (ACNUR) - Apesar do conflito em curso no Iêmen, milhares de etíopes e somalis continuam fazendo a perigosa travessia marítima que já custou a vida de pelo menos 36 pessoas só neste ano, alertou a Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR).
Os últimos dados mostram que 92.446 pessoas chegaram de barco ao Iêmen em 2015, um dos maiores números anuais já registrados na última década. Um total de dois terços chegaram desde março de 2015, quando o conflito se iniciou.
Com 95 mortes registradas, 2015 foi o ano mais mortífero já contabilizado. Devido a este recente histórico, conciliando com a perda de 36 vidas em um incidente no dia 8 de janeiro deste ano, o ACNUR está hoje reiterando a sua advertência para as pessoas que fazem a travessia sobre os perigos desta jornada.
"Os valores globais são preocupantes", disse o porta-voz do ACNUR, Adrian Edwards, em uma coletiva de imprensa realizada em Genebra na terça-feira (19 de janeiro). "As pessoas continuam chegando apesar da intensificação, sem precedentes, dos conflitos internos no Iêmem e outras continuam perdendo suas vidas de forma trágica na tentativa de atravessar o mar em embarcações inapropriapriadas, sendo transportadas por um número de passageiros acima dos limites de segurança” acrescentou.
O ACNUR começou a registrar as chegadas ao Iêmen sistematicamente desde 2006. Até agora, apenas nos anos de 2011 (103.154) e 2012 (107.532) ocorreram chegadas mais expressivas de etíopes e somalis no Iêmen do que em 2015. Quase 90% (82.268) do ano passado eram pessoas provenientes da Etiópia.
O ACNUR na Somália e seus parceiros têm trabalhado com as autoridades somalis e a comunidade internaconal para melhorar as condições de segurança, sócio-econômicas e políticas na Somália. Ademais, tem-se buscado ativamente soluções duradouras para os refugiados, retornados e deslocados internos.
Estes esforços têm como objetivo proporcionar uma alternativa aos somalis ao invés das arriscadas viagens marítimas para o Iêmen. O número de somalis que viajaram para o Iêmen no ano passado é comparado apenas ao pico de 33 mil pessoas que fizeram esta jornada em 2008.
A maioria das chegadas em 2015 se deu pela costa do Mar Arábico ao invés da costa do Mar Vermelho, onde em anos anteriores a maioria das chegadas foram registradas e as redes de contrabando e de tráfico têm sido ativas. Desde a intensificação do conflito em março 2015, um dos mais intensos focos está centrado em Ta'izz, justamente ao longo da costa do Mar Vermelho, o que pode ter ocasionado a mudança das rotas de viagem.
Parceiros do ACNUR continuam a patrulhar a costa do Mar Arábico e providenciar abrigo, alimentação e cuidados médicos para aqueles resgatados no mar ou que chegam por seus próprios meios. As pessoas que procuram proteção internacional são encaminhados ao escritório do ACNUR no país. Como resultado do conflito que está em curso, um parceiro do ACNUR teve que fechar temporariamente o seu centro de trânsito e uma clínica em Bab-el-Mandab.
Muitos recém-chegados não têm informações sobre a gravidade do conflito, acreditando que a situação se tornou relativamente calma em algumas províncias no sul do país, ou estão seguindo rumores de um melhor acesso para os países vizinhos do Golfo.
Os recém-chegados enfrentam restrições de circulação no Iêmen, e há relatos de alguns terem perdido suas vidas em conflito. Há agora menos oportunidades de trabalho e serviços disponíveis, e quadrilhas organizadas e contrabandistas continuam operando ao longo da costa do Mar Vermelho.
"O ACNUR e seus parceiros do conselho do Chifre da África tratarão sobre os perigos inerentes desta viagem, as realidades da situação no território do Iêmen e as opções de refúgio e de assistência disponíveis para eles", disse Edwards.
O conflito continua a se intensificar no país e a população iemenita está arcando com o ônus da guerra, contabilizando mais de 2,5 milhões de deslocados internos atualmente. Apesar das restritas limitações de acesso e segurança humanitárias, o ACNUR assistiu mais de 280.000 iemenitas deslocados internos com itens domésticos essenciais e material para abrigo em 2015.
O Iêmen é também a casa de mais de 266 mil refugiados, dos quais cerca de 250.000 são somalis. Enquanto isso, mais de 168.000 pessoas foram obrigadas a abandonarem seus lares e se mudarem para os países vizinhos do Iêmen desde março do ano passado.