ACNUR e Defensoria Pública de São Paulo assinam acordo de cooperação
ACNUR e Defensoria Pública de São Paulo assinam acordo de cooperação
SÃO PAULO, 10 de novembro de 2014 – A Defensoria Pública de São Paulo e o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) formalizaram na última sexta-feira (7/11) um acordo de cooperação entre as duas instituições para garantir a efetivação dos direitos humanos, civis, sociais, econômicos e políticos das pessoas refugiadas, solicitantes de refúgio, apátridas, deslocadas internamente ou outros sujeitos que necessitem de proteção internacional, assegurando-lhes o acesso à justiça.
O documento foi assinado pelo Defensor Público-Geral, Rafael Valle Vernaschi, e pelo representante do ACNUR no Brasil, Andrés Ramirez, durante a realização do curso "Defensoria Pública Estadual e a efetivação dos direitos de refugiados, apátridas, deslocados internos e solicitantes de refúgio", realizado pela Escola da Defensoria Pública de SP (Edepe), com apoio do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública.
O acordo prevê a concentração de esforços das instituições para identificar, entre a população sob o mandato do ACNUR, os que carecem de assistência judiciária, a fim de que suas diferentes necessidades de proteção sejam atendidas conforme a legislação brasileira. Há, ainda, previsão da participação de Defensores Públicos no Comitê Estadual para refugiados.
Durante a cerimônia, o Defensor Público-Geral afirmou que o acordo significa grande inovação e oportunidade de avanço no trabalho da Defensoria Pública. “Sabemos que o Brasil é pioneiro no recebimento de refugiados. Fomos um dos primeiros signatários da Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados [de 1951] e integramos o Comitê Executivo do ACNUR. Sabemos da sensibilidade desse tema. Há um número grande de refugiados no país, e a Defensoria Pública pode contribuir muito com isso”, afirmou Rafael Vernaschi.
Ele também ressaltou a importância da capacitação técnica e de sensibilização que o ACNUR pode propiciar ao trabalho dos Defensores Públicos no atendimento de demandas nessa área, e mencionou exemplos como casos de violência contra a mulher, pedidos de creche e questões relativas à documentação.
Em palestra, Andrés Ramirez falou sobre o surgimento de conceitos como “refugiados”, “apátridas” e “deslocados internos” e ressaltou o aumento do número de deslocamentos populacionais forçados ao redor do globo decorrentes de conflitos. Ramirez afirmou que o ACNUR foi criado em 1950 visando o reassentamento de cerca de 1,2 milhão de refugiados da 2ª Guerra Mundial.
“Éramos muito otimistas, pois pensávamos que em três anos a coisa seria resolvida. Mas claramente não foi. E desde então a cada cinco anos infelizmente temos muito trabalho – pois o melhor para a humanidade seria que o Acnur deixasse de existir. Mas para que deixasse de existir teria que deixar de existir o problema que está em sua base. Porém, as notícias são muito ruins, porque cada vez mais temos movimentos populacionais em deslocamentos forçados. Cada vez mais uma crise humanitária global”, afirmou Andrés.
Ele disse que o Brasil não pode se isolar dessa situação, dada a globalização e sua presença internacional cada vez maior, e destacou o crescente número de solicitações de refúgio ao país – 560 em 2010 e 8.800 em 2014 até outubro. O palestrante afirmou, ainda, que o Brasil tem uma legislação avançada em relação aos refugiados, mas que as normas quanto às migrações ainda são muito atrasadas.
O evento contou ainda com as participações das professoras Bibiana Graeff, Professora Adjunta da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP e pesquisadora sobre direitos dos refugiados idosos; Elisane Mahlke, Doutoranda Direito Internacional pela USP sobre o novo paradigma jurídico da proteção dos refugiados; e do Defensor Público Rafael Lessa, Coordenador do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos.
A realização do seminário cumpre uma das determinações do acordo que será assinado, que prevê a realização de cursos de capacitação e conhecimento de Defensores Públicos com temas relacionados ao direito internacional de refugiados e apátridas.
“Já temos algumas parcerias, mas esse acordo visa consolidar ainda mais a cooperação entre a Defensoria Estadual e o ACNUR”, ressaltou Andrés Ramirez, para quem o trabalho do ACNUR e dos seus parceiros está relacionado "a uma tragédia humana permanente, que está se agravando".
O acordo entre o ACNUR e a Defensoria Pública de São Paulo foi elogiado pela Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, que atende solicitantes de refúgio e refugiados. "Estamos bastante esperançosos com esse acordo. Temos boas relações com o poder público, mas sabemos que ainda tem muito a ser feito. Os processos costumam demorar e esperamos que o acordo facilite nosso diálogo. As organizações da sociedade civil tem um papel muito importante com relação ao refúgio, mas os refugiados não podem depender só da gente”, disse Maria Cristina Morelli, coordenadora da Cáritas SP para o projeto de atendimento a refugiados.