Ajudando refugiados por meio do respeito à comunidade local em Burkina Faso
Ajudando refugiados por meio do respeito à comunidade local em Burkina Faso
SAG-NIONIOGO, Burkina Faso, 8 de janeiro (ACNUR) – O líder local, Maurice, parou de trabalhar para cuidar do interesse de 10 mil moradores de Sag-Nioniogo. Desde outubro de 2012, ele passou a lidar com centenas de refugiados do vizinho Mali que chegaram inesperadamente à região.
Uma prova de sua liderança e habilidade diplomática é a convivência harmoniosa entre as duas comunidades nesta vila no entorno de Ouagadougou, capital de Burkina Faso. Quando perguntado sobre o quanto a vida em Sag-Nioniogo mudou com a chegada dos refugiados do Mali, Maurice responde: “Uma nação sem estrangeiros, não é uma nação”.
É encorajador ouvir esta opinião de um influente líder comunitário como Maurice, mas ainda há grandes desafios, como lidar com a crescente pressão sobre os recursos na região - atingida pela seca e pela escassez de comida - , além da necessidade de apoiar a comunidade de acolhida.
Fazendeiro, Maurice começa o dia verificando as condições de sua colheita e do gado antes de iniciar suas atividades como liderança local. Nos últimos três meses, ele tem feito visitas diárias ao campo de refugiados instalado pelo ACNUR nas terras que eram cultivadas por seus colegas. Maurice se informa sobre os últimos acontecimentos e problemas que afetam ambas as comunidades, até mesmo sobre áreas de conflito em potencial.
Os recém-chegados estão entre as centenas de milhares de pessoas que deixaram suas casas por causa da violência e das rígidas normas islâmicas que vigoram no norte do Mali desde janeiro de 2012, quando estouraram os conflitos entre as tropas do governo e um grupo rebelde da etnia Tuaregue. Cerca de 38 mil pessoas foram para Burkina Faso, dos quais 2,7 mil estão em Sag-Nioniogo, onde o ACNUR e seus parceiros fornecem abrigo, comida, assim como apoio para a escola local e o centro de saúde.
A chegada dos refugiados surtiu reações diversas em Sag-Nioniogo, onde alguns moradores tiveram de abrir mão de suas terras para que o campo de refugiados fosse estabelecido. A população local também reagiu negativamente quando um grupo de refugiados teve suas tendas montadas em uma área considerada sagrada.
Outros ainda se ressentiram com a atenção dada aos recém-chegados. “Não é fácil ver os veículos da ONU de lá para cá ajudando os refugiados do Mali, enquanto nós também passamos necessidade”, disse um morador de Sag-Nioniogo.
Com o apoio de pessoas como Maurice e líderes entre os refugiados, o ACNUR e seus parceiros enfrentaram esses obstáculos por meio de uma mediação compreensiva e da sensibilização sobre a situação vulnerável das pessoas vindas do Mali.
Além disso, alguns refugiados, como Mustapha, de 30 anos, já estiveram em Burkina Faso em virtude de crises anteriores, fizeram laços e amigos. Hoje, eles ajudam a estabelecer o diálogo entre as duas comunidades.
Mustapha é tuaregue. Há quase um ano, ele deixou a região do Gao, no Mali, e deslocou-se para Burkina Faso com a esposa e dois filhos. Eles viajaram até Sag-Nioniogo em seus dois burros – 18 anos após a primeira vez que o rapaz esteve na região, onde passou quatro anos e aprendeu o Moore, o idioma nativo.
Maurice se lembra bem de Mustapha. “Ele era uma criança da primeira vez que esteve em Burkina Faso”, disse o líder comunitário. E acrescentou “foi ótimo reencontrá-lo”. A facilidade do rapaz com o idioma têm facilitado o entendimento entre as comunidades.
A Agência da ONU para Refugiados e seus parceiros estão tomando medidas adicionais em Burkina Faso para prevenir problemas e garantir o bom relacionamento entre vizinhos. “Planejamos as operações de modo a estimular a convivência pacífica entre refugiados e a comunidade local”, afirmou a representante do ACNUR em Burkina Faso, Ibrahima Coly.
No início, os mais vulneráveis entre a população local também recebiam material de assistência e apoio para ter acesso a serviços básicos, como educação e atendimento médico. Em algumas áreas, o ACNUR ajudou a restaurar escolas que são usadas por todas as crianças, tanto refugiadas quanto locais.
No recém-inaugurado campo de Goudebou, próximo a cidade de Dori, 554 refugiados estão tendo aulas na escola primária juntamente com 22 crianças locais. O ACNUR e seu parceiro Plano Burkina Faso começaram a construção de 24 salas de aula que serão usadas pelos recém-chegados do Mali e pela comunidade local. Estudantes também estão aprendendo a história de Burkina Faso e do Mali, o que vai melhorar sua compreensão mútua.
A população nativa vulnerável também se beneficia da estrutura de saúde montada para atender aos refugiados. Na clínica organizada pelo ACNUR e pelos Médicos do Mundo –França (MDM-F) no campo de Mentao, na província de Soum, mais da metade da população que busca atendimento faz parte da comunidade local.
O oficial de saúde publica associado ao ACNUR, Aboubacar Mahamadou, disse que a clínica tem tratado a população local que apresenta malária, diarreia e problemas respiratórios. O médico disse ainda que o ACNUR e seus parceiros, incluindo Médicos Sem Fronteiras (MSF) e Médicos do Mundo (MDM) da Espanha e da França têm alertado a população de Burkina Faso quanto a necessidade de boas condições de higiene para evitar cólera.
Esses parceiros também apoiaram os primeiros postos de saúde em diversos campos e isso sem dúvida ajudou a população local. Todas essas medidas contribuíram para reduzir a tensão entre refugiados e a comunidade de acolhida.
Por Hugo Reichenberger in Sag-Nioniogo, Burkina Faso