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Alto Comissário pede fim de deslocamento durante visita ao Iraque

Comunicados à imprensa

Alto Comissário pede fim de deslocamento durante visita ao Iraque

Alto Comissário pede fim de deslocamento durante visita ao IraqueGuterres deixou o Iraque na segunda, após propor um plano, comandado pelo governo, para permitir que milhares de iraquianos deslocados retornassem para suas casas.
27 Janeiro 2011

BAGDÁ, Iraque, 26 de janeiro (ACNUR) – O Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados António Guterres deixou o Iraque na segunda, após propor um plano, comandado pelo governo, para permitir que milhares de iraquianos deslocados retornassem para suas casas.

“O plano deve ter objetivos claros para lidar com as questões de segurança, propriedade e reintegração que permitiriam às pessoas retornar com segurança e dignidade,” disse Guterres, referindo-se aos iraquianos deslocados fora e dentro do país.

Entretanto, ele ressaltou que a repatriação deveria ser voluntária. “Forçar pessoas a retornar, contra sua vontade, para lugares onde a insegurança prevalece, é inaceitável,” declarou Guterres, referindo-se às recentes deportações de iraquianos por parte de alguns países europeus.

O Alto Comissário, em sua quarta visita ao Iraque como chefe da agência da ONU para refugiados, também aproveitou a oportunidade para dar boas vindas à formação em dezembro de um novo governo de coalizão, após meses de impasses políticos.

“Este novo governo representa uma ótima oprotunidade para o Iraque, e também para nosso trabalho,” afirmou Guterres. “Eu espero que hoje estejamos marcando o começo do fim do capítulo sobre deslocamento em Iraque,” ele acrescentou.

Durante sua visita de três dias ele encontrou o presidente Jalal Talabani, o primeiro ministro Nouri Al-Maliki e o ministro das relações exteriores Hoshyar Zebari. Ele também conversou com Iyad Allawi, presidente designado do Conselho Nacional para Políticas Estratégicas.

Gueterres propôs um plano de ação durante essas reuniões e foi encorajado pela grave preocupação demonstrada pelos oficiais do governo sobre a perseguição de minorias e grupos religiosos. “É essencial preservar a diversidade no Iraque, onde virtualmente todas as civilizações têm raízes,” ele disse.

Quase 200 mil iraquianos estão registrados como refugiados com o ACNUR, principalmente na Síria, Jordânia e Líbano. Além disso, o ACNUR estima que há em torno de 1,3 milhão de iraquianos deslocados internamente, com 500 mil deles vivem em condições extremamente precárias.

“Estas pessoas estão vivendo em circunstâncias dramáticas. Estão desabrigadas ou vivendo em favelas, e sentem um alto nível de desespero,” disse Guterres. “Precisamos prover ainda mais assistência humanitária aos grupos mais necessitados.”

O Alto Comissário disse que sua proposta de plano de ação, que o ACNUR ajudaria a implementar, deveria também desenvolver uma estratégia para as pessoas deslocadas dentro do país para integrá-las às áreas para as quais fugiram, caso elas prefiram permanecer onde estão.

Guterres visitou o campo de Um Al-Baneen, no centro de Bagdá, onde 112 famílias iraquianas deslocadas internamente moram em prédios militares antigos e dilapidados. Ele felicitou a decisão governamental de suspender o despejo até que uma solução fosse encontrada para realocar estas famílias, muitas das quais não têm documentação e qualquer fonte de renda.

O ACNUR colocou como prioridade os projetos de moradia no Iraque. Até o momento, a agência para refugiados fundou ou reconstruiu 20 mil casas de dois quartos, em áreas afetadas pelo conflito através do país.

Algumas das famílias que Guterres encontrou em Um Al-Baneen fugiram para o campo devido à violência enquanto outras não tinham condições de continuar pagando o aluguel. Muitas das crianças não estavam indo à escola. Uma mãe falou ao Alto Comissário que ela temia enviar o filho para a escola, porque “ele talvez nunca voltasse.”

Guterres notou que embora o número de refugiados iraquianos em países vizinhos tivesse diminuído, a vulnerabilidade deles estava aumentando. A base de dados do ACNUR revelava que 34 por cento dos refugiados iraquianos são considerados vulneráveis, incluindo milhares de pessoas em condições críticas de saúde e um número significativo de lares liderados por mulheres.

A maioria dos refugiados iraquianos na Síria e na Jordânia fugiu há mais de três anos. Muitos têm dificuldade em achar trabalho, tornando-se mendigos ou dependendo do apoio oferecido por organizações itnernacionais e grupos de ajuda locais.

Uma das consequências da pobreza deles é que um número crescente de crianças refugiadas deixou a escola para procurar trabalho e ajudar a alimentar suas famílias. “Quando uma criança iraquiana vai para a escola ao invés de trabalhar, ocorre um investimento no futuro do Iraque,” afirmou Guterres, destacando a importância de apoiar os refugiados.

Enquanto quase 90 mil refugiados iraquianos retornaram a seu país nos últimos três anos, a taxa de retorno tem diminuído recentemente e novos solicitantes de refúgio continuam a se registrar com o ACNUR em países vizinhos. Mais de 465 mil iraquianos deslocados internamente retornaram às suas áreas de origem entre janeiro de 2008 e dezembro de 2010.

Melissa Fleming em Bagdá, Iraque