Alto Comissário pede que países mantenham fronteiras abertas para refugiados sírios
Alto Comissário pede que países mantenham fronteiras abertas para refugiados sírios
GENEBRA, 18 de julho de 2013 (ACNUR) – Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, António Guterres, pediu que os países não restrinjam o acesso de refugiados sírios às fronteiras e, ao mesmo tempo, lembrou que medidas imediatas precisam ser tomadas para evitar que o conflito sírio se alastre para os países vizinhos.
"Reitero o meu apelo a todos os países, na região e mais longe, de manter as fronteiras abertas e receber todos os sírios que buscam proteção", Guterres disse em recente reunião do Conselho de Segurança da ONU, por videoconferência, de Genebra. "Solidariedade internacional maciça com os países vizinhos é fundamental para fazer este apelo ser bem sucedido. Reassentamento e oportunidades de admissão humanitária podem complementar isso como medidas úteis, embora limitadas, de compartilhamento dos encargos humanitários dessa crise", acrescentou.
O Alto Comissário disse que o acesso à segurança na região tem se tornando mais difícil para as pessoas que tentam fugir e que se juntam aos quase 1,8 milhão de refugiados sírios registrados pelo ACNUR no Líbano, Jordânia, Turquia, Iraque e Egito. "Dois terços deles fugiram da Síria desde o início deste ano, uma média de mais de 6 mil pessoas por dia. Não víamos um fluxo de refugiados aumentar a um ritmo tão assustador desde o genocídio de Ruanda, há quase 20 anos", revelou Guterres.
Ele observou que os confrontos sectários se intensificaram no Iraque e o país fechou suas fronteiras, diminuindo chegados a um gotejamento. O Iraque atualmente abriga mais de 160 mil refugiados sírios. No Egito, onde o ACNUR já registrou cerca de 90 mil refugiados sírios, passageiros de aviões vindos da Síria tiveram que retornar como resultado das recentes medidas que exigem vistos e autorização de segurança para os sírios.
"Embora eu entenda perfeitamente os desafios que o Egito enfrenta atualmente, espero que o país continue a alargar a sua tradicional hospitalidade aos refugiados sírios, como tem feito desde o início do conflito", disse Guterres ao Conselho de Segurança.
Ele acrescentou que na Turquia e Jordânia, responsáveis por abrigar quase um milhão de refugiados sírios, as autoridades estão agora fiscalizando cuidadosamente as fronteiras com a Síria, principalmente devido a preocupações de segurança nacional. As fronteiras não estão fechadas e refugiados continuam a atravessá-las, mas muitos só podem fazê-lo de forma gradual.
Guterres exortou os governos a fazer todo o possível para encontrar o equilíbrio certo entre as medidas para evitar infiltrações perigosas e as garantias de que refugiados em busca de segurança - especialmente as famílias, idosos e mulheres com crianças - não fiquem presos em condições precárias ou expostos ao perigo da luta.
Enquanto isso, o conflito está constantemente invadindo o Líbano, o único país cujas fronteiras permanecem completamente abertas e que até agora tem mais de 600 mil refugiados registrados. O número de incidentes de segurança aumentou em Trípoli, no sul do país, e em partes do Vale do Bekaa. "O sistema político do país está paralisado e provavelmente vai continuar assim até que a crise síria acabe", acrescentou Guterres.
O Alto Comissário destacou que a generosidade dos países de acolhimento está chegando a um preço cada vez mais pesado. "Embora a Síria continue a perder seu próprio povo, as perspectivas para uma solução política que leve ao fim dos combates continuam pobres e os sinais de alerta de desestabilização em alguns países vizinhos são preocupantes. O afluxo contínuo poderá criar uma situação desesperadora se a comunidade internacional não atuar mais decididamente para ajudar", frisou.
"As recentes restrições ao acesso disparou um sinal alarmante que não deve ser ignorado", disse Guterres. Ele pediu que a comunidade internacional "reconheça que não podemos continuar a tratar o impacto da crise síria como uma simples emergência humanitária".
Disse que, como o conflito prologou-se, "é necessária uma abordagem de longo prazo, com foco na assistência ao desenvolvimento, especialmente para os países e comunidades que são mais afetados pela crise".
Para finalizar, ele apelou às instituições financeiras internacionais, às organizações das Nações Unidas e às agências de desenvolvimento nacionais e regionais "para cooperarem com os governos interessados em formular e apoiar programas de desenvolvimento comunitário que ajudarão esses países a lidar com o impacto da crise na Síria”.
"Algumas medidas concretas já foram tomadas, pelo Banco Mundial, a União Europeia e vários países doadores. Mas o que é necessário agora é um plano bem coordenado e abrangente de medidas para ajudar a aliviar a pressão sobre os países de acolhimento mais afetados e permitir-lhes continuar abrigando refugiados. O ACNUR, com a sua extensa presença no terreno, está totalmente preparada para suportar esse esforço", disse ele.
"O que eu estou pedindo é essencial para mitigar o risco de uma explosão que poderia envolver todo o Oriente Médio. Mas só uma solução política para a Síria, e um fim à luta, pode parar totalmente este risco", Guterres concluiu.