Após décadas no exílio, refugiados angolanos fazem jornada de volta para casa
Após décadas no exílio, refugiados angolanos fazem jornada de volta para casa
ONGWEDIVA, Namíbia,23 de maio (ACNUR) – Mais de 100 refugiados angolanos, alguns refugiados na Namíbia por mais de 20 anos, retornaram para casa na semana passada com a ajuda da agência da ONU para refugiados.
O grupo de 31 famílias começou sua jornada no início da semana quando deixaram o assentamento para refugiados Osire e viajaram mais de 850 quilômetros para um centro de trânsito próximo a fronteira com a Angola.
Durante o percurso de três dias, os refugiados receberam abrigo e alimentação. Antes de retornar a Angola, as famílias receberam doações em dinheiro do ACNUR e rações alimentares que durarão três meses do Programa Mundial Alimentar. O governo namibiano também doou caminhões para transportar os pertences das famílias para a Angola.
Ao chegarem em Angola, os ex-refugiados receberam documentos de identidade e pacotes de reintegração providos pelo governo angolano.
Mais de três mil refugiados angolanos na Namíbia registraram sua intenção de retornar a Angola até 30 de junho. Anteriormente este ano, o ACNUR recomendou que a cessação fosse invocada para refugiados angolanos em 30 de junho de 2012. Isto colocaria efetivamente um fim a situação dos refugiados desde 1961 durante a guerra da independência angolana.
A cessação está sendo invocada por que a situação na Angola mudou fundamentalmente. A paz e estabilidade foram retomadas e muitos refugiados angolanos já foram para casa. Em 2011, apenas 28 angolanos retornaram da Namíbia.
Castro Mawonso, 48 anos, retornou a sua terra de origem com sua família essa semana em um comboio anterior do ACNUR. Refugiado por mais da metade de sua vida, ele relembrou sua fuga da Angola para a República Democrática do Congo em 1964. A família retornou rapidamente para a Angola.
Anos depois, quando tinha 34 anos e seus próprios filhos, Castro foi novamente forçado a fugir da guerra civil, encontrando refúgio na Namíbia. “A luta era demais”, ele disse.
Castro e sua esposa tiveram mais cinco filhos na Namíbia. Para eles, a Angola é um país desconhecido. Sua maior preocupação agora é a educação dos filhos. “Meus filhos nunca aprenderam nada em português, então acredito que isso será um desafio para eles”, ele afirmou.
"Eu ouvi por muitos anos sobre a repatriação voluntária, mas desta vez, eu decidi ir para casa”, disse Castro. “Eu não estava certo, mas depois mudei de ideia quando ouvi sobre a cessação e que receberíamos auxílio para levar nossos pertences conosco”.
Oficiais do governo da Namíbia e Angola participaram de uma cerimônia na segunda-feira passada no campo Osire para marcar o retorno dos refugiados. Os refugiados agradeceram a Namíbia por recebê-los e os oficiais namibianos fizeram votos de boa viagem a eles. Os oficiais angolanos reiteraram que o país aguarda ansiosamente para receber todos os residentes angolanos que vivem fora do país.
Desde a retomada da repatriação voluntária assistida para a Angola em 2011, mais de 10.500 refugiados retornaram a casa, provenientes da República Democrática do Congo, Zâmbia, Botswana e Namíbia com mais de 6.000 que retornaram em 2012.
O ACNUR registrou aproximadamente 40 mil refugiados angolanos que querem voltar para casa. Ao fim de 2011, havia ainda 130.000 refugiados angolanos em exílio, sobretudo nos países vizinhos.
A República Democrática do Congo abriga o maior número, com 78.144 refugiados angolanos. Outros países com população significativa de refugiados angolanos incluem Zâmbia, Namíbia, África do Sul e República do Congo.
O ACNUR também está trabalhando em conjunto com os governos dos países hospedeiros para examinar as opções de integração locais para os refugiados angolanos que não puderam retornar a casa ou possuem fortes laços com os países de asilo.
Por Tina Ghelli em Ongwediva, Namíbia