Argila e rodas de conversa aproximam academia de pessoas refugiadas e migrantes da Venezuela em Roraima
Argila e rodas de conversa aproximam academia de pessoas refugiadas e migrantes da Venezuela em Roraima
O trabalho foi tão natural, que pareceu quase um passatempo, contou Rita Elena, mulher venezuelana de 37 anos, vivendo há oito meses no Brasil. “A experiência foi muito boa, muito bonita e muito relaxante. As vezes vivemos estressadas no dia a dia do abrigo e isso nos ajuda a desanuviar do estresse”. Ela também acrescentou que “nos abrigos temos muitas pessoas de diferente características, essa atividade também ajuda as pessoas a compartilhar suas ideias e comunicar”.
Carmem Julia, de 35 anos, destacou que a atividade com argila foi proveitosa para relaxar e refletir. “Construímos várias coisas com nossa imaginação e no final recordamos de nosso país. Me pareceu muito bom. Compartilhamos conhecimentos com nossas companheiras e com as professoras, foi excelente. Aprendemos várias coisas e trocamos vários aprendizados”.
O grupo de alunas da universidade finlandesa iniciou as atividades de campo no dia 10 de maio em Boa Vista, realizando workshops e rodas de conversa para troca de experiências. Alunos e professores da Universidade Federal de Roraima (UFRR) também participaram dessa etapa, em mais um passo de aproximação com a comunidade acadêmica. No processo de clay-storming a argila serve como recurso de interação e comunicação, permitindo que as pessoas envolvidas conheçam melhor umas às outras, mas também trabalhem para exprimir suas ideias, tanto individualmente como em grupo.
A metodologia também facilita o trabalho em grupo e elaboração de soluções conjuntas em grupos formados por pessoas com diferentes trajetórias de vida. “Utilizamos uma das várias técnicas de design participativo. É uma maneira de incluir a população na concepção do seu entorno e ter maior consciência do espaço coletivo. Diferentemente de pegar um microfone e pedir para a pessoa falar o que ela pensa, usamos ferramentas diferentes, que permitem uma comunicação não verbal”, ressalta Kristjana.
Para Patrícia Monteiro, oficial assistente de planejamento de abrigos do ACNUR em Boa Vista, que participou da elaboração do projeto, o ponto mais importante na visita da Universidade de Aalto foi trazer uma visão externa à Operação Acolhida para dentro do contexto da ação humanitária. “Trazer uma nova visão é sempre importante para a busca da melhoria continuada. Esse foi um primeiro passo para aprofundar as relações com atores externos. Nosso objetivo é fomentar ações de integração social que envolvam a população refugiada e migrante, a população de acolhida e organizações parceiras”.
Para o grupo de alunos e professores da UFRR, foi uma oportunidade para se aproximar da assistência humanitária e aprender sobre a realidade das pessoas refugiadas e migrantes. “Eu sou moradora de Boa Vista e não sabia da existência do abrigo. Eu não tinha nenhum conhecimento e quando você chega perto, a situação se torna muito mais real. A estrutura, a condição, é muito interessante estar aqui. É importante ter esses espaços de troca que incluam as pessoas na operação”, comentou a estudante Camile Gomes.
Para o professor João Carlos Jarochinski, do curso de Relações Internacionais da UFRR, “foi importante do ponto de vista de conhecer a metodologia, que foi bastante distinta, também para os alunos conhecerem um pouco das ações, do que é feito na Operação Acolhida, terem mais proximidade da ação nos abrigos”.
Ele acrescenta que de certa forma contempla uma iniciativa da universidade nesse ano, de se aproximar mais da assistência humanitária. “Estamos começando agora uma ação de extensão bastante grande, serão distribuídas 20 bolsas de extensão para pensar projetos específicos para os refugiados e migrantes, a questão do abrigamento, incluindo áreas como desenvolvimento sustentável, saúde, acesso à direitos, letramento”.
Parte integrante do programa de mestrado em Tecnologias Sustentáveis Globais da instituição finlandesa, a intervenção ocorrida buscou levantar as percepções da população refugiada e migrante da Venezuela sobre o que seria um espaço coletivo ideal para atender as diferentes demandas e visões de mundo presentes em um contexto tão diversificado como os abrigos da Operação Acolhida. As atividades implementadas incluíram a realização de uma pesquisa qualitativa, workshops com grupos de mulheres, jovens e crianças, além de rodas de conversa.
A elaboração conjunta da proposta de trabalho começou ainda em janeiro de 2022, em um diálogo constante do ACNUR com a universidade finlandesa. A primeira etapa do projeto foi realização da pesquisa qualitativa, com apoio local das organizações parcerias AVISI e Fraternidade Sem Fronteiras, entrevistando 62 pessoas em diferentes abrigos. Foram identificados perfis demográficos e feito um levantamento de como as pessoas se relacionam com as atividades e interações sociais das quais participam no dia a dia.
Esta foi a primeira vez na qual a metodologia de clay-storming e o projeto de mestrado em Tecnologias Sustentáveis Globais da Universidade de Aalto estiveram em uma ação junto à pessoas refugiadas e migrantes. Em anos anteriores foram desenvolvidos projetos de acesso à água no Quênia e em Uganda, cozinhas comunitárias no México e manuseio sustentável de lixo no Butão.