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Atendimento oftalmológico e doação de óculos beneficiam 120 refugiados em um dia

Comunicados à imprensa

Atendimento oftalmológico e doação de óculos beneficiam 120 refugiados em um dia

30 Agosto 2019
Foto: Luciana Queiroz

Olhos que testemunharam tragédias agora poderão ver o mundo melhor. Em ação solidária realizada no dia 21 de agosto, no Rio de Janeiro, cerca de 120 refugiados e solicitantes de refúgio de países como Venezuela, Angola, República Democrática do Congo, Síria, Nigéria, Marrocos e Cuba, entre outros, tiveram a oportunidade de receber atendimento oftalmológico gratuito e, em muitos casos, até mesmo um novo par de óculos para correção de grau.

​A iniciativa foi resultado de uma parceria entre o Programa de Atendimento a Refugiados e Solicitantes de Refúgio (PARES) da Cáritas RJ e o Instituto Ver e Viver (IVV), que, com o apoio da fabricante de lentes Essilor e do Instituto Nissan. levou seu projeto "Como você vê o mundo?" ao encontro das pessoas em situação de refúgio.

"É um grupo que entra no nosso perfil de atendimento pela situação em que se encontra, fora da sua região de origem, e que, por muitas vezes, não consegue ter acesso a condições básicas de saúde", explicou Rafael Botelho, supervisor de Novos Negócios do Instituto Ver e Viver. "A meta era fazer um evento especial para atender um público mais especial ainda."

Especial e com reais necessidades de atendimento oftalmológico, a ponto de as vagas para a ação solidária terem se esgotado rapidamente quando a oportunidade foi divulgada pela Cáritas RJ entre as pessoas atendidas pela instituição. No dia marcado, os atendimentos se estenderam das 8h às 17h e foram divididos em quatro etapas.

Na primeira, a triagem, um grupo de voluntários da Essilor aplicava um teste simples para verificar se o paciente tinha algum problema de visão. Caso alguma dificuldade fosse percebida, o refugiado era então encaminhado para uma segunda checagem, no autorrefrator. Por meio desse equipamento, era possível calcular o erro de refração, ou seja, ter uma média do grau da pessoa atendida.

Em seguida, caso fosse necessário, era possível ser consultado por um dos dois médicos oftalmologistas disponíveis no evento. Com um diagnóstico indicando a necessidade dos óculos, a pessoa seguia para um balcão para a escolha da armação, entre dezenas de opções. Nesse momento, a vaidade e o gosto pessoal entravam em campo. Com um grande espelho à disposição, os refugiados tomavam tempo para verificar qual se adequava melhor esteticamente.

Escolhida a armação, o IVV guardava o pedido para enviar à Essilor, responsável pela fabricação das lentes. Ao final do dia, quase 100 óculos foram encomendados, um resultado bastante alto em relação ao número de pessoas atendidas.

"Admito que não tinha muito conhecimento sobre a questão dos refugiados, mas espero que seja o primeiro de muitos eventos com esse público", disse um dos médicos especialistas, o Dr. Laércio Rocha.

Além da correção da visão, ele destacou a importância do exame para prevenção e para uma avaliação criteriosa, que permite, por exemplo, o diagnóstico de doenças como glaucoma e catarata. Quando isso acontece, o paciente é orientado a buscar uma investigação mais completa e profunda em uma unidade ambulatorial. "O importante é garantir a saúde ocular", alertou.

Óculos para que não pode pagá-los
Quem precisa sabe como é caro comprar um par de óculos. A questão financeira é citada pelos refugiados como o principal empecilho para a solução do problema de vista. De acordo com o Dr. Rocha, uma simples consulta popular oftalmológica na capital fluminense custa cerca de R$ 120, e a fabricação das lentes, mais a armação, não sai por menos de R$ 300.

Não foi diferente no caso da estudante angolana Ana Lubaki, de 19 anos, que sofre de miopia há quatro anos, mas nunca usou óculos de grau. "Para estudar é muito ruim, lacrimeja muito. Tenho que sentar na primeira fila da sala de aula para conseguir enxergar o que o professor escreve. Até já tinha feito exame, mas não tinha condição de comprar os óculos, porque são muito caros", contou.

O mecânico congolês Jean Munanga, de 41 anos, também reclamava da falta de correção na hora de ler. "Fica embaçado, algumas letras não têm nitidez. Os óculos facilitam nesse sentido, já que a vida está na leitura", afirmou. Já a jornalista venezuelana Sumarling García, de 31 anos, sente dores de cabeça ao usar o computador. Ela admitiu que os óculos nunca foram uma prioridade na sua vida – algo comum entre as pessoas em situação de refúgio.

"Acabei deixando a compra dos óculos para depois porque precisava sobreviver. Não é fácil ser refugiado, ter que pagar aluguel e ainda enviar dinheiro para a Venezuela", lamentou García.

A também venezuelana Carmen Urbina, de 34 anos, não conseguia conter a felicidade pela possibilidade de voltar a enxergar nitidamente. Há três meses sem os óculos, na rua, às vezes perdia o ônibus porque precisava esperar a sua aproximação para confirmar o número. E aí já era tarde demais. "Eu precisava muito. Agora, será mais fácil para me locomover, estudar e trabalhar", conclui.

A coordenadora de Integração do PARES Cáritas RJ, Débora Alves, destacou também a relevância dos exames de vista e dos óculos na conquista de um emprego por pessoas que vêm para o Brasil em situação de muita vulnerabilidade. "Quem está em situação de refúgio pode ter dificuldade em acessar o mercado de trabalho por alguma dificuldade visual. Isso atrapalha o processo de integração", explicou.

"Agora essas pessoas terão melhores possibilidades de estudo e trabalho aqui no Rio de Janeiro, que é o lugar que elas escolheram ou que tiveram a possibilidade de estar para tentar recomeçar a vida", conclui a assistente social.

Agora só resta aguardar. A entrega dos óculos aos refugiados e solicitantes de refúgio atendidos na ação solidária será realizada no Dia Mundial da Visão, 10 de outubro, na sede do PARES Cáritas RJ, em evento de celebração que contará com a presença de representantes de todas as organizações envolvidas.