Banda de refugiados afegãos agita Nova Deli
Banda de refugiados afegãos agita Nova Deli
NOVA DELHI, Índia, 21 de outubro, (ACNUR) – Um ex-trabalhador humanitário e jornalista afegão, Khalid, encontrou uma nova vocação e um novo objetivo de vida trabalhando como agente de uma banda na Índia.
“Essa é a minha missão – trabalhar com os garotos, dar-lhes esperança e ajudar as pessoas a achar seu potencial, estejam elas em seu país ou não,” Khalid declarou ao ACNUR enquanto a banda afegã Yuva Beats ensaiava em um porão em Delhi.
Mas apenas alguns meses atrás, depois de fugir de sua cidade natal, Kabul, e buscar abrigo na capital indiana, ele teve dificuldade de aceitar a vida como refugiado e entrou em depressão profunda. “Eu estava completamente desiludido. Achei que minha vida tinha acabado,” o rapaz de 30 anos revelou.
Representar a banda em seu tempo livre o ajudou a recuperar sua confiança e o fez perceber que, mesmo não podendo retornar para casa, ele pode usar suas habilidades para tirar o melhor proveito do exílio. “Eu poderia contribuir. Eu dei minha ideias como diretor e conseguia identificar talentos,” explicou Khalid, que sustenta esposa e duas crianças pequenas gerenciando pousadas para seus donos indianos.
E considerando o interesse crescente pela banda Yuva Beats, podemos afirmar que o grupo, que conta com 7 integrantes, tem talento. Um dos maiores canais de notícias pagos do país, CNN-IBN, já fez um perfil da versátil banda, que toca uma mistura de músicas hindi, farsi, dari e inglesas. Eles também estão começando a compor suas próprias músicas.
Khalid os conheceu num concurso de talentos organizado por um clube de juventude apoiado pelo ACNUR e um parceiro local, Don Bosco Ashayalam. A música continua sendo um passatempo para os membros do grupo, que fazem apresentações gratuitas para jovens refugiados e no dia Mundial do Refugiado, 20 de junho.
Por agora, eles querem apenas um lugar para tocar e proporcionar alguma diversão para outros afegãos e indianos. Mas Khalid espera fazer uma fita demo para uma gravadora e tornar a banda conhecida. “Eu quero que Yuva Beats se torne a batida do coração de cada refugiado no mundo”.
Wais, que canta e toca guitarra, compôs a única música original da banda – canções de amor em Dari. “A música me energiza. Dá fim ao meu cansaço. Eu componho para escapar da solidão,” diz o rapaz de 24 aos, que está em Nova Délhi há três anos e vive com sua mãe e seus irmãos.
Antes de entrar para o Yuva Beats, ele fazia apresentações na porta dos shoppings de Delhi, surpreendendo pessoas por ser um afegão cantando em hindi. “Várias pessoas me falaram para gravar um disco, mas isso é um hobby para mim,” ele disse.
Rahmatullah é o cantor principal do Yuva Beats. Estudou para ser um artista em Kabul, mas sempre teve um profundo interesse por música, banida no Afeganistão pelo Talibã de 1996 a 2001.
Em sua terra natal, Rahmatullah costumava cantar músicas tradicionais afegãs em casamentos em Kabul, assim como o baterista da banda, Haider.
Agora os dois lidam com uma platéia, ao invés de tocar música ambiente. “Não posso explicar a sensação de segurar um microfone em minha mão e ter muitas pessoas aplaudindo. Eu nunca esperei isso. Agora as pessoas me reconhecem como cantor,” disse um sorridente Rahmatullah, que chegou a Nova Delhi com a mãe no ano passado.
Ele procura agora um professor para aprender sobre música clássica indiana e espera um dia fazer parte do Desafio Sa Re Ga Ma, a maior concurso de talentos da Índia.
Fazer música é um hobby para os membros da banda e seu agente, e eles ainda precisam trabalhar para pagar as contas. Rahmatullah, por exemplo, vende seus desenhos nos mercados locais, e Waiss é intérprete.
Mas é a sua música que os faz continuar e, com alguma sorte, um dia eles imitarão o sucesso de outra banda formada no exílio: os Refugee All Stars de serra Leoa.
Nayana Bose em Nova Delhi, India