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Carta de um campo de refugiados: trabalhadora humanitária do ACNUR conta sua experiência na emergência em Bangladesh

Comunicados à imprensa

Carta de um campo de refugiados: trabalhadora humanitária do ACNUR conta sua experiência na emergência em Bangladesh

28 Novembro 2017
COX'S BAZAR, Bangladesh, 27 de novembro de 2017 (ACNUR) - Imagine o horror de tentar sobreviver, tentar alimentar seus filhos e manter algum senso de conforto enquanto você está perdendo seus entes queridos, ou observando sua casa sendo incendiada e reduzida a cinzas. Esta é a realidade de algumas pessoas que conheci aqui em Bangladesh.

Muitas são mulheres, tentando o melhor que podem para seus filhos assustados e angustiados, embora elas próprias estejam lutando para dar algum sentido para tudo que aconteceu nos últimos meses. Ontem uma mãe perdeu sua filha. Ela estava tentando ser forte diante de seus outros filhos, mas todos estavam claramente abalados. Eles já viviam há muito tempo com medo, sem nunca saber quando poderiam ser as próximas vítimas da violência que tirou a vida de tantos dos seus parentes e vizinhos.

Várias mulheres me disseram que testemunharam o sequestro de jovens meninas, e a prisão de pais, filhos e irmãos que nunca mais foram vistos.

Conheci muitas outras no centro de transição do ACNUR, onde os recém-chegados mais vulneráveis podem permanecer por até três dias antes de serem transferidos. Estas são as famílias que necessitam de assistência especial antes de poderem continuar: idosos, pessoas com deficiência, mulheres grávidas, mães om bebês e crianças desnutridas ou doentes. Existem várias famílias que sobreviveram a um horrível acidente de barco. Das 42 pessoas a bordo, quatro foram mortas. Vinte e dois outros ficaram feridos o bastante para precisar de tratamento hospitalar.

Eu também vejo colegas do ACNUR, obstinados e dedicados, que me deixam orgulhosa desta organização na qual continuo acreditando após 20 anos de serviço. As equipes do ACNUR estão na linha de frente, nas fronteiras, nos campos de refugiados e nos centros de transição, desde o início da manhã até tarde da noite.

Conheço colegas que saíram esta manhã às 4:30 para chegar às áreas fronteiriças. Ontem à noite, eu estava no telefone recebendo informações até quase meia-noite.

Estamos fazendo de tudo para alcançar todas as pessoas que precisam de nossa assistência, até mesmo as que estão nos mais distante dos campos e acampamentos onde os veículos não conseguem chegar. Hoje andei por sete quilômetros e subi o equivalente a 16 andares de escadas. Um colega me contou sobre um dia que ele percorreu mais de 18 quilômetros. Ele foi encarregado de identificar famílias vulneráveis e garantir que todos com necessidades específicas acessassem serviços essenciais. Ele entrevistou quase uma centena de famílias naquele dia e voltou com os pés doloridos, mas com um sorriso orgulhoso de seus esforços.

Colegas de vários países e origens – ex-banqueiros, professores, engenheiros de várias religiões e países - estão trabalhando juntos incansavelmente para planejar novos assentamentos para as famílias recém-chegadas. Não importam as condições climáticas, chuva pesada ou sol brutal, eles estão fazendo tudo, desde estradas no centro de trânsito a sessões de terapia para uma dúzia de mulheres Rohingya. Essas mulheres sobreviveram à violência sexual e são fortes o suficiente para compartilhar suas histórias.

Conheci diversas corajosas famílias Rohingya que têm apenas um pouco mais do que as roupas do corpo, o peso de seu trauma, da perda, e as dolorosas lembranças da violência que as forçou a fugir de suas casas.

No entanto, à medida que o sol se põe na recente extensão do campo de Kutupalong, estou cercada pelo som de batidas de martelo, serrotes, conversas e risos animados enquanto as famílias constroem novas casas com bambu, cabos e lonas de plástico que lhes fornecemos.

Eu vejo crianças empinando as pipas que fizeram com sacos de plástico e pedaços de galho, e ficando felizes quando seus brinquedos finalmente se elevavam acima deles. Eu sinto o aroma dos jantares preparados para as famílias compartilharem, usando os kits de cozinha que o ACNUR oferece. Eu sei que pode ser difícil explicar a importância de tais utensílios tão simples em uma zona de emergência, mas sem eles, como as pessoas cozinhariam? Como as pessoas começariam a reconstruir suas vidas?

Quero deixar claro: há ainda muito trabalho a ser feito. As necessidades são enormes. Mas isso simplesmente significa que há muito o que podemos fazer, que há tantas pessoas que podem ser ajudadas.

Os sorrisos que vejo nos rostos das crianças mostram essa simples verdade: todos os esforços e cada doação fazem a diferença. O ACNUR está recebendo doações para ajudar aos refugiados rohingya pelo link: goo.gl/GyvGah.