Celebridades da TV brasileira declaram apoio à causa do refúgio em show de crianças refugiadas
Celebridades da TV brasileira declaram apoio à causa do refúgio em show de crianças refugiadas
Rio de Janeiro, 19 de novembro de 2015 (ACNUR) – No momento em que vários países ameaçam suspender o acolhimento de refugiados ou mesmo erguer barreiras para conter o fluxo de pessoas deslocadas por guerras e conflitos armados, importantes celebridades da televisão brasileira manifestaram ontem seu apoio à proteção dos refugiados e dos solicitantes de refúgio no Brasil e no mundo.
A manifestação dos artistas aconteceu no Rio de Janeiro, durante uma apresentação do coro infantil Coração Jolie, formado por 65 crianças refugiadas que vivem no Brasil. As crianças dividiram o palco com as atrizes Malu Mader, Bruna Marquezine e Lívian Aragão (da Rede Globo), os humoristas Marcos Veras e Luis Lobianco (do programa “Porta dos Fundos”), as apresentadoras Fernanda Rodrigues (do GNT) e Gabriela Freitas (do SBT), e o jornalista Felipe Suhre (da Rede Globo).
Mestre de cerimônias da apresentação, que aconteceu no Theatro Net Rio, a atriz Malu Mader lembrou que o mundo vive uma crise humanitária sem precedentes e que os refugiados, mesmo sofrendo perseguições e graves violações dos direitos humanos, “encontram fronteiras transformadas em barreiras e uma acolhida que revela desconfiança e intolerância”. Para ela, “é possível garantir um futuro de paz e oportunidades para essas pessoas com tolerância, união e diálogo”.
O jornalista Felipe Suhre, que também conduziu a cerimônia, ressaltou a vulnerabilidade das crianças refugiadas e a importância de a sociedade “mobilizar e lutar para que os direitos de todas as crianças sejam defendidos, acima de suas nacionalidades, por qualquer sociedade, onde quer que elas estejam”.
As crianças que integram o coro infantil Coração Jolie são de 07 países diferentes (Angola, Jordânia, Palestina, República Democrática do Congo, Síria, Sudão do Sul e Iêmen), refletindo a diversidade da população refugiada no Brasil – aproximadamente 8.600 pessoas, de cerca de 80 nacionalidades. O coro é uma iniciativa da organização não-governamental IKMR (I Know My Rigths - ou Eu Conheço Meus Direitos), e tem o apoio do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR).
Os humoristas Marcos Veras e Luis Lobianco pediram mais oportunidades para os refugiados, especialmente as crianças. “Com apoio e acesso aos seus direitos, as crianças refugiadas terão a chance de se tornar grandes profissionais que contribuirão para a reconstrução de seus países de origem e para o fortalecimento e prosperidade dos países que as acolhem”, disse Veras. “A acolhida é um ato humanitário de solidariedade, que independe da crença, raça ou gênero. Para haver um mundo de paz, temos que nos despir de nossas diferenças e preconceitos e enxergar a riqueza que a diversidade nos traz”, afirmou Lobianco, sendo aplaudido pela plateia.
O show do coro infantil Coração Jolie celebrou o Dia Universal da Criança, declarado pelas Nações Unidas por ser a data em que foi aprovada a Declaração Universal dos Direitos da Criança em 1959 e a Convenção dos Direitos da Criança em 1989. O coro foi acompanhado pela Orquestra de Cordas da Grota, de Niterói (RJ).
Uma das celebridades mais aplaudidas na noite de ontem, a atriz Bruna Marquezine disse que “nós não podemos dar as costas para o drama dos refugiados como se não tivéssemos nada a ver com isso. Temos que nos unir a essas pessoas e lutar pelo direito à vida”.
Em seguida, subiram ao palco a atriz Livian Abrão e a apresentadora Gabriela Freitas. Ambas ressaltaram as ações tomadas por pessoas comuns a favor dos refugiados, como a criação de sites de hospedagem, o uso de recursos financeiros pessoais e campanhas de mobilização junto à comunidade. “Iniciativas como essas, que se multiplicam cada vez mais, nos mostram que essa causa também é nossa e que não podemos ficar parados”, afirmou Grabriela Freitas. “Queremos um mundo com mais pontes e com corações que se conectam”, disse Livian.
A apresentadora Fernanda Rodrigues encerrou a apresentação pedindo “um compromisso global renovado de tolerância e proteção para as pessoas que fogem de conflitos e perseguições”. Ela lembrou que “numa época de deslocamentos massivos sem precedentes, necessitamos também de uma resposta humanitária sem precedentes”.
O Secretário Nacional de Justiça e presidente do Comitê Nacional para Refugiados (CONARE), Beto Vasconcelos, e o Representante interino do ACNUR no Brasil, Agni Castro-Pita, também participaram da cerimônia. Ao se dirigem à plateia presente ao Theatro Net Rio, eles reforçaram a mensagem de solidariedade dos artistas e expressaram preocupação com discursos e atitudes de intolerância em relação aos refugiados.
“O mundo enfrenta atos violentos, cruéis e tristes que levaram a vida de inocentes na Europa e em tantas outras partes do mundo. É um momento que nos impõe um desafio: não podemos nos paralisar pelo medo nem sermos vencidos pela barbárie”, afirmou Vasconcelos, lembrando que a postura humanitária do governo brasileiro tem permitido a chegada de refugiados no país oriundos de vários conflitos. “Estamos garantindo a essas pessoas uma oportunidade de viver”, ressaltou.
Já o Representante interino do ACNUR lembrou que não se deve misturar refúgio com terrorismo, pois a própria Convenção da ONU para Refugiados e as legislações nacionais impedem que sejam reconhecidos como refugiados pessoas que tenham praticado atos de terrorismo ou crimes contra a humanidade. Ele agradeceu os artistas pelo seu envolvimento com a causa do refúgio e lembrou que, infelizmente, as causas que levam as pessoas ao deslocamento forçado tendem a crescer.
Castro-Pita lembrou as palavras do Alto Comissário da ONU para Refugiados, António Guterres, para quem é “completamente absurdo” tentar culpar os refugiados pelos ataques terroristas ocorridos recentemente, uma vez que eles "são as primeiras vítimas e não poderiam ser responsabilizados pelo que aconteceu em Paris, Beirute e em outros lugares”.
Por fim, a diretora da organização não-governamental IKMR, Vivianne Reis, afirmou que as crianças refugiadas “são as mais vulneráveis, e que estão aqui no Brasil pedindo uma chance para continuar vivas”. Para Vivianne, estas crianças “têm muito a contribuir com a sociedade brasileira”.
Por Luiz Fernando Godinho e Diogo Félix, do Rio de Janeiro