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Chefe do ACNUR entrega Prêmio Nansen de Refugiados para freira congolesa

Comunicados à imprensa

Chefe do ACNUR entrega Prêmio Nansen de Refugiados para freira congolesa

Chefe do ACNUR entrega Prêmio Nansen de Refugiados para freira congolesaO Prêmio Nansen para Refugiados homenagea o trabalho de pessoas e intituições em favor das populações forçadas a se deslocar por conflitos e violações de direitos humanos.
30 Setembro 2013

GENEBRA, 1º de outubro de 2013 (ACNUR) – O Alto Comissário da ONU para Refugiados, António Guterres, entregou na noite de ontem o Prêmio Nansen de Refugiados do ACNUR para uma arrebatadora feira congolesa em reconhecimento ao seu trabalho em prol da reconstrução da vida de milhares de mulheres deslocadas e abusadas no Congo.

“Este prêmio e esta medalha não são apenas para mim, são também para as mulheres e meninas que têm sido abduzidas pelo Exército de Resistência do Senhor (LRA, da siga em inglês)”, disse a Irmã Angélique Namaika após receber a Medalha Nansen, se referindo a um grupo rebeldo originário de Uganda que atua no conflito interno do Congo.

“Nunca desisiterei do meu trabalho, porque uma única pessoa ajudada já é um sucesso”, acrescentou a a freira católica de 46 anos, que atua na Província Orientale da República Democrática do Congo (DRC). A cerimônia de premiação aconteceu em Genebra, e contou com a participação de centenas de pessoas, incluindo muitos dos delegados presentes à reuniao anual do Comitê Executivo do ACNUR.

António Guterres disse que tem viso e ouvido muitas coisas ruins durante suas visitas a refugiados e deslocados internos na África. “Quando vemos a Irmã Angélique, nossas perspectivas mudam rapidamente”, afirmou o Alto Comissário. “E se você acredita que Deus tem uma mão, ela é a mão de Deus”, acrescentou Guterres.

Criado em homenagem ao explorador polar, diplomata, cientista e trabalhador humanitário norueguês, Fridtjof Nansen, o Prêmio Nansen para Refugiados foi estabelecido em 1954 para homenagear o trabalho extraordinário de pessoas e intituições em favor das populações forçadas a se deslocar por conflitos e violações de direitos humanos.

A Irmã Angélique foi homenageada em reconhecimento ao seu trabalho com mais de duas mil mulheres e meninas que forçadas a se deslocar e, em muitos casos, sequestradas pelo LRA e outros grupos armados que atuam na região de Dungo, no leste do Congo.

Muitas das mulheres que ela ajuda por meio do seu Centro para Reintegração e Desenvolvimento foram sequestradas e submetidas a trabalhos forçados, espancamentos, estupros e outros abusos. Sua abordagem individual ajuda essas mulheres a se recuperarem dos traumas – pois além de terem sofridos vários abusos, essas mulheres acabam estigmatizadas por suas próprias famílias e comunidades devido ao estigma relacionado à violência sexual.

O trabalho da Irmã Angélique ajuda essas vítimas a retomarem a confiança e a se tornarem auto-suficientes, pois aprendem uma profissão e técnicas sobre como abrir seu próprio negócio. Elas também são encorajadas a retomar seus estudos. Depoimentos dessas mulheres mostram que elas mudaram suas vidas, e muitas se afeiçoam à Irmã Angélique ao ponto de chamarem-na de “mãe”. A própria Irmã foi deslocada pela violência do LRA em 2009, o que deu a ela a noção exata da dor causada pelo deslocamento forçado.

Desde que foi nomeada vencedora do Prêmio Nansen de Refugiados 2013, Irmã Angélique tem recebido congratulações de pessoas de todo o mundo. Ontem pela manhã, a Enviada Especial do ACNUR, Angelia Jolie, enviou uma calorosa mensagem a ela dizendo que seu trabalho “ajuda a chamar a atenção para os efeitos devastadores do estupro e da violência sexual, como também da necessidade de justiça e apoio aos sobreviventes destes abusos”.

O famoso escritor brasileiro Paulo Coelho, que discursou no evento de ontem, em Genebra, descreveu o trabalho da Irmã Angélique como “uma aula de compaixão”. A cerimônia de premiação contou ainda com shows do britânico Dido, da malasiana Yuna e dos músicos malinenses Amadou e Marian, indicados para o Grammy. “Encontrar a Irmã Angélique foi inspirador”, disse Dido após sua performance.

Após a cerimônia, Irmã Angélique seguirá para Roma, onde será recebida no Vaticano pelo Papa Francisco em 2 de outubro, antes de seguir para Paris, Bruxelas e Oslo para outros compromissos. O prêmio consiste em uma medalha comemorativa e mais US$ 100 mil doados pelos governos da Noruega e da Suíça para apoiar projetos escolhidos pela homenageada.

A apresentação do Prêmio Nansen 2013 aconteceu após a divulgação, de um relatório, no início deste mês, sobre a vida das pessoas deslocadas pela violência do LRA. Desde 2008, centenas de milhares de pessoas foram obrigadas a deixar suas casas na Província Orientale (na região nordeste do Congo) – e em alguns casos, repetidas vezes.

Estima-se que hoje existam mais de 320 mil pessoas ainda vivendo deslocadas. Produzido pelo ACNUR e pelo o IDMC (Centro de Monitoramento do Deslocamento Interno), o relatório mostra como a violência do LRA criou um trauma severo e duradouro tanto para as pessoas que foram sequestrados como para as centenas de milhares que ainda temem voltar para casa.