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Colombia: Informação ganha batalhas contra a descriminação por HIV

Comunicados à imprensa

Colombia: Informação ganha batalhas contra a descriminação por HIV

Colombia: Informação ganha batalhas contra a descriminação por HIVOs deslocados internos e refugiados são particularmente vulneráveis frente aos efeitos do HIV/SIDA. O ACNUR trabalha para que eles possam ter uma vida normal.
19 Outubro 2010

CÚCUTA, Colômbia, 19 de Outubro (ACNUR) - “Agora minha família é composta pela minha mãe, meus filhos e eu. Os demais foram se afastando quando souberam que eu tinha HIV”. O testemunho, lamentavelmente freqüente, sai dos lábios de Diana*, uma jovem deslocada de apenas 20 anos que soube que possuía o vírus da imunodeficiência adquirida (HIV) quando tinha 17 anos e já havia se tornado mãe pela primeira vez.

O Norte de Santander é uma das regiões da Colômbia mais afetadas pela situação do deslocamento forçado - mais de 111 mil pessoas estão registradas pelo governo como deslocadas - e, além disso, faz fronteira com a Venezuela, onde um grande número de colombianos tem buscado proteção internacional na ultima década.

Os deslocados e refugiados são os mais vulneráveis frente aos efeitos do HIV, por causa da perda de suas redes sociais, a dificuldade para se relacionar com as instituições e a forma com que perdem suas fontes de renda. O ACNUR e um grupo de organizações parceiras estão trabalhando para prevenir e responder melhor frente ao HIV no caso dessa população, e seu primeiro desafio é reduzir a estigmatização de quem vive com o HIV.

Um dos parceiros é Ricardo Villamizar, diretor da Fundação Hoasis. “Há muitas coisas sobre as quais pouco se reflete”, disse Villamizar, cuja fundação trabalha com os portadores de HIV. “Poucos querem empregar portadores do HIV após receberem a notícia. Outra coisa que ocorre é que os portadores da doença, diante de tantas necessidades, acabam optando por vender seus medicamentos para alimentarem as suas famílias. Por isso há tantos órfãos entre os filhos de pais deslocados com o HIV”.

Villamizar, como muito outros que trabalham com esse tema, crê que o HIV não deve ser visto apenas como um problema de saúde, e sim como um problema social que demanda respostas vindas de vários setores. Até os costumes influem nisso, como nos mostra o caso de Diana, que vive em Hoasis. “Nós que viemos do campo não estamos acostumados a nos prevenir contra o HIV. As mulheres são protegidas para não terem gravidezes indesejadas, mas não estamos acostumadas a nos proteger contra o HIV, por isso passei pelo o que passei”. Em todo caso, as estatísticas mostram que o uso de preservativos também é relativamente baixo nas áreas urbanas.

Villamizar participou no fórum binacional sobre a prevenção e a atenção integral ao HIV/SIDA, montado há poucas semanas pelos escritórios do ANCUR em Cúcuta e no Estado de Táchira (Venezuela) no quadro da estratégia da agência de “fronteiras solidárias”, que contou com a presença da Coordenação Regional do ACNUR em HIV/SIDA e saúde sexual e reprodutiva. Lá, além dos representantes da sociedade civil, estiveram redes sociais, pessoas que vivem com HIV, organismos internacionais, meios de comunicação e instituições estatais.

O fórum foi parte da estratégia do ACNUR que busca envolver a comunidade (deslocada e vulnerável),  as instituições (incluindo a academia, entidades de saúde, etc.), a sociedade civil, o Ministério Público e as redes sociais, todos em um trabalho articulado que ocorre em diferentes partes do país. “Trabalhamos em dois eixos fundamentais” disse Diana Peñarete, consultora do ACNUR neste tema. “Fortalecemos as instituições para que as equipes de saúde realizem o exame de HIV proporcionando orientação e respeitando direitos fundamentais como a intimidade do paciente e o consentimento informado. Além disso, promovemos serviços que atendam às necessidades dos jovens em saúde sexual e reprodutiva e fortalecemos as comunidades capacitando os seus líderes, que multiplicaram a nossa mensagem a mais de 6 mil pessoas. As redes de pessoas que vivem com HIV e as redes de mulheres que previnem a violência sexual são aliados chave neste trabalho”.

Um dos esforços principais dessa estratégia foi o apoio a Hoasis e a seu lar para pessoas com HIV, desde 2008. “O impacto desse projetos é muito importante”, conta Ricardo Villamizar. “A ludoteca serviu para trazer alegria às crianças portadoras do HIV, muitas das quais viviam na rua e eram obrigadas a trabalhar sem sequer saber o que era brincar. Além disso, também serviu para nos integrar com a comunidade, porque as crianças cujos pais não as deixavam aproximar-se das nossas crianças portadoras, por medo, agora vivem e brincam aqui também. As redes que criamos com o apoio do ACNUR, primeiro com os adultos e depois com as crianças que vivem ou convivem com o HIV - tais como os irmãos dos portadores e os próprios portadores - nos permitiram chegar a pessoas que não imaginávamos conseguir chegar e a começar a trocar experiências entre espaços nacionais”.

O ACNUR também se aliou com a Associação CRESCER e com a Rede de Promotoras de Prevenção a Violência Sexual Baseada no Gênero, além do Coletivo de  Masculinidades, para adiantar ações de prevenção e orientação sobre o HIV.  Contudo, apesar dos muitos avanços, há diversos desafios pela frente. “Há sérios problemas de acesso, pois muitas pessoas com HIV não recebem seus tratamentos. Há problemas de oportunidade, com diversas pessoas que passam meses sem receber seus medicamente e há problemas de qualidade, pois, em muitos casos, o tratamento que é recebido não é integral”, disse Nicolás Salazar, da ONG Provida.

Dentre todos os desafios, o primeiro a se vencer é o da discriminação, pois enquanto as pessoas com HIV continuarem sendo vistas como um perigo pelos demais, os esforços para ajudá-las correm risco.

Como conta o diretor de Hoasis: “ Há pouco mais de um ano, nossos vizinhos do bairro recolheram mais de 200 assinaturas para nos tirar daqui. Repudiavam as pessoas com HIV e pensavam que, se um mosquito picasse a alguns dos nossos pacientes e depois a um de seus filhos, lhes transmitiria o vírus. Se conseguimos mudar essa opinião foi porque os mesmos jovens que havíamos capacitado em processos de sensibilização apoiados pelo ACNUR foram de casa em casa compartilhando com o povo informações sobre como se transmite de verdade o HIV. Hoje, vários dos vizinhos nos ajudam no o lar de vez em quando”.

*Nome mudado por motivos de proteção.

Tiana Anaya em Cúcuta e Renée Cuijpers em Bogotá, Colômbia