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Conflito armado ameaça escolas na região do Sahel

Comunicados à imprensa

Conflito armado ameaça escolas na região do Sahel

8 Setembro 2020
Um estudante refugiado do Mali desempenha o papel de professor em uma escola no campo de Goudoubo. Por causa da crescente falta de segurança, os professores não aparecem mais e os alunos agora costumam ensinar uns aos outros © ACNUR/Sylvain Cherkaoui

No final do ano letivo de 2019, no momento em que se preparava para fazer os exames finais de uma escola primária no norte de Burkina Faso, um jovem refugiado do Mali chamado Oumar Ag Ousmane viu suas esperanças começarem a desaparecer.


Com a violência que assolou partes da região do Sahel por anos começando a se intensificar em Burkina Faso, os professores da escola de Oumar simplesmente pararam de ir trabalhar. Em seguida, eles deixaram a região completamente.

“Fiquei muito triste por ter que ficar em casa o dia todo”

Isso interrompeu a educação de Oumar e a educação de milhares de outras crianças refugiadas do Mali que, na época, viviam no campo de refugiados de Mentao.

“Fiquei muito triste por ter que ficar em casa o dia todo e não poder continuar as aulas”, diz Oumar, um adolescente reservado, mas determinado. Hoje, ele tem 17 anos.

Foi um golpe amargo. Enquanto crescia, Oumar não tinha uma escola para ir em Mopti, sua cidade natal. Depois que ele e sua família fugiram do Mali em 2012, quando a violência estava piorando, foi no campo de Mentao que ele teve sua primeira experiência com educação.

Para que Oumar pudesse continuar os estudos, seu pai decidiu levar seus irmãos e ele para o campo de refugiados de Goudoubore, mais ao leste. Lá, ele foi matriculado em uma escola em Dori, cidade vizinha, na esperança de que isso lhe permitisse fazer os exames cruciais para que progredisse para o ensino médio.

Porém mais interrupções o esperavam. “No ano letivo seguinte, assim que as aulas começaram, os mesmos problemas de segurança continuaram em Goudoubo”, diz. “Fiquei muito desapontado porque mais uma vez a minha escola fechou e não pude terminar o novo ano escolar.” Oumar ultrapassou a idade comum para iniciar o ensino médio, algo comum para crianças refugiadas, especialmente onde os estudos são interrompidos e não há programas de educação acelerada disponíveis.

Somente em Burkina Faso, nos últimos 12 meses, o número de pessoas deslocadas internamente aumentou cinco vezes, chegando a 921.000 no final de junho de 2020. O país também recebeu cerca de 20.000 refugiados, muitos dos quais recentemente deixaram os campos - procurando segurança em outras partes do país ou mesmo retornando à sua pátria natal.

Em todo o Sahel, milhões de pessoas fugiram de ataques indiscriminados de grupos armados contra civis e instituições estatais - incluindo escolas. De acordo com o UNICEF, entre abril de 2017 e dezembro de 2019, o número de escolas fechadas devido à violência em Burkina Faso, Mali e Níger aumentou seis vezes. No final do ano passado, mais de 3.300 escolas foram fechadas, afetando quase 650.000 crianças e mais de 16.000 professores.

Somente em Burkina Faso, 2.500 escolas foram fechadas por causa da violência, privando 350.000 crianças de acesso à educação - e isso foi antes que o coronavírus fechasse o resto.

 

Crianças refugiadas do Mali estudam em uma escola primária apoiada pelo ACNUR em um dos campos de refugiados em Burkina Faso © ACNUR/Paul Absalon

No dia 9 de setembro, a ONU marcará o primeiro Dia Internacional para Proteger a Educação de Ataques, com a Assembleia Geral condenando os ataques à educação e o uso militar de escolas em violação do direito internacional.

Em um relatório publicado no dia 3 de setembro, o ACNUR fez um alerta às duas ameaças que podem destruir ganhos duramente conquistados na educação de refugiados e destruir os sonhos de milhões de jovens: COVID-19 e os ataques a escolas, que visam professores e alunos.

Este ano, Oumar achou que dessa vez teria sorte. Sua família mudou-se para Dori, a alguns quilômetros do campo de Goudoubo, e ele pôde começar o primeiro ano do ensino médio, apesar de ser mais velho do que a maioria dos outros alunos. “Tudo estava indo bem”, conta. “Mas as aulas tiveram que parar novamente - desta vez por causa do surto de COVID-19.”

Desde 1º de junho, as três séries que deveriam ser submetidas a exames neste ano foram reabertas e o ACNUR está fazendo o que pode para encontrar vagas para crianças refugiadas.

Para os outros, o ACNUR, com o apoio do fundo global “Education Cannot Wait”, começou a comprar rádios para estudantes refugiados do ensino fundamental e médio, a fim de garantir que eles tivessem o mesmo acesso que seus colegas burquinenses às aulas transmitidas pelo rádio. O ACNUR também está trabalhando com governos para permitir educação de emergência para crianças e jovens deslocados por meio do acesso a alternativas seguras de ensino à distância.

Enquanto espera, Oumar se recusa a ficar desanimado. “Ainda tenho esperança de que a situação melhore para que eu possa voltar e terminar meus estudos”, conclui.


A educação tem o poder de abrir portas e revelar sonhos. A educação é um direito humano. Mesmo assim, 48% das crianças refugiadas estão fora da escola.

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