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Conheça venezuelanos que estudam português para construir seu futuro no Brasil

Comunicados à imprensa

Conheça venezuelanos que estudam português para construir seu futuro no Brasil

13 Agosto 2020
A líder comunitária venezuelana, Yalethe Toledo, carrega seu neto, Daniel, nascido em Boa Vista ©ACNUR/Lucas Novaes
Boa Vista, 13 de agosto de 2020 – Na última semana, foram retomados os cursos de português para refugiados e migrantes venezuelanos que estão em abrigos e ocupações espontâneas em Roraima. Os cursos são realizados com recursos tecnológicos e com o apoio de instrutores e facilitadores de forma virtual e presencial.

As turmas são compostas por venezuelanos de diversas idades, em grupos reduzidos e com constante cuidados de higiene e uso de máscaras, seguindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde para prevenir e enfrentar a pandemia da COVID-19.

O projeto educativo conta com o apoio de professores do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) e é implementado pela Associação Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI), Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH) e pela Visão Mundial, por meio do financiamento do Departamento de População, Refugiados e Migração (PRM) dos Estados Unidos.

Os abrigos envolvidos são mantidos pela Operação Acolhida – resposta governamental ao fluxo de refugiados e migrantes venezuelanos para o Brasil – e gerenciados pelo ACNUR (Agência da ONU para Refugiados) e organizações parceiras.

“A educação é um direito humano básico, que protege as crianças e jovens, fortalece a resiliência da comunidade e empodera todas as pessoas refugiadas ao dar-lhes conhecimentos e habilidades para uma vida produtiva e independente”, afirma o representante do ACNUR no Brasil, Jose Egas.

Conheça algumas histórias dos participantes dos cursos em Boa Vista, Roraima:

Yalethe Toledo, 49 anos – de Zaraza, Venezuela

A venezuelana líder comunitária e aluna de português, Yalethe, carrega seu neto Daniel, nascido no Brasil ©ACNUR/Lucas Novaes

“Sinto que cada palavra que falo em português é um passo que avanço em minha vida”, afirma Yalethe, que está no Brasil com sua família há pouco mais de um ano.

“Nós sofremos muito na Venezuela, não podíamos ficar para trás. Nós somos muito guerreiros, viemos lutar para construir um novo futuro. Estar aqui é uma vitória, e espero aprender o português para entender melhor os brasileiros e me integrar bem no país.”

Yalethe é pastora e líder comunitária na ocupação espontânea Aprisco, em Boa Vista. Além de reforçar a importância do curso de português para sua comunidade, Yalethe é uma das alunas do curso.

“As palavras que falo saem de meu coração. ‘Deus abençoe’ é uma frase que significa muito para mim nesta nova vida no Brasil. Estamos muito gratos por todo o apoio e por estar juntos aqui.”

Lenismar Gil, 22 anos – de Ciudad Bolívar, Venezuela

Lenismar e seus dois filhos no abrigo Rondon 3, em Boa Vista ©ACNUR/Lucas Novaes

“Uma palavra que gosto muito em português é ‘saudade’, que me faz lembrar dos entes queridos da Venezuela”, lembra Lenismar. Ela e seus dois filhos vivem há 1 ano em Boa Vista.

“Eu tentava aprender português nas ruas. Mas ninguém me explicava as coisas, não sabia o que significava palavras, eu aprendia pouco, pois faltava didática. Agora com os cursos, estou entendendo e avançando melhor.”

Lenismar está estudando português no abrigo temporário Rondon 3. “Para mim o idioma é uma ferramenta para superar obstáculos, sonho em estudar e exercer a carreira de enfermeira. A vontade é de trabalhar em outros estados mais ao sul do Brasil.”

Mary José Lopez, 35 anos, e Erismar Velázques, 20 anos – de Ciudad Bolívar, Venezuela

As amigas Mary José e Erismar compartilham suas experiências como alunas de português no abrigo temporário Rondon 3 ©ACNUR/Lucas Novaes

As amigas Mary José e Erismar chegaram em Pacaraima, fronteira do Brasil e Venezuela, em fevereiro de 2020. Desde março de 2020, elas vivem juntas em uma das unidades habitacionais do abrigo Rondon 3.

Mary José ressalta a dificuldade de aprender o português no dia a dia, sem um auxílio profissional. “Não conseguimos aprender antes de vir para cá, não tive oportunidade de estudar. Por isso, estamos aproveitando ao máximo desse curso.”

“Além de aprender mais sobre a cultura por meio do português, isso me ajudará a conseguir trabalho. Agradeço os professores e o apoio. O curso está espetacular, e estou gostando muito das aulas. Estava com saudades de estudar algo novo."

Erismar, que é mais tímida, diz que os brasileiros falam muito rápido. “Quero conseguir um bom trabalho, mas preciso entender melhor os brasileiros. Quando saio na rua tenho dificuldade de entender as pessoas. A pronúncia é algo que precisamos praticar mais.”

Quando perguntado sobre uma palavra em português que a encanta, Mary José logo menciona “brasileiro”. Já sua amiga Erismar diz que gosta muito da palavra “beleza”.

Jhon Jesus Gonzalez Pérez, 21 anos – indígena Warao de Tucupita, Venezuela

O indígena Warao, Jhon, no abrigo Pintolândia em Boa Vista ©ACNUR/Lucas Novaes

Desde agosto de 2019, Jhon vive com seus pais, esposa e dois filhos no abrigo Pintolândia. Para seu futuro no Brasil, ele pensa em se formar e trabalhar para sustentar a família. De acordo com seus professores de português, Jhon é muito aplicado e curioso com o idioma.

“Se eu aprender mais, terei mais chances de construir um futuro pra minha família aqui. Preciso perder o medo de falar, assim também poderei buscar um trabalho melhor”, comenta.

“Uma de minhas filhas nasceu aqui no Brasil. Então ela irá falar três idiomas: o espanhol, a língua de nosso povo Warao e o português. Eu, como pai, devo ajudá-la a ter esses idiomas, são um importante conhecimento.”

“A pronúncia do ‘t’ no Brasil muda muito comparada à Venezuela. Por isso gosto muito da palavra ‘gente’ em português, principalmente pela forma que os brasileiros a pronunciam.”

José Gregorio Cabrera, 43 anos, e Gricel Garcia, 33 anos – de Barcelona, Venezuela

O casal de professores José e Gricel contam sobre as aulas de português no abrigo Rondon 2 ©ACNUR/Lucas Novaes

O casal José e Gricel são professores venezuelanos portadores de deficiência visual. “Sair da Venezuela com nossa condição foi um desafio de sobrevivência”, comenta José. Na Venezuela, trabalhavam fortalecendo competências de uso de tecnologia e aprendizado de braile para outros deficientes visuais. Hoje, o casal vive no abrigo Rondon 2 junto com a mãe de Gricel, que os acompanhou na vinda para o Brasil em novembro de 2019.

O casal frequenta o curso de português e pratica a pronúncia no dia a dia no abrigo. Gricel comenta sobre a dificuldade de encontrar materiais em braile para apoiar seu aprendizado de português. “Apesar de não haver muitos livros em braile para aprender português, usamos muitos aplicativos pelo celular para traduzir falas, textos e inclusive acompanhar tutoriais de ensino no Youtube.”

José ressalta que, para o casal, as tecnologias são importantes aliadas no aprendizado. “Graças às tecnologias, podemos ser independentes. Além disso, também podemos apoiar outras pessoas.”

“O propósito de aprender português é de tornarmos parte da sociedade brasileira” comenta José. “O idioma é uma ferramenta crucial para nos estabelecer aqui. Agora precisamos nos adaptar para que possamos construir um futuro junto aos brasileiros. Temos formação e queremos contribuir para que outras pessoas com condições como a nossa possam ser independentes e encontrar bons trabalhos.”

O casal de alunos inspira com sua força e resiliência. A determinação e propósito dos educadores José e Gricel são evidentes com sua perseverança e busca por aprendizado. As palavras em português escolhidas pelo casal foram para agradecer o povo brasileiro. Gricel diz, “muita benção”, enquanto José conclui sua fala dizendo “muito obrigado, gente do Brasil”.