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Cooperativas solares fornecem energia e renda a refugiados e comunidade local na Etiópia

Comunicados à imprensa

Cooperativas solares fornecem energia e renda a refugiados e comunidade local na Etiópia

9 Julho 2021
Ali Mohamed Hussein (à direita), um refugiado, e Ahmed Hussein, um membro da comunidade local, gerenciam em conjunto a minirrede solar no Campo de Refugiados de Buramino © ACNUR/Giulia Naboni

Na árida e remota região da Somália, no sudeste da Etiópia, a energia não é um bem sem valor para os mais de 168.000 refugiados somalis hospedados em cinco campos nas áreas de Dollo Ado e Bokolmayo, ou pelas comunidades que os cercam.


As áreas não são servidas pela rede elétrica nacional, a lenha é escassa e muitas famílias não podem pagar os pequenos carregadores de telefone solares e baterias vendidas nos mercados locais. Até recentemente, a única opção para moradores e refugiados que administravam pequenos negócios e lojas eram os geradores a diesel.

“Sem eletricidade e iluminação, os refugiados lutam para refrigerar sua comida, recarregar seus telefones, estudar ou trabalhar após o pôr do sol”, disse Muhammad Harfoush, oficial de proteção do ACNUR, Agência da ONU para Refugiados, em Melkadida, onde fica um dos campos. “Mulheres e meninas também estão mais expostas à violência de gênero”.

Mais de 90% dos refugiados vivem em áreas rurais como Dollo Ado, que têm acesso muito limitado a fontes de energia limpas e confiáveis.

Em 2017, o ACNUR e a Fundação IKEA forneceram equipamentos para redes movidas à energia solar para serem instaladas em todos os acampamentos de Dollo Ado. Em uma região cada vez mais afetada pela mudança climática, a energia solar atendeu à necessidade de que a energia dos acampamentos fosse limpa e sustentável, enquanto o estabelecimento de cooperativas para administrá-la está gerando uma renda muito necessária.

Desde 2018, as redes solares são administradas por cinco cooperativas, uma delas baseada em cada um dos campos, formada por refugiados e membros da comunidade anfitriã. Eles são apoiados pela Agência para Refugiados e Repatriados do governo da Etiópia (ARRA), ACNUR e a Fundação IKEA, que juntos apoiam meios de subsistência, autossuficiência e estratégia energética na área.

Depois de passar pelo treinamento em uma faculdade local, as cooperativas mantêm as redes e administram o fornecimento de eletricidade verde e acessível para as famílias dentro e fora dos campos. Elas se tornaram as principais fornecedoras locais de energia, transformando a vida diária de centenas de famílias que agora podem acessar energia para cozinhar, iluminar e administrar negócios.

Ao mesmo tempo, os 62 membros das cooperativas tornaram-se menos dependentes de ajuda e construíram fortes relações de trabalho entre si.

“Restaurou minha dignidade e auto-estima”

O etíope Ahmed Hussein e Ali Mohamed Hussein, refugiado somali, co-administram a cooperativa de energia no Campo de Refugiados de Buramino como presidente e vice-presidente.

“Decidi entrar na cooperativa para poder sustentar minha família”, diz Ahmed. “Agora, é minha responsabilidade orientar e motivar a cooperativa a focar na geração de renda e no investimento dos ganhos”.

Ali descreve a adesão à cooperativa como “a melhor decisão que já tomei. Restaurou minha dignidade, autoestima e melhorou o bem-estar de minha família”, acrescenta. “Foi realmente uma grande revelação e me fez perceber que posso ser mais autossuficiente”.

Enquanto as cooperativas estão gerando renda para seus membros com a venda de eletricidade, elas também fornecem energia gratuita para famílias em situação de vulnerabilidade ​​que, de outra forma, não poderiam pagá-la. O número dessas famílias só aumentou desde o início da pandemia de COVID-19. Em troca, o ACNUR ajuda as cooperativas a adquirir peças de reposição para as redes que são difíceis de encontrar nos mercados locais.

Entre os beneficiários da eletricidade gratuita está a refugiada somali Fatuma Farah, de 38 anos, que vive no campo de Buramino com seus 10 filhos desde 2014.

“Essa eletricidade realmente melhorou a vida. Agora temos luz à noite, o que ajuda meus filhos a estudar e fazer a lição de casa, e podemos usar para carregar nossos celulares e ventiladores”, diz. “Também pude ajudar meus vizinhos quando eles precisavam de eletricidade”.

Desde a pandemia do ano passado, as cooperativas de energia têm ajudado a abastecer os centros de saúde nos campos, permitindo-lhes responder melhor à emergência. E também fornecem energia para os recém-construídos centros de quarentena, para o centro de distribuição de alimentos do ACNUR e para o centro de recepção para refugiados recém-chegados em Dollo Ado.

“A pandemia de COVID-19 causou muitos danos ao mundo todo, mas temos tentado dar continuidade aos negócios e servir à comunidade tomando medidas preventivas, aumentando a conscientização e fornecendo a energia necessária”, disse Ahmed.

O projeto incorpora os objetivos do Clean Energy Challenge, um esforço de empresas, governos e organizações, dirigido pelo ACNUR e pelo Instituto das Nações Unidas para Treinamento e Pesquisa (UNITAR), para levar energia acessível, confiável e sustentável para todos os assentamentos de pessoas deslocadas à força e comunidades anfitriãs próximas até 2030. Aumentar o acesso à energia sustentável e oportunidades de trabalho para refugiados e comunidades anfitriãs também estiveram entre as promessas feitas pelo governo etíope durante o Fórum Global sobre Refugiados em dezembro de 2019.

Veja também: Como refugiados estão colocando em prática os objetivos de desenvolvimento sustentável

Com um número crescente de clientes e demanda por energia elétrica, a receita das cooperativas aumentou significativamente no último ano, permitindo que investissem em novos equipamentos.

“Com essa receita, conseguimos comprar um gerador novo como reserva para usar durante a estação chuvosa, para que os clientes tenham um fornecimento de energia consistente”, explica Ahmed.

Ele e Ali têm vários outros planos para expandir a cooperativa de Buramino. Um deles é comprar uma motocicleta para que possam chegar mais facilmente às áreas distantes onde desejam instalar novos sistemas solares e manter os existentes, bem como receber pagamentos de clientes. Também planejam gastar parte de seus ganhos doando materiais de aprendizagem para crianças órfãs e deficientes na comunidade.

O potencial de crescimento é limitado não pela demanda, mas pelo tamanho das minirredes solares nos acampamentos, que atualmente estão perto de sua capacidade máxima.

“Com uma atualização do sistema, talvez pudéssemos eletrificar toda a comunidade”, diz Ahmed.

Reportagem adicional por Mohamed Ahmed Issack