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A Cor da Fuga

Comunicados à imprensa

A Cor da Fuga

7 Junho 2022
Barcos vietnamitas chegando à Malásia em 1978. Foto ©ACNUR/Kaspar Gaugler. Colorização ©ACNUR/Marina Amaral

100 milhões de pessoas foram forçadas a se deslocar dos seus locais de origem. Algumas permanecem em seus próprios países, fazendo o possível para ficar fora de perigo. Outros cruzam fronteiras internacionais, exiladas pela guerra, violência ou perseguição. 


Com o novo recorde de deslocamento forçado global, é vital lembrar que todos têm direito a buscar proteção – seja quem for, seja quando for e seja onde for.

Nas últimas sete décadas, o ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, vem trabalhando com países de todo o mundo para ajudar as pessoas deslocadas a buscarem proteção e a reconstruírem suas vidas. Ao longo do caminho, o ACNUR reuniu mais de 100.000 fotografias que mostram o que realmente significa ser forçado a deixar sua casa, sua cidade e seu país.

Para ajudar a dar vida a algumas dessas histórias, o ACNUR procurou a artista brasileira Marina Amaral, especialista em adicionar cor a fotografias em preto e branco e nos permitir ver o passado com novos olhos. Tendo em mente o poder da cor de “influenciar e alterar nossas emoções”, Marina começou a trabalhar avidamente em uma pequena seleção de fotos que são alternadamente alegres, comoventes e edificantes.

Juntas, essas imagens nos lembram o que é possível quando as nações garantem o acesso à proteção, atuam em solidariedade e trabalham em busca de soluções.

1949 - Um acampamento para pessoas deslocadas pela Segunda Guerra Mundial

A Segunda Guerra Mundial deixou milhões de pessoas desabrigadas. Em maio de 1945, mais de 40 milhões delas apenas na Europa, sem contar os 13 milhões de alemães de diferentes etnias que foram expulsos nos meses seguintes da União Soviética e dos países do Leste Europeu, e mais de 11 milhões de trabalhadores forçados e outras pessoas deslocadas no território do antigo Reich.

Esta fotografia, que se acredita ter sido tirada no outono de 1949, mostra uma família da Tchecoslováquia que foi alojada no acampamento para deslocados de Delmenhorst, perto de Bremen, Alemanha.

Eles viajaram para a Itália em janeiro de 1950 e partiram algumas semanas depois a bordo do navio USS General Heintzelmann para começar suas novas vidas em Melbourne, Austrália.

A foto pode até ter sido elaborada pelo homem agachado, Jaroslav Patetl, que era fotojornalista.

1950 - Solicitando o reassentamento após a guerra

Fotógrafo: desconhecido

Esta fotografia mostra pessoas deslocadas à força na Alemanha solicitando reassentamento por meio da Organização Internacional para Refugiados (OIR), criada em julho de 1947 como um órgão temporário para ajudar a encontrar soluções para os milhões de deslocados do pós-guerra.

A OIR teve muito mais sucesso com o reassentamento do que com o repatriamento, e a maioria do milhão de pessoas reassentadas foi para os Estados Unidos, Austrália, Israel, Canadá e vários países da América Latina.

Mas suas atividades se envolveram na política da Guerra Fria e a OIR foi sucedida pelo ACNUR, cujo Estatuto foi adotado pela Assembleia Geral da ONU em 14 de dezembro de 1950.

1956 - Pessoas refugiadas da Hungria a caminho da Suíça

Fotógrafo: desconhecido

A Revolta Húngara de 1956 e sua repressão pelas forças soviéticas foi a primeira experiência do ACNUR de trabalhar com um êxodo em massa de pessoas refugiadas fugindo da repressão política.

A crise também marcou sua transformação de uma organização que lidou com as consequências da Segunda Guerra Mundial para uma que poderia enfrentar o desafio das novas emergências de grande escala.

Dezenas de milhares foram rapidamente reassentados da Áustria para outros países, embora alguns tenham fugido para a Iugoslávia e outros tenham retornado à Hungria.


Como você pesquisou essas imagens para obter a cor e a sensação certas? Algumas delas são de situações remotas e há muito tempo esquecidas.

Marina Amaral: Como as fotos não tinham objetos específicos que me permitissem identificar as cores originais através das fontes escritas, além do avião que transportava asiáticos de Uganda para a Europa [veja abaixo], decidi adotar uma abordagem artística. Não há informações ocultas na escala de cinza e, às vezes, a pesquisa não é suficiente. É quando o artista precisa intervir e fazer escolhas conscientes – tendo em mente o ambiente, o clima, o período histórico e o estado geral – sobre quais cores serão aplicadas à fotografia.


1959 - Uma nova era de deslocamento: pessoas refugiadas da Argélia na Tunísia

Fotógrafo: Stanley Wright

A guerra de independência da Argélia, que começou em 1954, foi uma crise humanitária que demonstrou como o deslocamento em massa estava se tornando um desafio global, não limitado à Europa. Também mostrou o potencial para uma ação internacional coordenada e eficaz para proteger e ajudar as pessoas refugiadas.

Na crise da Argélia, por exemplo, o ACNUR trabalhou em estreita colaboração com a Liga das Sociedades da Cruz Vermelha, por meio de organizações locais do Crescente Vermelho.

O apoio do ACNUR às pessoas refugiadas da Argélia no Marrocos e na Tunísia, e sua ajuda na repatriação ao final da guerra, marcaram o início de um envolvimento muito mais amplo na África.

 

1964 - Pessoas refugiadas de Ruanda aguardam alimentos em Uganda

Fotógrafo: William McCoy

As lutas pelo poder, as tensões étnicas e a violência nas comunidades que marcaram o fim do domínio colonial e o início da independência em Ruanda desencadearam a fuga em larga escala dos tutsis ruandeses no início dos anos 1960 – eventos que encontrariam um eco horripilante três décadas depois, quando essas tensões fervilhantes desembocaram em genocídio e um enorme desastre humanitário.

Esta imagem mostra ruandeses esperando a distribuição de alimentos em um centro de pessoas refugiadas no Vale Oruchinga, em Uganda.


Você disse que por meio do seu trabalho você está “dando vida ao passado”. Como é que a cor pode abrir nossas mentes desta maneira? 

Marina Amaral: Estudos científicos comprovam que as cores têm o poder de influenciar e mudar nossas emoções. Acho que isso fica especialmente claro quando comparamos fotos em preto e branco com versões coloridas. O original tem imenso valor histórico e artístico, e jamais será substituído. No entanto, o preto e branco nos distancia da realidade retratada, mesmo que inconscientemente. É claro que nem todos reagirão da mesma maneira, mas de modo geral isso é verdade.

Uma vez que você quebra as barreiras emocionais, fica muito mais fácil se relacionar com aquele assunto ou pessoa, o que muda completamente nossa compreensão da história. Deixa de ser apenas racional e passa a ter um impacto emocional também.


1969 - Assírios buscam refúgio no Vale do Bekaa, Líbano

Fotógrafo: Stanley Wright

O povo assírio é um grupo étnico que tradicionalmente habitava partes do Irã, Iraque, Síria e Turquia. Uma minoria predominantemente cristã, eles tiveram que fugir de conflitos e perseguições em várias ocasiões ao longo do século passado.

No final da década de 1960, milhares de assírios – muitos deles apátridas – encontraram refúgio no Líbano, incluindo essa mãe e filha vivendo em um assentamento para assírios perto de Zahlé, no Vale do Bekaa. Lamentavelmente, muitos seriam forçados a fugir novamente depois que a guerra civil do Líbano eclodiu em 1975.

 

1969 - Pessoas refugiadas da Angola encontram segurança e um futuro em Botswana

Fotógrafo: E. Schlatter

Na década de 1960, a missão do ACNUR expandiu-se para muito além das fronteiras da Europa, notadamente para a África Subsaariana quando a era colonial terminou.

À medida que a guerra de independência de Angola se intensificou em 1967 e 1968, cerca de 3.300 pessoas do povo Hambukushu fugiram através da fronteira para Botswana. As pessoas refugiadas ilustrados aqui estão esperando para receber sua alimentação diária no assentamento de Etsha.

Finalmente, o destino dos Hambukushu em Botsuana provaria ser uma das histórias de integração de pessoas refugiadas mais bem-sucedidas do século XX.

 

1972 - Novo lar na Áustria para asiáticos que fugiram de Uganda

Fotógrafo: N. Schuster

Em agosto de 1972, o déspota militar Idi Amin disse à comunidade de asiáticos ugandenses, que moravam no país desde a virada do século, que eles tinham apenas 90 dias para partir.

Muitos possuíam passaportes britânicos e, consequentemente, foram reassentados no Reino Unido, mas outros milhares ficaram efetivamente apátridas.

O ACNUR pediu ajuda para o reassentamento, e a Áustria estava entre vários estados que os receberam. Nessa imagem, alguns estão chegando ao aeroporto de Viena.

 

1974 - Pessoas refugiadas cipriotas gregos em uma ilha dividida

Fotógrafo: Jean Mohr

O Chipre tornou-se uma república independente em 1960, mas as tensões entre suas comunidades grega e turca ficaram violentas. Em julho de 1974, as forças turcas invadiram o norte do Chipre em resposta a um golpe militar grego que visava unir a ilha à Grécia. A ilha permanece dividida até hoje.

Esta foto mostra crianças cipriotas gregas em um campo de pessoas refugiadas em Strovolos, município de Nicósia, que na época tinha uma população de cerca de 1.600 habitantes.

 

1978 - Barcos vietnamitas chegando à Malásia

Fotógrafo: Kaspar Gaugler

O êxodo em massa de pessoas refugiadas do Vietnã começou depois que a cidade de Saigon foi conquistada por forças comunistas, em 1975. Apesar dos perigos, incluindo a ameaça de piratas, dezenas de milhares das chamadas "pessoas dos barcos" foram para o mar.

Esta imagem mostra membros de um grupo de 162 pessoas refugiadas que chegaram à Malásia em dezembro de 1978. Outras fotografias tiradas no mesmo dia mostram sua embarcação se aproximando de longe - e depois afundando a poucos metros da costa.

 


Quando você estava olhando para estas fotos de pessoas refugiadas, o que chamou sua atenção sobre elas – e como isso influenciou sua abordagem?

Marina Amaral: Acho que o que mais me afeta ao trabalhar em fotografias que retratam assuntos tão sensíveis é a percepção de que, embora essa foto específica possa ter sido tirada há décadas, pouco mudou desde então. Passar tantas horas trabalhando em cada foto e “conhecendo” melhor as pessoas que estou colorindo, ainda que de forma abstrata, não é fácil. Mas esse apego emocional é importante; caso contrário, eu seria um robô e não uma artista.


1981 - Repatriação de pessoas refugiadas para o Chade

Fotógrafo: Iain Guest

Quando o conflito armado chegou a Ndjamena, capital do Chade, em 1979, centenas de milhares de pessoas fugiram em busca de proteção. Muitos foram para Nigéria, Sudão e República Centro-Africana, mas a maioria atravessou o rio Chari e encontrou refúgio na região do extremo norte de Camarões. Em 1981, o campo de pessoas refugiadas de Kousseri estava entre os maiores do mundo.

Mais tarde naquele ano, à medida que as condições no Chade melhoravam, o ACNUR lançou uma operação em larga escala para ajudar no retorno voluntário de cerca de 150.000 pessoas refugiadas de países vizinhos. Esta foto mostra mulheres no acampamento de Kousseri se preparando para voltar para casa, uma viagem curta, mas muito esperada, que as transportaria de caminhão e depois de balsa para Ndjamena.

 

1983 - Jovens refugiados do Laos em Buenos Aires, Argentina

Fotógrafo: Alejandro Cherep

No final da guerra do Vietnã, que se espalhou para os países vizinhos, um novo governo comunista assumiu o poder no Laos. Vários milhares de pessoas, muitas delas de etnia Hmong, que lutaram ao lado das forças dos EUA, se viram em grave perigo quando os americanos partiram.

Daqueles que fugiram do Laos, a maioria encontrou um lar nos Estados Unidos, mas um número menor se estabeleceu em outros lugares, incluindo essas crianças na Argentina. Quase 40 anos depois, encontramos Kykeo Kabsuvan, o garoto em primeiro plano fazendo uma pose de karatê. Leia a história de Kykeo: O ‘Karate Kid’ que é ‘mais argentino que doce de leite’.