Close sites icon close
Search form

Search for the country site.

Country profile

Country website

Criança refugiada sonha em voltar para casa na República Democrática do Congo

Comunicados à imprensa

Criança refugiada sonha em voltar para casa na República Democrática do Congo

Criança refugiada sonha em voltar para casa na República Democrática do CongoOlhando para o chão, Obed descreve uma infância idílica, antes de sua família ser forçada a fugir pelo rio que separa sua terra natal do campo de refugiados onde vive atualmente.
22 Fevereiro 2012

BETOU, República do Congo, 22 de Fevereiro (ACNUR) - Obed fala devagar. Olhando para o chão ele descreve o que parece ter sido uma infância idílica, antes de sua família ser forçada a fugir pelo rio que separa sua terra natal do campo de refugiados onde vive atualmente.

"Quando nós vivíamos em nosso país, tinhamos uma grande casa em Libenge, um monte de amigos e jogávamos futebol quase todos os dias. Meu ídolo era Ronaldino. Meu pai estava trabalhando como pastor, e às vezes como enfermeiro. Minha mãe estava cuidando de mim e de meus irmãos", disse Obed, que agora tem 14 anos e sonha em voltar para casa.

Isso tudo mudou há dois anos quando a família foi pega desprevinida em um conflito entre grupos étnicos na República Democrática do Congo. Tudo começou com um esforço para ajudar as vítimas de um acidente de trânsito.

"Eu me lembro que em uma quarta-feira, há dois anos, durante o conflito inter-étnico, meu pai estava trabalhando na clínica, cuidando das vítimas de um acidente de carro – não tinha nenhuma relação com a guerra, ele estava apenas fazendo seu trabalho, dando o seu melhor. E eu estava orgulhoso dele", disse Obed.

Incapaz de sair da clínica, onde estava tratando das muitas pessoas feridas no acidente, ele não pode chegar a tempo na igreja local, onde conduziria o serviço religioso. Então começaram a se espalhar  entre alguns membros do grupo étnico contrário rumores de que ele estava favorecendo o grupo da etnia Lobala.

"Meu pai cuidava dos vizinhos, sem lhes perguntar de que grupo étnico eram. Eles estavam fazendo de tudo para criar uma ligação entre meu pai e os Lobalas", disse Obed. "Essa má interpretação de seus atos ... provocou uma rápida mundaça na situação da minha família. Eles acusaram meu pai de ser um perigo para a ordem pública. Para escapar, fomos obrigados a fugir."

Os 11 membros da família cruzaram o rio Ubangui à noite, numa piroga, levados em segurança por um membro da congregação de seu pai. Depois de alguns dias em uma vila nas margens do rio, chegaram a Betou, onde as equipes da ACNUR os registraram como refugiados. Há dois anos a família  vive no campo de refugiados em Betou.  O pai de Obed trabalha ocasionalmente como  enfermeiro junto aos refugiados, e sua mãe vende bolos caseiros e sabão de palma.

A área  de Betou ainda serve de abrigo para cerca de 17 mil famílias - quase 60 mil refugiados - registrados pelo ACNUR, provenientes principalmente  da República Democrática do Congo. Mais da metade é formada por crianças, algumas órfãs ou desacompanhadas. Apesar das dificuldades, Obed se considera sortudo porque toda a sua família está viva e morando juntos.

Obed fez novos amigos entre os refugiados, mas sente falta de seu país. Alguns dos seus amigos já voltaram para casa - e ele espera que sua família possa deixar o abrigo nos próximos dois anos e retornar também.

O ACNUR está buscando forte apoio de doadores para conseguir 24 mil dólares para um programa de repatriamento voluntário,  com começo pevisto para abril. Este projeto poderia ajudar Obede e milhares de outros refugiados a voltar para casa na RDC, ainda este ano.

"Aqui não há guerra, mas não é o lugar onde nasci", disse. "Os pais decidem por nós, como filhos, nós os seguimos; se eles partem, nós partimos, se eles ficam, nós ficamos também. Mas, se eu pudesse fazer uma escolha por mim, gostaria de ir para casa logo após o fim do ano letivo".

Obed, um aluno de nível secundário na escola mantida pelo ACNUR em Betou, cursa a maioria das aulas de Métodos de Ação Social. Seu sonho é se tornar um jornalista. "Mas, se minha família não for capaz de pagar os meus estudos, ser mecânico também será legal".

O menino disse que sua família está conversando sobre o repatriamento voluntário com Libenge, e espera que seu pai não mude de idéia. "Vou pedir pra minha mãe falar com ele", sorri. "Sim, acho que isso vai ajudar. Isso sempre funciona".

 Apenas um rio, cerca de 1,5 km de diâmetro, os separa de sua vida passada.