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Crianças desacompanhadas fogem da guerra no Iêmen e buscam segurança na Somália

Comunicados à imprensa

Crianças desacompanhadas fogem da guerra no Iêmen e buscam segurança na Somália

Crianças desacompanhadas fogem da guerra no Iêmen e buscam segurança na SomáliaAdolescente iemenita estava fazendo a cama na casa onde ela trabalhava como doméstica, quando uma explosão deu início a um intenso bombardeio.
11 Janeiro 2016

Hargeisa, Somalilândia/Somália, 11 de janeiro (ACNUR) – Adolescente iemenita, Khayria Abdel Wahab estava fazendo a cama na casa onde ela trabalhava como doméstica, quando uma explosão deu início a um intenso bombardeio.

Em pânico pela explosão, a garota de 17 anos correu e se juntou às multidões que fugiam em direção ao porto de sua cidade natal. Durante três dias ela procurou por sua mãe e seus sete irmãos e irmãs.

"Sentei ao lado de estranhos, todos desesperada à procura de algum familiar", diz ela, lembrando deste momento no início de novembro. "Os telefones celulares não estavam acessíveis porque a rede tinha caído. Ninguém pôde me dar qualquer esperança".

Ela foi informada que permanecer no Iêmen não era seguro. "Eu não tinha outra alternativa", diz Abdel Wahab. "Eu tive que fugir para a Somália".

O número de crianças e adolescentes desacompanhados é superior a 168.000. Pessoas estas que fogem da violência no Iêmen desde março de 2015, quando anos de instabilidade política, dificuldades econômicas e tensões sectárias desencadearam uma guerra civil. Mais de 9.500 das pessoas que fugiram do conflito foram para a Somalilândia, uma região autônoma da Somália, atravessando o Golfo de Áden desde o Iêmen.

A maioria são somalis e etíopes que inicialmente deixaram a África em direção ao Iêmen, mas regressaram ao continente pelo mar devido aos combates. Entre eles são mais de 2.600 iemenitas, incluindo, pelo menos, 850 que se registraram na Agência das Nações Unidas para os Refugiados, ACNUR, sozinhos ou desacompanhados de suas famílias.

Muitos são pessoas desacompanhadas consideradas vulneráveis pelo ACNUR, incluindo crianças e adolescentes, como Abdel Wahab, que foram separadas de suas famílias, assim como pessoas idosas, pessoas com deficiência ou enferma.

Abdel Wahab pagou a um contrabandista US$ 120 para que a levasse à costa da Somália em uma travessia marítima de 24 horas. Assim que ela chegou, bandidos roubaram o restante do dinheiro e tudo o que ela guardava em sua pequena mala. Abandonada, sozinha e com medo, ela não sabia para quem pedir ajuda.

A adolescente iamenita, Khayria Abdel Wahab, refugiada desacompanhada, descansa em uma casa para mulheres em Somalilândia/Somália.

A adolescente iamenita, Khayria Abdel Wahab, refugiada desacompanhada, descansa em uma casa para mulheres em Somalilândia/Somália.

Eventualmente, companheiros iemenitas a encontraram e a acompanharam até a capital da região, Hargeisa. É um costume cuidar dos outros em seu clã, e Abdel Wahab foi passando de uma família iemenita refugiada para outra, mas as mesmas estavam preocupadas com os custos de sua adoção permanente. Finalmente, ela chegou à casa de Mohammed Aboubakr El Hindi.

"Antes de chegar aqui, ela já estave com outras duas  famílias", diz El Hindi, 57 anos, também refugiado do Iêmen. "É imperativo em nossa tradição apoiar os mais vulneráveis. Mas dadas as nossas dificuldades extremas, pensamos que a melhor maneira de ajudar Khayria seria indicar seu caso às agências humanitárias".

A ACNUR agiu imediatamente. Abdel Wahab foi registrada como refugiada e levada para uma casa segura, voltada para o acolhimento de mulheres, onde ela ficou em seu próprio quarto, recebeu assistência psicológica, alimentação e cuidados médicos. Abdel agradeceu a ajuda, mas está profundamente traumatizada e ainda não foi capaz de localizar sua mãe ou irmãos.

"Estou com tanto medo de estar sozinha, do futuro, de não saber o que aconteceu com a minha família no Iêmen", disse ela. "Estou totalmente no escuro sobre o que está por vir. Meu corpo e os meus olhos estão tão cansados de tanto chorar e das constantes noites sem dormir. Eu sou muito jovem, mas temo que esta guerra possa ter destruído a minha vida para sempre".

Por semana, cerca de 60 casos de refugiados que necessitam de assistência especial chegam ao ACNUR na Somália para uma avaliação das necessidades, diz Miriam Aertker, oficial de proteção da Agência em Hargeysa. Desde março de 2015, 33 casos foram registrados com condições médicas graves, 29 relataram ter sido vítimas de violência sexual ou de gênero, e 80 são crianças ou jovens que chegaram desacompanhadas de seus pais.

"Mesmo com uma rede de serviços comunitários apoiando imediatamente o ACNUR e seus parceiros, alguns casos ainda nos escapam, particularmente aqueles que não chegam pelas principais cidades costeiras, onde os nossos centros de acolhimento estão localizados", diz Aertker.

"Isso significa que eles nunca foram informados sobre os serviços que prestamos e estão, portanto, mais expostos a vulnerabilidades. Uma vez que estão nas cidades, é ainda mais difícil identificá-los entre as populações urbanas de refugiados."

Assim como os iemenitas, a Somalilândia abriga 9.000 refugiados e solicitantes de refúgio etíopes, 2.900 somalis que retornaram para seu país depois de o terem deixado, e 84 mil deslocados internos. Todos precisam de ajuda constante para reconstruir suas vidas e se restabelecer em comunidades que já enfrentam suas próprias dificuldades.

A ACNUR e seus parceiros continuam a ajudar os solicitantes de refúgio vulneráveis e refugiados com a ajuda financeira de emergência, assistência jurídica, programas psicossociais e de saúde para ajudar a integrá-los em populações de acolhimento, propiciando maneiras de assegurar sua existência. O apoio aos apelos de financiamento é crucial para manter esta assistência ao longo de 2016, diz Aertker.

Por Oualid Khelifi em Hargeisa, Somalilândia/Somália