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Crianças enfrentam novos perigos em campos de refugiados em Uganda

Comunicados à imprensa

Crianças enfrentam novos perigos em campos de refugiados em Uganda

2 Março 2018
De camisa branca, Kenyi John, de apenas 17 anos, cuida de seus irmãos. © ACNUR/Catherine Robinson
CAMPO DE REFUGIADOS IMVEPI, 27 de fevereiro de 2018 (ACNUR) – Sob a sombra de uma árvore, o jovem Kenyi John, sentado com seus quatro irmãos mais novos em um colchão, ergue seu braço. Ele arremessa um dado em um tabuleiro colorido e as crianças gargalham. O dado caiu no seis, o jogo deles já pode começar.

Kenyi, de 17 anos, e seus irmãos estão entre as mais de cinco mil crianças refugiadas sul-sudanesas não acompanhadas que foram forçadas a fugir da guerra civil em seu país e chegaram em Uganda sem seus pais. Em julho, eles deixaram a cidade onde moravam acompanhadas por um tio e caminharam por sete dias. Depois de enfrentarem muitas dificuldades, eles finalmente chegaram à fronteira.

“A jornada foi muito árdua”, conta Kenyi. “O sol estava escaldante e era muito difícil encontrar alimentos e água. Também nos deparamos com soldados e rebeldes por todo o caminho. Nosso tio decidiu voltar, mas seguimos em frente porque queríamos continuar nossos estudos”.

Em 2017, um número sem precedentes de refugiados sul-sudaneses chegou em Uganda. Estima-se um total de mais de um milhão de pessoas. A quantidade de crianças desacompanhadas ou separadas de seus pais também continua crescendo.

“A jornada foi muito árdua”.

“O número de crianças refugiadas viajando sozinhas para fugir de conflitos está atingindo níveis alarmantes”, disse Suwedi Yunus Abdallah, um especialista do ACNUR em proteção de crianças.

“Muitas dessas crianças testemunharam o assassinato de familiares ou se separaram no momento da fuga. Elas foram forçadas a virar adultos, a se tornarem responsáveis por si mesmas e por seus irmãos mais novos”.

Na chegada da fronteira ugandesa, o ACNUR (a Agência da ONU para Refugiados) e seus parceiros, incluindo a organização não governamental World Vision, identificam crianças desacompanhadas, entrevistam-nas e determinam seu status. Como Kenyi tem 17 anos, foi decidido que ele tinha idade suficiente para assumir o papel de chefe da família, que poderia viver de forma independente. Eles receberam um lote de terra, materiais para construir um abrigo e utensílios de cozinha.

“Recebemos doações de alimentos e vamos à escola", ele conta. "Além disso, eu me certifico de que todos ajudem em casa, coletem lenha e água, para que nossa irmã possa cozinhar nossas refeições”.

“Muitas dessas crianças testemunharam o assassinato de familiares”.

Parceiros do ACNUR como a World Vision, a Save the Children e o Conselho Dinamarquês para Refugiados enviou colaboradores para o acompanhamento dos núcleos familiares comandados por crianças.

A redução no número de funcionários e no tamanho dos acampamentos torna difícil a realização de visitas coordenadas e regulares. Como consequência, as crianças correm o risco de serem expostas a perigos e abusos, tais como doenças, estupro, gravidez, casamento forçado e recrutamento forçado para escravidão sexual ou grupos armados.

Os parceiros de proteção infantil do ACNUR têm trabalhado com comunidades e grupos de bem-estar infantil com o objetivo de encontrar famílias dispostas a cuidar de crianças pequenas que não podem cuidar de si mesmas. Os pais que se voluntariam para a tarefa são examinados e assinam um acordo se comprometendo a cuidar das crianças.

“Nós não queremos separar as famílias, então tentamos manter os irmãos juntos”, afirma Evelyn Atim, coordenadora de proteção infantil da World Vision. “Se as crianças não estão felizes em um lar adotivo, elas têm o direito de ir embora”.

“Os pais que acolhem essas crianças são refugiados também, então nós os apoiamos, fornecendo uma ajuda em dinheiro, itens domésticos, além de um domicílio improvisado para toda a família”.

No assentamento de refugiados Bidi Bidi, o maior do mundo, Betty Leila, de 32 anos, cuida de seis crianças, além de seus próprios quatro filhos e duas sobrinhas. Betty deixou o Sudão do Sul no ano passado com seus filhos e sobrinhas. Durante a jornada, eles encontraram, escondidas em um carro queimado, seis crianças desacompanhadas, com idades entre 10 e 16 anos. Elas se juntaram ao grupo de Betty e, no momento em que chegaram à fronteira de Uganda, criaram vínculos com os filhos dela.

“Eu as acolhi porque elas não tinham ninguém e nenhum lugar para ir”, conta Betty. “Manter essas crianças é uma mistura de dificuldades e alegria, uma vez que é difícil suprir todas as necessidades básicas que elas têm. Quando precisam de remédios, roupas ou material escolar, elas recorrem a mim. Para ganhar um dinheiro extra, eu trabalho como monitora em um espaço para crianças, mas muitas vezes eu preciso pedir emprestado aos meus vizinhos para comprar comida”.

A fim de melhorar as condições para as famílias mais vulneráveis no campo de refugiados de Imvepi, no norte de Uganda, o ACNUR decidiu fornecer ajuda em dinheiro para cerca de 463 famílias até o final de 2017, incluindo famílias de acolhimento e famílias chefiadas por crianças.

A primeira parcela ajuda a custear as necessidades básicas e a segunda se destina ao treinamento e financiamento das famílias para que comecem seus próprios negócios.

À medida que a guerra se desenrola no Sudão do Sul, o governo de Uganda e o ACNUR estão buscando maior financiamento da comunidade internacional para lidar com o fluxo de refugiados, fornecer educação, bem como cuidados médicos e psicossociais para as crianças, que compõem mais de 60% da população de recém-chegados.

Na pequena propriedade de Kenyi, onde o jogo de tabuleiro está a todo vapor, ele e seus irmãos esqueceram temporariamente seus problemas. Enquanto movem seus peões pelo tabuleiro, eles são crianças novamente, seguras em um lugar que agora chamam de casa.