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Crianças que chegaram sozinhas à Europa esperam ansiosas pelo início das aulas

Comunicados à imprensa

Crianças que chegaram sozinhas à Europa esperam ansiosas pelo início das aulas

Crianças que chegaram sozinhas à Europa esperam ansiosas pelo início das aulasO número de menores de idade que solicitaram refúgio na Bélgica cresceu para 1.483 no ano passado, quase o dobro do registrado em 2010.
21 Agosto 2012

BRUXELAS, Bélgica, 21 de agosto (UNHCR) – Depois de cruzar o Afeganistão dentro de um caminhão container onde outras crianças morreram, ser detido, chegar a Bélgica e passar o verão inteiro enfurnado num tedioso quarto com outros meninos refugiados, Faramaz*, de 15 anos, não vê a hora de começarem as aulas.

Esta será a primeira vez na vida que Faramaz frequentará a escola. Ele tem vergonha de não saber ler e escrever como as outras crianças da sua idade. A escola será uma aventura e tanto para ele, que há meses mora num hotel com outros jovens solicitantes de refúgio desacompanhados, já que os abrigos na Bélgica estão superlotados.

O número de menores de idade que solicitaram refúgio na Bélgica cresceu para 1.483 no ano passado, quase o dobro do registrado em 2010. A maioria é de meninos afegãos, cujas famílias arriscam pagar coiotes para levá-los à Europa, uma tentativa desesperada de garantir a segurança dos filhos.

"Eu mal podia respirar, viajamos amontoados porque não tinha espaço para todo mundo", disse Faramaz. "Fui do Afeganistão para a Europa num caminhão com outros 17 garotos. Foi horrível, três meninos morreram no caminho."

A história de Faramaz não é a única. De acordo com a publicação do ACNUR Tendências Globais 2011 (clique aqui para ler), 17.700 solicitações de refúgio foram feitas por menores em 69 países. Este número não representa o total de crianças refugiadas sem pais ou um responsável, supõe-se que muitas outras estejam na Europa na mesma condição.

De acordo com o ACNUR, as cidades europeias que receberam mais solicitações de refúgio de menores sozinhos foram Bélgica, Suécia, Alemanha e Reino Unido. Faramaz é um entre os mais de 100 menores que não conseguiram uma vaga nos centros de acolhida para crianças desacompanhadas na Bélgica. Enquanto o problema não é solucionado, as crianças são acomodadas em hotéis. 

“Reconhecemos os esforços do governo belga em abrigar os menores e colocar funcionários capacitados para lidar com eles. Esperamos que a questão da lotação dos centros seja resolvida rapidamente”, disse Paolo Artini, Vice-representante Regional do ACNUR na Europa Ocidental.

Faramaz e seu amigo Mehran* - que também saiu do Afeganistão sem os pais – chegaram a Bélgica sem saber nada sobre o país. Depois da exaustiva viagem, o coiote os deixou lá e eles foram presos imediatamente.

Os meninos sorriem timidamente quando se fala em refúgio. Eles parecem não entender bem o que quer dizer e o que vai acontecer com eles.

Na ausência dos pais, as crianças e adolescente precisam de um tutor legal. No entanto, na Bélgica faltam pessoas que se dispõem a ser tutores, principalmente destes menores que já estão no país. Para estes garotos, morar num quarto de hotel não é como uma viagem de férias. São espaços despreparados e muitas vezes compartilhados por muitos meninos.

"Não há muito o que fazer com as crianças, tédio é um grande problema", relatou Klaartje Ory, Representante local da Comissão da Comunidade Flamenga em Bruxelas. Klaartje e seus colegas acompanham os menores em atividades fora dos hotéis cerca de três vezes por semana.

Desde abril de 2012 o centro de refugiados de Overpelt oferece lugares adicionais para crianças entre 8 e 14 anos que estejam desacompanhadas. *Mirzal, um menino afegão de 13 anos, há poucos dias foi transferido do hotel para este centro.

"Minha vida melhorou ", disse ele em voz baixa. "No hotel eu dividia o quarto com quatro outros meninos. Não tínhamos dinheiro para comprar muita comida, então comíamos  feijão todos os dias".

O pai de Mirzal foi morto pelo Talebã, sua mãe e irmãos ainda vivem no Afeganistão. "Não consigo falar com eles há três meses, desde que sai do Afeganistão. Eu tinha o número de telefone anotado, mas os coiotes roubaram”.

"Quando chegam os meninos têm pesadelos e muitos problemas de sono, ou não querem trocar de roupa. Para alguns deles é, literalmente, a única coisa que restou”, contou Arlette Meuwis, gerente do centro em Overpelt.

* Nomes trocados por motivos de segurança.