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Crise silenciosa no Mali exige ajuda humanitária urgente, diz Alto Comissário do ACNUR

Comunicados à imprensa

Crise silenciosa no Mali exige ajuda humanitária urgente, diz Alto Comissário do ACNUR

Crise silenciosa no Mali exige ajuda humanitária urgente, diz Alto Comissário do ACNURAntónio Guterres pediu mais apoio financeiro para os refugiados do Mali em Burkina Faso, país que já enfrenta dificuldades para alimentar sua própria população.
3 Agosto 2012

CAMPO DE DAMBA, Burkina Faso, 2 de agosto de 2012 (ACNUR) – O Alto Comissário da Agência da ONU para Refugiados, António Guterres, pediu nesta quinta-feira que os países aumentem seu apoio financeiro as operações para refugiados do Mali em Burkina Faso, país que já enfrenta dificuldades para alimentar sua própria população.

O apelo foi feito durante visita de três dias ao país, que abriga a maior população de refugiados do Mali na região (107 mil pessoas). Em 29 de agosto, o Alto Comissário visitou o campo de Damba, ao norte do país, acompanhado de Anne C. Richard, representante do escritório sobre População, Refugiados e Migração da Secretaria de Estado dos EUA. O objetivo da viagem foi chamar atenção para a crise humanitária silenciosa e a necessidade urgente de atender a estes refugiados.

Nos últimos seis meses, mais de 250 mil pessoas abandonaram suas casas no Mali, quando começaram os embates entre governo, rebeldes tuaregs e diversos grupos armados. Além de Burkina Faso, 96 mil malineses estão na Mauritânia, 53 mil no Níger e outros 174 mil estão deslocados dentro do próprio Mali.

“Hoje, 257 mil refugiados do Mali passam por dificuldades terríveis e privações”, afirmou Guterres durante sua visita a Damba, onde vivem cerca de 1.200 refugiados malineses. “As fronteiras que eles cruzaram são de países pobres, como Níger, Mauritânia e Burkina Faso, que já possuem problemas de segurança alimentar. No entanto, estes refugiados têm sido recebidos com generosidade pelas populações locais, que dividem com eles o pouco que possuem e até agora não receberam a devida atenção da comunidade internacional. As agências humanitárias estão lutando para garantir que as necessidades básicas – água, saneamento, alimentação e saúde - sejam atendidas”, disse Guterres.

Ao longo deste um ano e meio de conflito o ACNUR vem tentando lidar com a falta de recursos para as operações. Apesar da recente doação de US$10 milhões dos Estados Unidos e contribuições de outros doadores, foram arrecadados apenas US$ 49.9 milhões dos US$153 milhões necessários para assistir os refugiados e deslocados internos do Mali.

“Espero que a comunidade internacional tenha com os governos de Burkina Faso, Níger e Mauritânia a mesma generosidade que estes países têm tido com os refugiados do Mali”, disse Anne Richard. “Com tantas crises em curso ao redor do mundo qualquer contribuição será significativa. Temos esperança de sensibilizar mais doadores”.

No campo de Damba, Guterres e Richard visitaram o centro de registro, onde funcionários do ACNUR traçam um perfil dos refugiados e fazem um levantamento da população no campo. Estas informações são importantes para adequar a assistência às necessidades dos refugiados. Nas próximas semanas o registro será feito em todos os campos de Burkina Faso.

A população de Damba recebe diariamente 14,5 litros de água por pessoa graças a dois poços cavados pelo ACNUR e tanques administrados pela Oxfam. Os refugiados passam por atendimento médico em um centro coordenado pela organização Médicos do Mundo. Os problemas mais comuns são malária, infecções respiratórias e parasitas intestinais.

A maior parte dos refugiados em Damba saiu de Gossi, cidade ao norte do Mali, por medo dos ataques. Os recém-chegados afirmam que o aparecimento de novos grupos armados está obrigando mais pessoas a abandonarem suas casas desde março.

Oumey, de 25 anos, chegou a Damba em 20 de julho depois de caminhar por duas semanas. “O medo me fez sair de casa, vi gente sendo morta quando os grupos armados entraram em Gossi. Não esperei pela minha vez”, disse ele a Guterres e Richard. 

Raichatou é uma senhora de 62 anos que deixou o Mali com 13 parentes – incluindo um filho com necessidades especiais. A família caminhou por duas semanas com um pouco de água e comida. Apenas 30 das 430 cabras da família sobreviveram à desidratação.

“Todos estavam deixando as vilas e entramos em pânico porque as notícias eram de que as principais cidades estavam dominadas pelos grupos armados”, disse Raichatou. Ela afirmou sentir-se segura em Burkina Faso e que voltaria aos seu país apenas se a paz fosse restabelecida.

Guterres ressaltou as dificuldades enfrentadas pelo ACNUR e outras agências humanitárias na assistência aos refugiados. “O recurso não é suficiente para suprir as necessidades de 250 mil pessoas refugiadas em países que já possuem grandes desafios internos de desenvolvimento e segurança alimentar, localizados em áreas quase desérticas, distantes do litoral e com grandes questões logísticas para se enfrentar”, disse Guterres. “Tenho esperança de que a comunidade internacional se mobilizará por Mali”.

O Alto Comissário e a representante do governo dos EUA reuniram-se com o presidente e o ministro das Relações Exteriores de Burkina Faso. Terão ainda encontros com outras agências da ONU e instituições parceiras da sociedade civil para discutir a situação dos refugiados do Mali, a situação humanitária do país e sua repercussão nos países vizinhos.

Por Hélène Caux, no campo de Damba, em Ouagadougou, Burkina Faso