Dadaab, o maior campo de refugiados do mundo, completa 20 anos
Dadaab, o maior campo de refugiados do mundo, completa 20 anos
GENEBRA, Suiça 20 de fevereiro (ACNUR) – Este ano se comemora o 20º aniversário do maior campo de refugiados do mundo, Dadaab, situado no nordeste do Quênia. O Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR), que administra o complexo, instalou os primeiros assentamentos na região em outubro de 1991 e junho de 1992 para abrigar os refugiados que fugiam da guerra civil somali. Em 1991, o conflito culminou com a queda de Mogadishu e a renúncia do governo central.
“A intenção original era que os três campos de Dadaab abrigassem até 90 mil pessoas”, disse o porta-voz do ACNUR, Andrej Mahecic. “Entretanto, atualmente vivem no complexo mais de 463 mil refugiados, incluindo cerca de 10 mil pessoas que conformam a terceira geração, nascida em Dadaad, cujos pais eram refugiados que também nasceram nos campos”.
Durante a crise de alimentos e a fome na Somália o ano passado, os números de chegadas superavam frequentemente a média de mais de 1.000 por dia. Cerca de 30 mil chegaram em junho, 40 mil em júlio e 38 mil em agosto. Isso representou uma maior pressão sobre os recursos existentes. Junto a autoridades locais e agências humanitárias, o ACNUR conseguiu lidar com esses fluxos, estabelecendo centros de recepção e assistindo rapidamente aos recém-chegados.
“Daddab conseguiu abrigar tantas pessoas por tanto tempo graças, em primeiro lugar, ao governo e à população queniana”, afirmou Mahecic.
Além do governo do Quênia, o ACNUR também esteve trabalhando com outras agências para oferecer proteção, abrigo e assistência humanitária, frequentemente em situações difíceis e complexas. A superlotação crônica, o risco de doenças e as chuvas estacionais são alguns dos desafios enfrentados pela organização.
“Em comemoração ao aniversário deste ano, o ACNUR está renovando seu chamado à comunidade internacional para garantir um apoio contínuo a quase um milhão de refugiados somalis na região. Além disso, busca-se apoio ao Quênia e a outros países que estão acolhendo essas pessoas”, afirmou o porta-voz.
Um terço da população refugiada abandonou a Somália em 2011 frente às terríveis condições de seca, fome e violência. Os últimos 20 anos testemunham também a necessidade de paz na Somália, de colocar um fim na violência para que os refugiados tenham a possibilidade de voltar para casa.
“O ACNUR espera que as conclusões da Conferência sobre a Somália, que começará hoje (23/02) em Londres, sirvam como catalisador de uma solução permanente para a questão somali”, disse Mahecic.
Atualmente a situação em Dadaab é extremamente difícil. O sequestro de três trabalhadores humanitários no outono passado e, mais recentemente, o assassinato de líderes refugiados e policiais quenianos, além das ameaças a trabalhadores humanitários, obrigaram o ACNUR e seus parceiros a repensar o modo de oferecer a ajuda.
Desde outubro e até há pouco tempo, foram estabelecidas restrições de segurança para movimentação nos arredores do campo. Entretanto, continua sendo uma prioridade do ACNUR a entrega de assistência emergencial – distribuição de alimentos, água e atenção médica – a qual nunca foi interrompida. Ademais, as escolas, administradas em sua maioria por professores refugiados, permaneceram abertas e conseguiram realizar as provas nacionais no final de 2011, apesar do clima de insegurança.
Desde o final do ano passado, os trabalhadores humanitários estão buscando formas de retomar as atividades, utilizando distintas metodologias e, o mais importante, atribuindo mais responsabilidades às comunidades de refugiados.
Desta forma, a crise também representou uma oportunidade para emponderar mais energicamente os refugiados, de modo que possam gerir os aspectos da vida diária no campo. Isto incluiu a participação dos jovens no momento de prover informações gerais para os recém-chegados ao campo de Kambioos, a presença de refugiados jornalistas que publicam seu próprio jornal ou de mulheres que capacitam grupos de formação sobre as oportunidades de trabalho das mães.
Os serviços na área sanitária também foram reforçados. Em um dia normal, cerca de 1.8 mil refugiados recebem tratamento ambulatório nos hospitais e centros de saúde dos campos. A prestação de serviços também melhorou em Kambioos. Entretanto, ainda há novos casos de sarampo (11 na semana passada) e estamos priorizando a vacinação dos recém-chegados acima de 30 anos.
As equipes do ACNUR estão envolvidas em trabalhos de proteção e de serviços comunitários, supervisionando regularmente as condições de proteção e desenvolvendo projetos para a subsistência dos refugiados. Os professores refugiados estão sendo capacitados para trabalhar com crianças, gerir as salas de aula e oferecer apoio psicossocial.
No início de fevereiro, o ACNUR retomou também o trabalho de realocação de refugiados que se encontram em áreas inseguras nos arredores do campo de Dagahaley para o campo de Ifo 2, onde recebem tendas familiares, assistência básica e serviços. Aproximadamente dois mil refugiados foram transferidos até o momento e outros 3.5 mil se uniram a eles nas próximas semanas. Ao final de 2012, o campo de Ifo 2, com capacidade para 80 mil pessoas, estará cheio.
Mais de 968 mil somalis vivem como refugiados em países vizinhos, principalmente no Quênia (520 mil), Iêmen (203 mil) e Etiópia (186 mil). Um terço fugiu da Somália em 2011. Outros 1.3 milhões estão deslocados dentro do país.