Deslocados internos em Kivu do Sul lutam para sobreviver
Deslocados internos em Kivu do Sul lutam para sobreviver
BUNYAKIRI, República Democrática do Congo, 14 de março (ACNUR) – Claudine* e seu marido Pierre* fugiram da vila em que moravam, localizada na parte leste do Congo, no começo de janeiro, e encontraram abrigo junto às centenas de pessoas na vila de Bunyakiri. Mas agora, o casal e outros deslocados internos que estão na província de Kalehe, no Kivu do Sul, enfrentam um novo desafio – a luta pela sobrevivência.
Os embates dos últimos quatro meses entre os rebeldes da Forças Democráticas de Libertação de Ruanda (FDLR, na sigla em inglês) e a milícia Maï Maï forçaram mais de 100 mil pessoas a abandonar a aldeia de Shabunda e procurar abrigo em Kalehe e em territórios vizinhos. A maior parte dessa população é composta por agricultores que trabalham na lavoura como meio de subsistência.
Mas nas principais áreas de recepção em Bunyakari, a terra é escassa e a maioria dos recém-chegados não têm dinheiro para comprar um lote de terra e cultivar seus alimentos. A grande parte dos deslocados internos trabalha nos campos que pertencem à população das comunidades que os hospedam. Pierre ganha 800 francos congoleses (US$ 0,90) por dia, o que é insuficiente para as necessidades de sua esposa e seus filhos.
As comunidades que receberam os delocados são pobres. Mesmo assim, forneceram à eles abrigo e os poucos recursos que possuem. “Não existe conflito aqui. Os deslocados vivem em harmonia com a população local”, afirma Charle, um representante dos habitantes de Bunyakiri, à equipe do ACNUR que visitou o local.
Muitos dos moradores, incluindo Charles, se simpatizam com os novos habitantes porque os próprios nativos também fugiram de suas casas no passado. Três dos filhos de Claudine e Pierre frequentam a escola em Bunyakiri, onde os professores são deslocados internos.
Mas a população de deslocados, que aumenta cada vez mais nas vilas, têm necessidades que precisam de atenção imediata. “A maioria dos deslocados fugiram às pressas, sem levar nada com eles, nem ao menos a carteira de identidade”, explica Charles. “Existe uma grande demanda por alimentos, assistência não alimentícia e tratamento médico. Alguns não possuem panelas, e, muito menos, lonas plásticas para os abrigos”.
Charles solicitou às autoridades locais e a ONGs ajuda para promover uma maior assistência humanitária aos deslocados e às populações nativas. Alexandra Krause, oficial de protenção do ACNUR em Bukavu, disse a agência “foi capaz de mobilizar o apoio de outros agentes humanitários para atender os deslocados” após do alerta sobre as suas dificuldades. Porém, é necessária mais ajuda.
O último deslocamento forçado ocorreu devido ao conflito na vasta região leste da República Democrática do Congo (RDC) entre a etnia predominante Hutu, o FDLR e a milícia Raïa Mutombok Maï Maï.
A vila natal de Claudine fica na área de Shabunda, região controlada pelo FDLR desde 1996, e a vida nessa instável região nunca foi tranquila para os civis. O grupo rebelde é composto, em sua grande maioria, por ruandeses hutus, que chegaram à RDC após o genocídio em Ruanda.
“O FDLR impôs a lei, tudo pertence à eles. Eles nos forçaram a trabalhar, queimaram nossas casas e campos, batiam ou matavam quem resistia e estupraram nossas mulheres”, contou Claudine ao ACNUR.
Tudo piorou quando a milícia Maï Maï atacou o FDLR, em novembro do ano passado. Os rebedes de Ruanda acusaram os moradores de servir de apoio aos Maï Maï. “Atiraram em nossas casas, aonde estávamos escondidos e queimaram outras com pessoas dentro”.
A única opção foi escapar, carregando o mínimo possível. Claudine e Pierre caminharam por mais de três dias pela floresta, com seus filhos, inclusive um bebê de um mês de vida. Hoje a vila deles está deserta, mas ambos têm a esperança de que um dia possam retornar. “Voltaremos para casa quando essa guerra terminar e o FDLR fugir”, finaliza Claudine.
*Os nomes foram alterados para a proteção dos refugiados.
Por Fabrice Eliacin em Bunyakiri, República Democrática do Congo