Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino: 56% dos empreendimentos da Plataforma Refugiados Empreendedores são liderados por mulheres
Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino: 56% dos empreendimentos da Plataforma Refugiados Empreendedores são liderados por mulheres
Por sua vez, a venezuelana Miriam mora em Manaus e tem um negócio na área de Gastronomia. A empreendedora vende tequenhos e massas de nhoque e pastel congeladas, e já sonha com os próximos passos. “Meu plano era ter um empreendimento quando me aposentasse na Venezuela, mas esse sonho está sendo construído no Brasil. Mais do que uma renda, é uma satisfação pessoal. Agora, meu objetivo é aportar meu grão de areia neste país, que é o que melhor acolhe seus irmãos venezuelanos”, afirma Miriam.
Nanci e Miriam fazem parte das 86 empreendedoras apoiadas pela plataforma Refugiados Empreendedores. Com pouco mais de dois anos, a iniciativa da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e do Pacto Global da ONU no Brasil alcançou recentemente 150 empreendimentos apoiados.
“O empreendedorismo tem um papel central para a retomada financeira e autonomia de muitas pessoas deslocadas à força que passaram a viver no Brasil, especialmente as mulheres. E essas pessoas empreendedoras também contribuem para a geração de renda e de empregos no país. Uma pesquisa recente divulgada pelo ACNUR mostrou que 44% dos empreendedores refugiados entrevistados contrataram funcionários no Brasil, sejam brasileiros ou compatriotas”, pontua o Oficial de Meios de Vida e Inclusão Econômica do ACNUR, Paulo Sérgio Almeida.
Empreendedorismo Feminino
Celebrado em 19 de novembro, o Dia do Empreendedorismo Feminino reforça a importância de homenagear e incentivar os empreendimentos liderados por mulheres. Afinal, essas empresárias refugiadas também ajudam a trazer novos conhecimentos e experiências ao Brasil.
Um exemplo é Lucia, que ao lado da cunhada Myria e sob o comando da matriarca Zuka, fundaram o Yasmin Comida Árabe, em Curitiba. A refugiada síria chegou ao Brasil em 2013 e em pouco tempo se tornou a primeira universitária refugiada formada no Paraná, em arquitetura. Atualmente, ela e as mulheres da família lideram o empreendimento que tem o objetivo de compartilhar a autenticidade da Síria. “Nossa comida é feita com muito amor e alegria. É pelo sabor dos alimentos que compartilhamos um pouco do que fazemos com carinho, temperado com a nossa própria história de vida, transformando os clientes em amigos”, justifica Lucia.
Myria complementa: “Deixamos para trás nossas vidas bem estruturadas na Síria por conta da guerra. Em meio ao choque cultural dos primeiros tempos em terras brasileiras, encontramos na cultura da culinária a forma ideal de quebrar barreiras e nos aproximarmos das pessoas”.
A head da Plataforma de Direitos Humanos e Trabalho do Pacto Global da ONU no Brasil, Tayná Leite, destaca a importância do apoio às mulheres nesta jornada empreendedora. “Os desafios das mulheres empreendedoras refugiadas, assim como para as empreendedoras no geral, têm características e obstáculos específicos que precisam ser levados em conta. Tem também muita potência e merecem valorização e reconhecimento. Grandes empresas, por exemplo, podem contratá-las como fornecedoras, ou até mesmo revisitar suas políticas de compras para fortalecer o empreendedorismo feminino, com este olhar especial às mulheres empreendedoras, principalmente as mulheres negras, mães, com deficiência e com outras vulnerabilidades agregadas à sua condição de refúgio. Além disso, precisamos de políticas públicas e ferramentas de apoio para essas mulheres, porque em muitos dos casos elas são as principais provedoras de suas famílias”.
Capacitação para impulsionar os negócios e garantir autonomia
Um dos objetivos da plataforma é promover treinamentos, encontros de networking e cursos aos empreendedores refugiados. Só em 2023, 280 pessoas refugiadas foram impactadas por ações promovidas pela iniciativa. Por intermédio da plataforma, muitos empreendedores são convidados para participar de feiras e eventos e contratados por empresas para venda de produtos.
O Sebrae, parceiro da iniciativa, também apoia ações de capacitação e encontros presenciais promovidos pela plataforma. O analista da Unidade de Assessoria Institucional do Sebrae Nacional, Getúlio Vaz, destaca a importância dessa rede para divulgação e formação na área de empreendedorismo. “Acessar a formação empreendedora é fundamental para aumentar as oportunidades de inclusão produtiva desses grupos. A nossa contribuição é fazer com que esses empreendedores e os interessados em empreender possam aumentar a sua chance de sucesso, colaborando para o crescimento do país e na geração de empregos”.
Sobre a plataforma Refugiados Empreendedores
A plataforma Refugiados Empreendedores é uma iniciativa do ACNUR e do Pacto Global da ONU no Brasil e tem como objetivo divulgar e dar visibilidade a empreendimentos liderados por pessoas refugiadas no país, além de apoiar capacitações e outras oportunidades de formação e de divulgação de seus negócios.
Criada em fevereiro de 2021 durante a pandemia de COVID-19, buscando destacar os negócios das pessoas refugiadas no Brasil, a plataforma atualmente conta com 151 negócios listados. São mais de 15 nacionalidades que integram a plataforma, sendo que a maioria dos empreendimentos é de pessoas venezuelanas (73%).
Dentre os 14 segmentos de atuação, a maioria atua no ramo da gastronomia (52%), seguido por artesanato (11%), design e arte (9%) e moda (7%). Sobre as localidades onde esses negócios estão implementados, as cidades de São Paulo e Boa Vista lideram com o maior número de empreendimentos. Mas a atuação dos refugiados empreendedores está presente em 16 estados e no Distrito Federal, além de empreendedores que entregam produtos para todo o país.