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Duas crianças se afogam por dia, em média, na tentativa de chegar à Europa

Comunicados à imprensa

Duas crianças se afogam por dia, em média, na tentativa de chegar à Europa

Duas crianças se afogam por dia, em média, na tentativa de chegar à EuropaDesde setembro de 2015, duas crianças morrem afogadas por dia, em média, ao tentar atravessar o Mediterrâneo para encontrar segurança com suas famílias na Europa.
22 Fevereiro 2016

KOS, Grécia, 19 de fevereiro (ACNUR) – Desde setembro de 2015, duas crianças morrem afogadas por dia, em média, ao tentar atravessar o Mediterrâneo para encontrar segurança com suas famílias na Europa, de acordo com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).

Em um comunicado conjunto, emitido em Genebra, o ACNUR, o UNICEF (Fundo das Nações Unidas para Infância) e a OIM (Organização Internacional para Migração) alertaram que o número de mortalidade infantil aumentou e pediram mais medidas que visem o aumento de segurança para aqueles que fogem de conflitos.

Desde setembro do ano passado, quando a trágica morte do garoto Aylan Kurdi chamou a atenção do mundo inteiro, mais de 340 crianças, muitas delas com idade inferior aos dois anos, afogaram-se no mar Mediterrâneo. As organizações acima referenciadas declararam que o número total de crianças que morreram pode ser ainda maior, uma vez que seus corpos estão perdidos no mar e nunca foram resgatados.

Uma dessas crianças tinha sete anos de idade, seu nome era Houda e vinha Afeganistão. Ela desapareceu em um naufrágio ao longo da ilha grega de Kos, no final de janeiro. Sua mãe, pai, duas irmãs e um de seus irmãos tinham deixado Cabul para Istambul no início do mês, depois que seu pai, um policial, recebeu ameaças de morte.

Na Turquia, a família fez um acordo com um contrabandista que lhes prometeu uma "viagem super-segura em um barco grande e espaçoso" para a Grécia. Para pagar a viagem, o pai de Houda vendeu a casa da família e pediu dinheiro emprestado a familiares e amigos.

À noite, quando se preparavam para sair, eles viram que o barco era um pouco maior que uma lancha. Era pequeno, velho e superlotado, com cerca de 80 passageiros amontoados no convés.

Eles tentaram desistir, mas foram forçados pelo contrabandista a embarcar sem questionamentos. Não era permitido desistência de última hora.

A irmã de Houda, Aisha, e seu irmão, Aziz, sobreviveram a esta perigosa viagem, junto com outras 26 pessoas, mas sua mãe, pai e uma irmã mais velha morreram. Seus corpos foram resgatados. Mas o corpo de Houda nunca foi encontrado. Aisha e Aziz, de 16 e 15 anos respectivamente, aprenderam a nadar na escola, o que os salvou.

O trecho do Mar Egeu entre a Turquia e a Grécia está agora entre as rotas mais mortais do mundo para os refugiados e migrantes.

"Essas mortes trágicas no Mediterrâneo são inaceitáveis e devem acabar", disse o Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, Filippo Grandi. "Claramente são necessários mais esforços para combater o contrabando e o tráfico. Além disso, como muitas das crianças e adultos que morreram estavam tentando encontrar parentes na Europa. Portanto, organizar maneiras para que as pessoas possam viajar legalmente e com segurança, por meio de programas de reassentamento e reunificação familiar, por exemplo, deveria ser prioridade absoluta se quisermos diminuir os índices de mortalidade”, arescentou o Grandi.

Como as crianças agora representarem 36% das pessoas em fuga, a chance delas se afogarem na travessia do Mar Egeu da Turquia para a Grécia tem crescido proporcionalmente. Durante as primeiras seis semanas de 2016, 410 pessoas morreram afogadas, de um total de 80.000 pessoas que cruzam o Mediterrâneo. Isso equivale a um aumento de 35 vezes em relação ao mesmo período de 2015.

Aisha e Aziz agora estão acomodados em um centro de acolhimento de trânsito do ACNUR, administrado por uma ONG que oferece um serviço especializado para refugiados menores que estejam desacompanhados, na Grécia, até que eles sejam transferidos para uma instalação permanente. Eles desejam se reunir o mais rapidamente possível com o que resta da sua família. Eles têm um irmão na Alemanha e esperam que um dia possam se reencontrar com ele.

"Estas crianças demonstram uma dignidade incrível e coragem durante os muitos desafios enfrentados após o naufrágio. Depois de identificar os cadáveres de seus próprios membros da família na Guarda Costeira, Aziz insistiu em ver mais fotos a fim de reconhecer os companheiros de viagem e ajudar na sua identificação para que suas respectivas famílias também possam descobrir o que aconteceu com seus parentes. Eles agradeceram repetidamente a mim e outros colegas pela ajuda que demos", disse Georgios Papadimitriou, um oficial sênior de proteção do ACNUR.

Marco Procaccini, chefe do escritório do ACNUR em Kos, disse : "Fiquei impressionado com a resistência e a coragem de Aziz e Aisha desde que nos conhecemos, no porto onde foram trazidos pelo navio da Guarda Costeira que os resgatou naquela noite terrível. Apesar de vivenciarem o pior que uma criança um dia pode passar, eles permaneceram sempre educados e gentis."

Aziz agradeceu ao ACNUR, às outras ONGs e aos voluntários locais que ajudaram ele e sua irmã durante este momento difícil e disse que um dia iria voltar com o restante de sua família para visitar o túmulo dos que foram encontrados e fazer uma oração para Houda.

Nota para imprensa completo aqui (em inglês)

Por Marco Procaccini, em Kos, na Grécia.