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Em uma jornada por segurança, somalis arriscam tudo na Líbia

Comunicados à imprensa

Em uma jornada por segurança, somalis arriscam tudo na Líbia

2 Julho 2019
A refugiada somali Maryam* aperta as mãos enquanto conta suas terríveis experiência na Líbia. © ACNUR / John Wendle

Mantida em cativeiro por contrabandistas armados em um depósito no sul da Líbia, a refugiada somali e recém-casada Maryam* foi tirada de seu marido Ahmed* e estuprada – repetidamente – durante vários meses. Só quando engravidou ela foi libertada e voltou para ele.


“Eles o forçaram a trabalhar e puniram ele na minha frente para humilhá-lo”, diz ela sobre a provação do casal, que estava apenas começando.

“Eles continuaram a me bater, apesar da minha condição, mas um dia um contrabandista me empurrou de forma muito forte. Eu caí e perdi meu bebê”.

Depois de pagar um resgate de 2 mil dinares – 1.445 dólares – eles foram libertados, apenas para serem traídos e vendidos para contrabandistas na cidade deserta de Bani Walid, na Líbia, por um homem que vivia na cidade e que havia prometido ajudá-los.

“Bani Walid foi até pior do que antes. Foi mais doloroso. Eles torturavam e puniam meu marido a todo o momento. Eles até o esfaquearam na coxa. Fui estuprada novamente... E de novo eu fiquei grávida... e de novo, por causa das condições naquele local, perdi meu bebê”, diz ela.

“Quando fomos pegos no mar, as pessoas estavam começando a se afogar”.

Uma noite, um guarda deixou a porta destrancada e o casal aproveitou a chance para finalmente escapar. Ainda na Líbia, foram abrigados pela comunidade somali em Tripoli, e mais tarde o casal tentou cruzar o Mediterrâneo. Mas, como muitos outros, eles foram interceptados pelas autoridades e retornaram para o centro de detenção de Ain Zara, em Tripoli.

“Quando fomos pegos no mar, as pessoas estavam começando a se afogar”, lembra Maryam. “Então, ficamos muito felizes quando vimos o barco, mas quando percebemos que estávamos voltando não podíamos acreditar.”

O pesadelo vivido por Maryam e Ahmed está se tornando cada vez mais comum para milhares de refugiados e migrantes que arriscam suas vidas nas mãos de traficantes e contrabandistas em viagens perigosas da África subsaariana ao norte da África, muitos em busca de segurança na Europa.

Os perigos ao longo do percurso incluem ser sequestrado, assassinado, estuprado ou sexualmente agredido, ser deixado para morrer no deserto, ou ser vendido como escravo. Aos que conseguem chegar às margens do Mediterrâneo a bordo de um barco, ao menos 331 morreram ou desapareceram no mar este ano após a partida da Líbia - uma taxa equivalente a cerca de um em cada seis que tentam a viagem.

Em uma tentativa de salvar vidas, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), lançou hoje sua estratégia Rotas para o Mediterrâneo, buscando 210 milhões de dólares para ajudar milhares de pessoas a fugir de abusos horríveis das mãos de traficantes e contrabandistas.

“No Níger, finalmente estamos seguros”.

O ACNUR pretende encontrar alternativas para refugiados como Maryam e Ahmed - que fugiram da Somália depois que três membros próximos da família, incluindo seus pais, serem mortos - de modo que eles nunca precisaram sair por terra em primeiro lugar.

Como parte de seu trabalho no país, o ACNUR vem identificando as pessoas mais vulneráveis ​​presas em centros de detenção da Líbia, como Maryam e Ahmed, e as levando para o Centro de Recolhimento e Partida em Trípoli, enquanto aguardam a evacuação para fora do país. Em março deste ano, o casal estava entre mais de 100 homens, mulheres e crianças resgatados por meio de voos fretados para o Níger.

“No Níger, finalmente estamos seguros”, diz Maryam. “Estamos muito felizes por finalmente vivermos juntos como um casal. Vivemos na esperança de um bom futuro e podemos passar o resto de nossas vidas juntos”.

Desde que os voos começaram em 2017, o ACNUR evacuou 2.913 de pessoas vulneráveis em segurança para o Níger, onde soluções mais duradouras, como o reassentamento para outros países , podem ser encontradas.

“Os horrores que as pessoas enfrentam ao longo dessas jornadas perigosas estão além de toda compreensão. São uma violação dos direitos humanos e da dignidade”, afirma Alessandra Morelli, Representante do ACNUR no Níger. “Nós trabalhamos para trazer um senso de esperança para essas pessoas, por meio do cuidado e da cura.”

* Os nomes foram alterados para proteger a identidade das pessoas nesta história.