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Escassez de alimento em campos do Sudão do Sul desperta ira em refugiados

Comunicados à imprensa

Escassez de alimento em campos do Sudão do Sul desperta ira em refugiados

Escassez de alimento em campos do Sudão do Sul desperta ira em refugiados
8 May 2014

CAMPO PARA REFUGIADOS YUSUF BATIL, Sudão do Sul, 8 de maio(ACNUR) –  Após enfrentar uma fila por alimentos no campo de refugiados de Yusuf Batil, no Sudão do Sul, Sura Sirad, de 25 anos, está claramente infeliz com a escassez de alimentos: duas xícaras de lentilha, uma xícara de óleo e por volta de dois quilos e meio de sorgo para sua família. Não há nem mesmo sal.

“Essa comida alimentará minha família por, no máximo, dois dias”, disse a mãe de quatro crianças. “A última vez que tivemos uma refeição decente foi em fevereiro. Desde então, temos rações para 10 dias aqui, cinco dias ali, mas com longas semanas com nada para comer entre elas!”.

O transporte de assistências vitais para Yusuf Batil e outros acampamentos de refugiados em Maban County, no Estado de Upper Nile, tem sido dificultado pela insegurança e os confrontos em rotas de abastecimento. Incapaz de entregar suprimentos de comida, o Programa Alimentar Mundial (WFP, na sigla em inglês) e seus parceiros, incluindo o ACNUR, foram forçados a distribuir rações reduzidas às dezenas de milhares de refugiados do Sudão em Maban nos meses de março e abril.

“Precisamos continuar catando folhas de lolop para cozinhar, pois não existe outra coisa para comer,” diz Sura, ecoando a frustração crescente e a raiva de muitas outras mulheres aqui, que reclamam aos trabalhadores de assistências humanitárias sobre a escassez de comida. A árvore de Lolop é abundante na área e suas folhas são comestíveis, mas com sabor amargo. Algumas crianças mais jovens têm dores de barriga após comê-las.

É um problema que o ACNUR, o Programa Mundial para Alimentos e seus parceiros levam a sério. “Nós, agentes humanitários, dividimos a frustração dos refugiados”, enfatiza o oficial do ACNUR Adan Ilmi, completando que novos confrontos entre o governo do Sudão do Sul e as forças rebeldes, iniciados no meio de dezembro, dificultaram muito o transporte de subsídios.

Em uma declaração conjunta na última sexta-feira, o ACNUR e a WFP convocaram os lados rivais para garantir a segurança de agências humanitárias que ajudarão pessoas vulneráveis que foram deslocadas, incluindo 125.000 refugiados sudaneses em Maban County. Os parceiros da ONU disseram que ainda há tempo para entregar quantidades substanciais de ajuda pelas estradas, ao invés de pontes em áreas dispendiosas, antes que as chuvas deixem as estradas intransitáveis.

Sura é franca sobre a situação dos refugiados em Yusuf Batil, que fugiram para o Sudão do Sul antes da luta armada começar em dezembro. “Nós estamos sem esperança”, ela diz. “Não temos uma terra para cultivar. Não podemos cortar árvores para vender, pois é ilegal. Nós não temos as habilidades e a educação necessárias para conseguir um emprego”.

Ela admite que pensou em voltar para o estado de Blue Nile, no Sudão. “Pelo menos eu tenho um terreno em Dereng onde posso cultivar alimentos para minha família”, ela explica. Algumas pessoas já voltaram, conta o funcionário do ACNUR Ilmi, que gerencia o sub-escritório em Bunji. “Temos recebido relatórios que mostram cerca de 2.000 refugiados retornaram dos campos de Maban para o estado devastado pela guerra de Blue Nile”. Ele diz que isso é uma tendência preocupante, adicionando que Blue Nile por si só “tem uma insegurança alimentar por causa do conflito continuo na região”.

Nos campos de Maban, refugiados têm complementado a ajuda alimentícia com raízes e folhas selvagens. Outros estão vendendo ou trocando itens, como sabão, em mercados e vilas vizinhas, por comida.

“Sabão é de vital importância durante a temporada chuvosa, quando os maiores padrões de higiene são necessários para prevenir o surgimento e propagação de doenças”, disse Ilmi. “Infelizmente, os refugiados estão vendendo seu sabão e vandalizando instalações sanitárias. Além disso, eles estão vendendo lençóis de plástico, postes e outros materiais necessários para a construção de latrinas”.

A Agência da ONU para Refugiados e seus parceiros temem que a continuação da escassez de comida afete negativamente a saúde e a nutrição dos refugiados. Crianças e pessoas mais velhas, assim como mulheres grávidas ou amamentando, são particularmente mais vulneráveis.

“Nós ainda podemos prevenir a deterioração futura dessa situação. Se as partes envolvidas no conflito facilitarem o acesso seguro de agências humanitárias para levar comida e outros suprimentos críticos para Maban”, disse Ilmi. “Pelo lado positivo, temos recebido garantias da WFP que estoques adicionais de comida serão enviados para Maban nos próximos dias”, acrescenta.

Sura espera que ele esteja certo. “Queremos acreditar que a ONU resolverá esse problema logo. Não podemos continuar vivendo deste jeito”, avisa a jovem mulher.

Por Pumla Rulashe  no Campo para Refugiados de Yusuf Batil, Sudão do Sul