Essa é a realidade de viver em uma zona de guerra no inverno gelado
Essa é a realidade de viver em uma zona de guerra no inverno gelado
Desde 2014, conflitos na Ucrânia forçaram 1,5 milhão de pessoas a deixarem suas casas. Para aqueles afetados pela violência, o inverno pode tornar a vida especialmente difícil, com temperaturas podem cair até -20 °C. Depois de cinco anos, muitos dos deslocados esgotaram seus recursos e frequentemente são forçados a escolher entre comprar comida e remédios ou pagar por aquecimento.
Em 2018, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) intensificou as distribuições de ajuda, por meio de roupas, combustível e dinheiro para milhares de famílias deslocadas no leste da Ucrânia. Em conjunto com parceiros, o ACNUR também está reforçando os abrigos já existentes e as tendas aquecidas nos postos de controle ao longo da linha de contato que divide as áreas controladas pelo governo e as não governamentais*.
Stefania, 71
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Eu vivo em Mykolayivka, Donetsk, há muitos anos. O inverno aqui é gelado e venta muito. A temperatura pode chegar a -10 °C.
O bombardeio dificulta as coisas nesta época do ano. Quando começa, a primeira coisa que você faz é correr até o porão, mas é muito frio lá. Quando minha casa foi bombardeada em 2015, trouxe trodas as roupas quentes e cobertores que eu tinha. Mesmo assim, estava frio.
Depois, fui checar minha casa. Estranhamente, muitas coisas não quebraram, incluindo a geladeira e a televisão. Mas o teto estava faltando. O cheiro era terrível. Muitas coisas estavam queimando e eu tive que morar com um vizinho.
Depois daquele inverno, desenvolvi problemas com meus rins e coração.
Este ano recebi material de abrigo de emergência do ACNUR. Também recebi quatro toneladas de carvão.
Eu sonho em estar de volta na minha própria casa. E dormir na minha cama de camisola. Nós estamos dormindo em nossas roupas há tantos anos. Quando eles começam a bombardear, você imediatamente corre para o porão – não há tempo para se vestir.
Espero que a luta pare e meus filhos voltem para casa. O meu neto tem apenas dois anos, mas ele tem muitos problemas de saúde causados por estresse e medo. Ele não pode olhar para fogos de artifício porque tem medo de que seja um bombardeio.
Eu espero muito que um dia eles voltem.
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Vladyslav, 64
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Sou de Avdiivka, em Donetsk. Minha esposa morreu anos atrás e minhas duas filhas vivem em Crimeia com seus filhos. Muitas pessoas fugiram da nossa cidade.
Depois que minha casa foi bombardeada em 2015, me mudei para o porão porque o telhado e grande parte do interior foi destruído. Os vizinhos ficaram comigo. À noite, você podia ouvir os bombardeios e tubos de gás explodindo. Lembro-me de cortar árvores no jardim para me aquecer.
Não havia pão, luz ou gás. Nós comíamos batatas que plantamos no verão e, se alguém saísse, perguntávamos para onde estavam indo, para saber onde encontrá-las se fossem mortas.
Agora não posso ficar sozinho. Estou com medo. Sou grato aos meus vizinhos – durante as tardes vou à casa deles e me aqueço. Os preços do carvão estão altos e eu quase não como no verão para poder comprar carvão para o inverno. Uma doação em dinheiro do ACNUR ajudará a pagar pela eletricidade. Eu não posso pagar com a minha pensão, que é apenas 1900 UAH (cerca de 67 dólares ou 250 reais) por mês.
Sinto muita falta das minhas filhas. Infelizmente, há problemas com as linhas telefônicas na minha rua, então não consigo ligar para elas há cerca de um mês.
Eu quero paz. Não quero que as pessoas morram de fome e congelem. Não quero que as crianças ouçam explosões. Eu tenho esperanças de que a paz finalmente chegará.
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Olena, 23
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Eu moro na aldeia de Majorsk, em Donetsk, com minha filha Yelyzaveta, que tem sete meses de idade.
Me mudei para cá depois que minha mãe morreu em 2017. Eu estava muito depressiva. Não queria viver, então quando uma amiga minha me convidou para se juntar a ela, fiquei feliz em aceitar o convite.
Mas esse tem sido um inverno difícil. Tendo me mudado para perto da linha de contato com uma criança pequena em meus braços, sinto o peso do que está acontecendo.
Não há aquecimento central no meu prédio por causa do conflito, então fiquei muito feliz quando o ACNUR e a Proliska, ONG parceira, me trouxeram um fogão. O mais importante é aquecer. Outras organizações também ajudam. É difícil quando você tem um filho.
Espero que possamos nos mudar para outro lugar mais seguro do que o que estamos agora. Não há hospital ou farmácia por perto, e eu sempre me preocupo com quão rápido a ambulância chegaria se algo acontecesse.
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Nadiya, 59
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Você não pode imaginar o que vivemos desde o começo do conflito.
Pelos primeiros dois anos, nós vivemos na aldeia Zhovanka, bem perto da linha de contato, e fomos bombardeados quase todos os dias. A casa foi danificada e nossos cães foram mortos. Nós não podíamos nem andar em nenhum lugar por causa das minas terrestres.
Era especialmente difícil no inverno. As janelas estavam quebradas e lutamos para manter nossa casa aquecida. Quando chovia nosso telhado vazava e não havia eletricidade na maior parte do tempo. Todos estávamos com medo, mas não tínhamos para onde ir.
Em 2016, graças à ONG Proliska, pudemos nos mudar para um lugar mais seguro em Chasiv Yar. Eles foram a primeira organização a nos apoiar e ficamos muito gratos. Eles traziam comida e roupas quentes, carvão e remédios.
Juntos, meu marido e eu criamos 15 filhos adotivos e nossa própria filha. A maioria das nossas crianças tem necessidades especiais. Alguns deles cresceram e começaram suas próprias famílias.
Recentemente, fui a um concerto. Enquanto o público aproveitava, comecei a chorar. A vida é tão injusta! Algumas pessoas têm a chance de viver feliz, enquanto outras são privadas de serviços básicos em suas aldeias ao longo da linha de contato.
Espero que o conflito termine em breve. Os soldados irão para casa e se reunirão com suas famílias, e as pessoas aqui no leste voltarão à vida normal e pacífica.