Estudante de Zaatari ganha destaque apesar de provações da vida do campo
Estudante de Zaatari ganha destaque apesar de provações da vida do campo
Campo de refugiados Zaatari, Jordânia, 31 de julho de 2015 (ACNUR) – Meses de estudo até tarde da noite e sob a luz de uma lanterna finalmente valeram a pena para uma estudante síria que vive no campo de refugiados de Zaatari, que acaba de completar três anos. A estudante atingiu a maior nota em sua faculdade, numa universidade local da Jordânia.
Alaa, 19 anos, acabou de completar o primeiro ano de seu curso de Línguas Árabe e Literatura na Universidade al-Bayt em Mafraq, que fica a uma curta viagem do campo de refugiados. Além de terminar no topo de seu departamento no final dos exames anuais, ela também ganhou a segunda maior nota neste ano acadêmico.
Sua conquista é ainda mais marcante devido aos obstáculos que ela enfrentou. Alaa e sua família mudaram para o campo de refugiados em janeiro de 2013 depois de sua vila na província síria de Dara’a ter sido destruída. Neste novo cenário, ela tinha que estudar ao ar livre em temperaturas altas, sofrendo com insolações. Outras vezes, estudava noite adentro, com apenas uma lanterna para iluminar seus livros.
A presença de Alaa na universidade é financiada por meio da bolsa de estudos do programa ACNUR DAFI, que cobre sua mensalidade e taxas de inscrições, gastos com transporte, livros e demais materiais. Ela disse que receber a bolsa foi momento mais feliz de sua vida.
“Eu me sinto bem sucedida, ao saber que meus esforços não foram em vão”, diz Alaa. “Todos os dias que eu vou à universidade e eu estou feliz. Saio do campo e vejo árvores e cores ao invés de ver somente as cores do deserto”.
Em julho de 2015, 59 estudantes sírios estavam recebendo a bolsa de estudos DAFI na Jordânia. Devido ao déficit no orçamento o ano acadêmico de 2015/16, o numero de bolsas de estudos cairão para 10. Com a demanda ultrapassando largamente o número de bolsas de estudo disponíveis, muitos jovens refugiados brilhantes arriscam perder a oportunidade de cursar o Ensino Superior.
Um destes alunos é a irmã mais nova de Alaa, Sondos. A jovem de 17 anos está esperando pelos resultados do Ensino Médio, e espera alcançar as notas necessárias para entrar na universidade. Mas devido ao orçamento limitado, apenas um aluno por família é qualificado para o programa DAFI, o que significa que ela terá que encontrar uma alternativa para seguir sua irmã rumo à educação superior.
“Alaa está pronta para desistir de sua bolsa para que sua irmã possa estudar, mas nós falamos a ela que nós não queremos isso”, explicou o gerente do campo de refugiados Zaatari, Hovig Etyemezian. “Ela quer estudar medicina, e nós estamos comprometidos a encontrar uma bolsa para Sondos, e para muitos outros merecedores estudantes como ela”, completou o gerente.
A história de Alaa salienta a natureza diferente dos desafios enfrentados pelos moradores do campo de Zaatari e pelas organizações humanitárias que trabalham lá, três anos após a inauguração do campo ao norte do deserto da Jordânia, para abrigar aqueles que fugiam da brutal guerra civil síria.
Muitos dos 81,5 mil moradores deste campo têm morado ali por três anos, com pouca perspectiva de retorno seguro para sua terra natal. Com problemas com a infraestrutura de longa duração como abrigos, eletricidade e água (agora resolvidos, em sua maioria), a atenção está se voltando para os desafios da permanência a longo prazo, incluindo emprego, treinamento de habilidades e educação.
Mais da metade dos moradores de Zaatari é foramda por crianças, e um terço delas não está frequentando a escola. Dos 9.500 jovens no campo com idade entre 19 e 24 anos, 5,2 % começaram a universidade, mas tiveram que deixar devido ao conflito, enquanto apenas 1,6% se formou com sucesso.
A inteligência evidente de Alaa e sua determinação significa que ela é uma dos poucos a virar o jogo. Mas como parte de uma geração de refugiados sírios que corre o risco de perder o ensino médio e superior, ela teme o que isso significará para o futuro de seu país.
“Educação é o primeiro bloco para se construir sociedade forte, e sem isso lá não existirão médicos, professores ou engenheiros para ajudar a reconstruir a Síria” disse Alaa.
“Enquanto a crise se arrasta eu não sei por quanto tempo a comunidade internacional poderá continuar a manter este enorme número de refugiados com comida e abrigo. Porém se pelo menos nós pudermos obter uma educação, temos a chance de sermos autossuficientes e garantir nosso futuro”.