Exposição fotográfica “Vidas Refugiadas” celebra no Brasil o Dia Internacional da Mulher
Exposição fotográfica “Vidas Refugiadas” celebra no Brasil o Dia Internacional da Mulher
São Paulo, 09 de março de 2016 (ACNUR) – Mulheres refugiadas como protagonistas de suas histórias. Essa é a proposta do impactante projeto fotográfico “Vidas Refugiadas”, aberto na última segunda-feira, em São Paulo, com o apoio da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).
A proposta não está apenas representada pelas imagens, e busca também servir como motivação, como um projeto de vida. Foi assim que a idealizadora do projeto, Gabriela Ferraz, definiu o eixo central do projeto, que busca pautar a questão do refúgio desde uma perspectiva de gênero.
Sete mulheres refugiadas de diferentes nacionalidades que vivem no Brasil foram fotografadas por Vitor Moriyama para trazer um rosto feminino à atual situação dos refugiados. Hoje, 30% dos cerca de 8.400 refugiados no país são mulheres, e o projeto quer alertar para a necessidade de que políticas públicas sejam estabelecidas com base nesta realidade.
Uma das mulheres fotografadas pelo projeto “Vidas Refugiadas” é a nigeriana Nkechinyere Jonathan, professora de inglês, 44 anos, casada, mãe de quatro filhos e solicitante de refúgio no Brasil desde 2014. Ela veio para o país devido às perseguições do Boko Haram. Após o grupo invadir a região onde vivia, na Nigéria, a educação de meninas passou a ser proibida, mais de 200 foram sequestradas e as escolas locais tiveram que ser fechadas.
Mesmo assim, Jonathan continuou exercendo sua profissão dentro de uma igreja, por acreditar na importância da educação na construção da consciência política e no enfrentamento ao terrorismo. Considerada uma inimiga da nova ordem estabelecida, passou a ser perseguida e foi forçada a deixar seu país em busca de proteção. Das outras quinze professoras que trabalhavam com Jonathan, apenas cinco sobreviveram às atrocidades cometidas pelo grupo.
Na abertura da exposição, Jonathan participou de um debate com cerca de 200 pessoas, entre elas outros homens e mulheres refugiadas que vivem em São Paulo, representantes de ONGs ligadas à causa do refúgio, e o secretário dos Direitos Humanos e Cidadania do município de São Paulo, Eduardo Suplicy.
Durante o debate, Jonathan disse estar representando todas as mulheres refugiadas e ressaltou que um dos maiores desafios enfrentados por esta população é o domínio do novo idioma local. Destacou ainda que as condições psicológicas estão diretamente relacionadas à capacidade de aprendizagem deste idioma. “Quando não estamos estáveis psicologicamente, não conseguimos compreender nada do que nos é ensinado”, disse ela.
A nigeriana reivindicou também que mais oportunidades de trabalho sejam dadas para as pessoas que ainda não têm fluência na língua portuguesa. “Muitas vezes as pessoas são muito qualificadas na área em que trabalham e acabam não tendo a oportunidade de colocar isso em prática por causa da barreira do idioma”, destacou. Ela aproveitou a oportunidade para agradecer o apoio dos das organizações que oferecem assistência aos refugiados e que tornam possível a oportunidade de um recomeço. “Sim, é possível recomeçar”, concluiu ela.
Também participaram do debate o Representante do ACNUR no Brasil, Agni Castro-Pita e o Secretário Nacional de Justiça e Presidente do Comitê Nacional para Refugiados (CONARE), Beto Vasconcelos – além da idealizadora da exposição “Vidas Refugiadas”, Gabriela Ferraz.
Para o representante do ACNUR, as mulheres refugiadas conseguem manter os vínculos familiares apesar de toda tragédia que viveram, permitindo que as vidas se reconstruam. “As fotografias aqui expostas são muito mais do que imagens. São histórias de vida e mostram que a esperança prevalece, apesar do sofrimento, a esperança prevalece”, completou.
O Secretário Nacional de Justiça e Presidente do CONARE, Beto Vasconcelos reconheceu que “apesar de toda a vulnerabilidade comum às mulheres refugiadas, é muito tocante ver a força e a capacidade de reconstrução e condução de sua família e principalmente de seu próprio futuro”. Ele destacou que políticas públicas voltadas aos mais vulneráveis são as mais necessárias e as mais urgentes.
Por sua vez, Gabriela Ferraz afirmou que espera desdobramentos positivos no projeto. “A ideia é que a partir de hoje a gente crie um espaço de manifestação, de protagonismo da mulher, para que a gente consiga trazer esse debate sempre à tona”.
A exposição na FNAC em São Paulo segue até o final deste mês, podendo chegar a outras capitais do Brasil. Para saber mais sobre o projeto acesse www.vidasrefugiadas.com.br