Feira em Viena premia ideias para a integração de refugiados
Feira em Viena premia ideias para a integração de refugiados
VIENA, Áustria, 08 de dezembro de 2016 (ACNUR) – Ali Asgar Tajik faz roupas desde que tinha 11 anos de idade, por esse motivo, não foi difícil para ele fazer um casaco moderno para o seu colega austríaco, Jimmy Nagy.
Ali costurou algo mais sofisticado para a sua esposa, Zara Tadjek: um vestido preto plissado, que leva uma blusa de seda por baixo. Agora eles têm motivo para sair e celebrar já que a Kattunfabrikm, um empreendimento têxtil no qual estão envolvidos, ganhou um prêmio em uma feira em Viena voltado a encontrar boas ideias para integrar refugiados à sociedade austríaca.
A Ideegration (ideias para integração), uma iniciativa para empresas internacionais comprometidas com responsabilidade social, avaliou 104 projetos antes de escolher 15 finalistas para a feira, que foi realizada em uma antiga padaria no dia 10 de novembro. Cada um dos cinco ganhadores levou para casa 10 mil euros para ajudar a desenvolver seus negócios. “Mesmo que eles não ganhem, os contatos que estabelecerem já serão vantajosos”, disse Christoph Pinter, Chefe do ACNUR na Áustria, que foi um dos juízes.
“Mesmo que eles não ganhem, os contatos que estabelecerem já serão vantajosos.”
Entre os projetos, estão um café chamado Connection, uma rede de apoio aos vizinhos chamado Nachbarinnen, e TheaterFlucht, uma companhia de dança e teatro. Muitas das iniciativas são no campo da educação.
Ideegration é uma iniciativa da Accenture, Ashoka e da Cruz Vermelha, implementada em parceria com o ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, a Erste Foundation, Hil Foundation e o Sinnstifter, em colaboração com mais de 30 organizações na Áustria.
Kemal Köse, cujo os avós migraram da Turquia para a Áustria, é um dos fundadores do Georg Danzer Schulhaus, um grupo de quatro internatos para crianças refugiadas desacompanhadas. “A maioria dos meninos são do Afeganistão”, ele disse. “Depois de tudo que eles passaram, eu tento fazer com que eles foquem em aspectos positivos. Eu digo para eles ‘você fez um excelente trabalho, você sobreviveu. Agora é hora de seguir em frente’”.
Köse acrescentou: “Tenho muita sorte de ter nascido em Viena. Nós temos tudo que precisamos para viver bem, por isso, se posso retribuir de alguma forma, porque não?”.
No outro extremo do espectro da educação está o More Than One Perspective, um empreendimento que oferece 100 horas de curso intensivo de alemão e outros treinamentos para ajudar os refugiados que já têm qualificação a conseguir empregos dentro de suas áreas de atuação.
O sírio Eyad Jarach está frequentando o curso e fez uma entrevista para um posto que corresponde à sua área que é altamente especializada. “Sou engenheiro biomédico”, ele disse. "Quando eu vivia na Síria, eu era gerente de projetos e ensinava outras pessoas a operarem equipamentos de endoscopia”.
Julian Ritcher, representando o More Than One Perspective, acrescentou que era uma "situação vantajosa tanto para os refugiados quanto para a Áustria", se alguém como Jarach possa voltar a sua profissão.
O projeto de educação vencedor foi o Prosa – Projekt Schule fur Alle!/HOME, que oferece educação básica para refugiados com lacunas em suas escolaridades. Abdiwahab Adan, que veio da Somália para a Austria há quatro anos, tem se saído bem no programa. “Agora estou estudando administração de empresas e dando aulas para outras pessoas”, ele disse.
“Nós temos tudo que precisamos para viver bem, por isso, se posso retribuir de alguma forma, porque não?”
Outros projetos incluem o heidenspass Basisbildung, que trabalham com o processo de upcycling, que consiste em reutilizar um material que se tornaria lixo, aproveitando suas propriedades originais; o ZIAG, que promove a integração em cidades pequenas; e a Fremde werden Freude (Estranhos se tornam amigos), oferecendo atividades esportivas e xadrez pelo Facebook.
Um projeto chamado refugeeswork é uma jovem start up que tem o objetivo de conseguir emprego para as pessoas que chegaram recentemente.
Conclusio, ofereceu um dos cinco troféus às inciativas com o objetivo de ajudar os refugiados que não têm permissão para trabalhar antes de terem seus pedidos de refúgio concedidos.
“Eles ficam muito deprimidos, tristes e isso não é saudável”, disse Ingrid Sitter, uma enfermeira que veio da Alta Áustria para representar a Conclusio.
Para a Conclusio, a solução não é apenas encorajar os refugiados a se voluntariarem, mas também oferecer a eles cartões que registrem trabalhos não remunerados que tenham realizado, como por exemplo serviços de jardinagem ou manutenção geral.
Em troca, os refugiados podem ter aulas de alemão e outras formas de apoio da comunidade. Assim, eles elaboram um CV que pode ajuda-los quando surgir a oportunidade de um emprego.
Muitas vezes analfabetos em suas próprias línguas, alguns refugiados têm somente a perspectiva de trabalhos manuais. “Eu os levo para a floresta”, disse Sitter. “Vamos colher frutas. Eu tento ajuda-los a enxergar as vantagens de um futuro rural. Porque se eles forem para Viena, apenas 3 entre 20 conseguirão empregos, enquanto que nos vilarejos, pode ser que esse número suba para 12 a cada 20”.
Além de educação e trabalho, refugiados precisam de moradia acessível, que é o aspecto abordado pelo Dageko, um dos projetos ganhadores. Conduzido pelos gestores imobiliários Dagmar e Georg Kotzmuth, ele encontra pequenos apartamentos por preços razoáveis em Graz e oferece apoio caso eles tenham dificuldades para pagar os primeiros meses de aluguel.
Emad Dyab, da Síria, é um dos locatários de dageko. “Mal posso acreditar que estou aqui agora, e estudando na Technical University”, ele disse. “Há um ano, minha situação estava péssima, minha vida estava em ruínas. Mas Dagmar e Georg me ajudaram. Eles me trataram com humanidade. Graças a Deus estou recuperando a minha vida agora”.
“Há um ano, minha situação estava péssima, minha vida estava em ruínas.”
Em seu modo, o projeto Kattunfabrik ajuda a remendar uma vida que havia sido despedaçada. Alguns dos refugiados trouxeram com eles experiência com corte e costura por terem trabalhado em fábrica têxteis em seus países de origem ou na Turquia.
Ali Asgar Tajik, 24 anos, e Zara Tdjek, 25 anos, são de Herat, no Afeganistão e encontraram novos propósitos desde que formaram a parceria com os estilistas austríacos Jimmy Nagy e Jasmin Bauer. Ali, Jimmy e Jasmin se concentram nas roupas enquanto Zara, que está estudando tecnologia da informação, ajuda a traduzir para os 15 aprendizes que trabalham por lá.
Até agora, as roupas que produziram foram vendidas e o valor revertido para doações. Mas Kattunfabrik tem planos mais ambiciosos para reanimar a indústria têxtil na Europa. Entretanto, afim de fazer o negócio crescer, eles precisam estabelecer sua própria marca.
“Estamos um pouco sobrecarregados”, disse Jimmy Nagy após a premiação, acrescentando que o valor que receberam os ajudaria a realizar alguns de seus planos. Assim, o sonho da marca Kattunfabrik se tornou uma real possibilidade.