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Foco nas pessoas é ponto central da cobertura humanitária, debatem jornalistas premiados

Comunicados à imprensa

Foco nas pessoas é ponto central da cobertura humanitária, debatem jornalistas premiados

12 Agosto 2022
Jornalistas premiados por reportagens da Folha de S. Paulo e TV Bandeirantes, Rogério Pagnan e Yan Boechat, participam de roda de conversa na quinta edição do Prêmio CICV de Cobertura Humanitária, realizado no Reserva Cultural em São Paulo © Reinaldo Canato / CICV.
São Paulo, 12 de agosto de 2022 – Os vencedores do Prêmio CICV de Cobertura Humanitária apontaram desafios da cobertura humanitária de contextos afetados pela violência armada no Brasil e no mundo. Preservar a sensibilidade e não expor pessoas impactas pela violência foram alguns dos pontos centrais discutidos. Os jornalistas Yan Boechat, da TV Bandeirantes, e Rogério Pagnan, da Folha de S.Paulo, participaram nesta quinta-feira (11) da cerimônia de entrega da premiação promovida pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), em parceria com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).

Integrante da equipe vencedora das categorias CICV Humanitária Internacional e ACNUR de Proteção a Pessoas Refugiadas e Apatridia, Yan Boechat destacou a importância de manter os olhos abertos para contar histórias humanas. "Temos que ter cuidado para não se endurecer demais, não se tornar frio e não perder a possibilidade e sensibilidade de perceber inclusive o que é notícia", afirmou. As reportagens "Guerra na Etiópia" e "Rota de fuga", que produziu na Etiópia e no Sudão, mostraram os impactos humanitários do conflito armado na região do Tigray.

Para o jornalista, um dos grandes desafios é criar empatia entre o público e as pessoas impactadas pela violência. "Mesmo na imprensa, no jornalismo, temos dificuldade de criar empatia com quem mora a poucos metros da nossa casa. Tem uma separação, uma divisão sectária, étnica, entre a pobreza, a negritude", afirmou.

Boechat também ressaltou que é preciso entender as relações de poder em situações de violência e seus efeitos para diferentes grupos de pessoas. "Temos que entender quem está no poder e quem é prejudicado, entender quem oprime e quem é oprimido. Temos que estar ao lado do oprimido e tentar escapar de tantas armadilhais para não ser um instrumento do opressor", completou.

Um dos repórteres que assina o especial "Inocentes Presos", da Folha, Pagnan destacou a importância de preservar a dignidade de pessoas em situação de vulnerabilidade. "Uma das nossas maiores preocupações era não colocar em risco pessoas que já estavam prejudicadas. Sempre que íamos abordar uma pessoa, explicávamos a dimensão, a proporção [da reportagem] e perguntávamos se ela estava de acordo com isso. Quando você parte para o sensacionalismo você pode prejudicar a pessoa mais frágil dessa história", afirmou.

A equipe do jornal levantou 100 casos de pessoas presas injustamente. A apuração incluiu um processo de checagem dos processos. "Tínhamos certeza de que não havia prova [para condenar as pessoas] e de que havia reconhecimento judicial [da inocência], que não havia dúvidas", contou Pagnan.

Umas das histórias apuradas teve um final marcante para os repórteres. "Um dos prêmios que recebemos ao longo do processo [de produção da reportagem] foi soltar mais um preso pelo nosso trabalho. Quando você vê a pessoa saindo da prisão, abraçando a família, a gente fica muito feliz, embora saiba que esse é mais um dentre tantos casos no sistema prisional", disse Pagnan.

Em sua quinta edição, o Prêmio CICV de Cobertura Humanitária visa fomentar a cobertura jornalística centrada nas pessoas que vivem em contextos impactos pela violência armada ou por conflitos armados. Foram quase 100 inscrições, dentre eles trabalhos de mídia impressa, televisiva, radiofônica e multimídia. As reportagens vencedoras abordaram temas diversos, como as consequências dos conflitos armados, passando por questões de migração, tráfico humano, pessoas privadas de liberdade e pessoas desaparecidas.

Chefe de Operações da Delegação do CICV para o Brasil e países do Cone Sul, Laurent Wildhaber, destacou o papel do jornalismo na compreensão do mundo. "Mais do que testemunhar fatos e trazer informações úteis para tomadas de decisão, a cobertura jornalística tem um papel maior: de fazer investigação própria, de questionar e de nos aproximar com outras realidades. Todas essas facetas são importantes, mas para nós, enquanto organização humanitária, colocar pessoas no centro da cobertura é crucial. E é isso que buscamos fomentar com este prêmio e com outras iniciativas de incentivo a esse tipo de jornalismo no Brasil", afirmou.

Presente desde a primeira edição do prêmio, a categoria CICV Humanitária Internacional se refere a reportagens que tratam da aplicação das normas do Direito Internacional Humanitário (DIH) ou do impacto humano dos conflitos armados ou da violência armada em cenário internacional.

Já a categoria ACNUR sobre Proteção a Pessoas Refugiadas e Apatridia, em parceria com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), é focada em temas relacionados ao deslocamento forçado de pessoas, motivado por guerras, conflitos e perseguições ou por efeitos das mudanças climáticas.

Oficial de Proteção do ACNUR, Silvia Sander lembrou que jornalistas estão entre as primeiras pessoas que chegam ao local de uma emergência humanitária, cobrindo tanto a emergência como também a resposta àquela situação. "Ao cobrir uma crise humanitária a mídia tem o poder de a tornar visível, chamando atenção da opinião pública", afirmou. "As palavras e imagens são muito poderosas e eficientes para conectar a audiência com as pessoas afetadas pela violência e para contribuir para que suas vidas melhorem e elas tenham oportunidade de recomeçar onde quer que estejam", completou.

Novidade nesta edição do prêmio, a categoria CICV Humanitária Nacional reconhece coberturas sobre temas humanitários que impactam a população brasileira, sobretudo em contextos impactados pela violência armada.

A cerimônia de entrega do prêmio ocorreu no espaço Reserva Cultural, em São Paulo, com uma roda de conversa com os vencedores, em evento fechado para convidados.

Vencedores do Prêmio CICV de Cobertura Humanitária 2022

CICV Humanitária Internacional
Reportagem vencedora: Guerra na Etiópia (TV Bandeirantes)
Yan Boechat, Beatriz Luz Corrêa, Fernando Mattar, Gabriela Tomita

Menção honrosa: A rota do tráfico humano na fronteira da Amazônia: rodovias que separam o sonho do pesadelo (Metrópoles)
Mirelle Pinheiro

CICV Humanitária Nacional
Reportagem vencedora:
 Inocentes Presos (Folha de S. Paulo)
Artur Rodrigues, Rogério Pagnan, Rubens Valente Soares, Henrique Santana, Karime Xavier, Luciano Veronezi, Rogerio Andriotti Luiz, Thiago Almeida

Menção honrosa: Mortes Invisíveis (TAB UOL)
Amanda Rossi, Saulo Pereira Guimarães, José Dacau, Flávio Costa, Yasmin Ayumi, Lúcia Valentim Rodrigues, Olívia Fraga, Gisele Pungan, René Cardillo, Lucas Lima, Douglas Lambert

ACNUR de Proteção a Pessoas Refugiadas e Apatridia
1° lugar: Rota de Fuga (TV Bandeirantes)
Yan Boechat, Adriana Alves dos Santos, Simone Veloso, Sérgio Gabriel e Fernando Mattar
2° lugar: "Sei quando um país está em crise" (Piauí)
Matheus Lucas Vieira
3° lugar: Cercado por talibãs, refugiado tenta resgatar filhos no Afeganistão e trazê-los ao Brasil - reportagem 1 e reportagem 2 - (GloboNews)
Guilherme Balza

Nota aos editores:
• Acesse aqui as fotos da cerimônia de entrega do Prêmio CICV de Cobertura Humanitária. O uso das imagens é gratuito, mas solicitamos que seja dado o crédito para o fotógrafo Reinaldo Canato/CICV.
• Leia aqui a íntegra do discurso do chefe de Operações do CICV, Laurent Wildhaber, na cerimônia de premiação.

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