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“Futebol sem Fronteiras” movimenta abrigo para refugiados e migrantes da Venezuela em Boa Vista

Comunicados à imprensa

“Futebol sem Fronteiras” movimenta abrigo para refugiados e migrantes da Venezuela em Boa Vista

24 Junho 2021
A atividade envolve o futebol com direitos humanos para crianças e adolescentes refugiadas e migrantes. © ACNUR/Camila Ignacio Geraldo
Boa Vista, 22 de junho de 2021 – Num evento esportivo com crianças e adolescentes da Venezuela que marcou o Dia Mundial do Refugiado no abrigo Rondon 1, em Boa Vista (capital de Roraima), uma grande família torcia pelos gêmeos Gabriel e Geraldo, de 10 anos, que brilhavam na quadra pelo talento com a bola e respeito aos colegas. Os pais, irmãos e avós, davam força aos meninos.

“Nossa família não é diferente porque somos refugiados. Os gêmeos gostam de esportes e torcemos porque queremos que eles realizem seus sonhos, como toda família”, diz o pai Bladimir Pantoja, de 43 anos.

Os jogos, realizados no dia 20 de junho, deram início ao projeto esportivo “Fútbol sin Fronteras” e celebraram a coragem e o talento no esporte das crianças e adolescentes venezuelanas acolhidas no Brasil. Os gêmeos Gabriel e Geraldo jogaram em times opostos, ambos compostos por meninos e meninas. Com base na cultura de paz e no futebol com valores, o “Fútbol sin Fronteras” ensina que quem apresenta mais respeito aos colegas e sabe solucionar conflitos de forma não-violenta é aquele com mais sucesso no esporte.

Entre corridas e passes de bola, Gabriel, Geraldo e os demais participantes fizeram dinâmicas em que o coletivo é sempre mais importante. Antes do futebol, participaram de cabo de guerra e corridas de mãos dadas para incentivar a criação de laços e a cooperação dentro e fora do campo. A resolução pacífica de conflitos e a não-violência estão no centro das atividades esportivas realizadas no projeto.

O “Fútbol sin Fronteras”, que é desenvolvido pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e pela organização parceira Associação Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI Brasil), terá atividades em outros cinco abrigos da Operação Acolhida – resposta governamental ao fluxo de pessoas refugiadas e migrantes da Venezuela para o Brasil. O projeto foi realizado com contribuições do Escritório de População, Refugiados e Migração (PRM) do Departamento de Estado dos Estados Unidos, cujas doações apoiam os abrigos de Roraima.

O torneio de futebol ocorrido no Dia Mundial do Refugiado reuniu três times, com regras muito diferentes dos jogos tradicionais. As partidas não tiveram árbitros e cada gol rendia ao time uma estrela. A cada três faltas, uma estrela poderia ser anulada. Palavrões, agressões e tratamentos desrespeitosos rendiam também a anulação dos gols. Em alguns momentos das partidas, somente as meninas poderiam chutar a gol.

Tayla Pereira, madrinha do projeto e zagueira do Santos Futebol Clube e da Seleção Brasileira de futebol feminino, abriu a celebração virtualmente, por meio de vídeo produzido especialmente para o evento. “No esporte coletivo se convive com muitas pessoas, todas lutando pelo mesmo objetivo. Se você não tiver respeito com o próximo, isso compromete todo o time. O futebol traz valores para a vida. Uma boa sorte a todas as crianças e adolescentes que irão jogar no Dia Mundial do Refugiado”, desejou a atleta.

Os gêmeos Geraldo e Gabriel com seus pais, avós e irmãos. © ACNUR/Camila Ignacio Geraldo

“O esporte faz uma diferença positiva na vida das pessoas que tiveram que abandonar suas casas. Acreditamos no esporte como ferramenta para criar entornos seguros e interromper ciclos de violência, além de ser um espaço onde cada pessoa refugiada e migrante pode descobrir o seu potencial”, diz Oscar Sanchez Piñeiro, chefe de escritório do ACNUR em Boa Vista.

O evento esportivo do Dia Mundial do Refugiado envolveu cerca de 60 crianças e adolescentes. Lexandra, de 15 anos, participa do projeto porque tem o sonho de se tornar uma jogadora de futebol profissional. “Queremos parar esse machismo, porque mulher também pode jogar e brincar, assim como os meninos”, diz. Ela e outros adolescentes, além de disputarem jogos tradicionais, também fizeram brincadeiras de cabo de guerra, corrida e pega-pega.

Meninos e meninas precisam alcançar juntos a linha de chegada para pontuarem para seu time. © ACNUR/Camila Ignacio Geraldo

Esporte como ferramenta de proteção - As crianças e adolescentes vivenciam o deslocamento forçado passam por situações de estresse, como a necessidade de se ajustarem a uma nova cultura e a interrupção de suas atividades educacionais. Muitas delas vivenciam situações de violência durante o deslocamento forçado.

As atividades esportivas do “Fútbol sin Fronteras” serão desenvolvidas com os jovens refugiados e migrantes para interromper ciclos de violência que são reproduzidos por crianças e adolescentes refugiadas e migrantes nos abrigos. No projeto, a cultura de paz e o respeito são tão importantes quanto o talento e o esforço físico do esporte. “Este é um instrumento de reconstrução de valores e normas que foram violados no difícil trajeto até o acolhimento”, diz Oscar Sanchez Piñeiro.

“Queremos promover o aumento da autoestima e a união desses meninos e meninas. Nosso objetivo é que eles saibam que cada um tem um papel importante, no esporte e na sociedade. Que sejam encorajados a apresentarem opiniões e a falarem sobre assuntos que envolvam seus direitos de forma pacífica”, diz Pedro Pacheco, Assistente de Proteção do ACNUR em Boa Vista.

Uma das principais estratégias para isso é o fortalecimento das estratégias de comunicação, o reconhecimento das diferenças e a promoção da expressão saudável das emoções. “Os meninos e meninas escolheram, inclusive, o nome do projeto: ‘Fútbol sin Fronteras’. Aqui eles têm voz para entender, por meio do futebol, temas como direitos humanos, inclusão e igualdade de gênero. Essa é uma forma simples e eficaz de trazer temáticas importantes, sempre com diversão”, conta o instrutor do projeto, Leonardo Cardoso Coelho, da AVSI Brasil.

Para poder dar às crianças e adolescentes o protagonismo, o nome do projeto foi escolhido por votação, na qual mais de 150 jovens tiveram a oportunidade de propor títulos e votar nos favoritos. As eleições aconteceram em cinco abrigos e “Fútbol sin Fronteras” foi o vitorioso, com o total de 78 votos.

“Foi muito divertido. Eu joguei no meio de campo, não fiz nenhum gol, mas não tive faltas. Isso ajudou o time”, disse um dos gêmeos, Geraldo. “Tudo que eu puder fazer para ensinar, abraçar e proteger meus filhos, vou fazer. Trazê-los sempre aos treinos do ‘Fútbol sin Fronteras’ é uma forma de fazer isso”, completou o pai, Bladimir.