Gastronomia traz novas oportunidades para família síria em Portugal
Gastronomia traz novas oportunidades para família síria em Portugal
LISBOA, Portugal, 04 de maio de 2017 - Em um subúrbio nos arredores de Lisboa, Fátima e suas duas filhas, Rana e Reem, estão se arrumando para um jantar. Hoje à noite, elas convidarão amigos portugueses para que conheçam pratos sírios caseiros.
Elas têm cinco horas para terminar a variedade de pratos que serão servidos e, na cozinha, estão em intensa atividade. Rana, de 28 anos, enrola pequenos pacotes de arroz com folhas de repolho para fazer o waraq anab (folhas de videira), enquanto Reem, de 27 anos, está formando pequenas bolinhas de carne, prontas para serem recheadas e transformadas em quibe. Fátima, a matriarca da família, está cortando grandes punhados de salsinha e hortelã para obter a textura certa para outra especialidade síria, a salada de tabule apimentada.
Enquanto cozinham, Rafat, o filho de Fátima de 21 anos, entra para verificar o progresso. Embora ele não esteja cozinhando hoje, Rafat também considera-se chef, de certa forma. Em Damasco, antes da guerra, trabalhava no restaurante da família, Zayn.
"Era um restaurante de kebab e frango e era eu que embalava os sanduíches, cortava os picles, os pepinos e os tomates", explica. "Tinha que ser rápido, pois era eu que entregava os sanduíches aos fregueses depois."
Aqueles dias parecem de outra vida para a família e recordá-los ainda dói. Em 2012, apenas um ano após o começo do conflito, eles foram forçados a deixar tudo atrás e sair de casa, em razão dos confrontos entre as forças armadas sírias e a oposição. Eles buscaram proteção no acampamento de Yarmouk, com o objetivo de esperar até que fosse seguro retornar. Mas quando o pai de Rafat visitou a casa, para verificar se ela não havia sido destruída, o mundo da família desmoronou. Seu corpo foi encontrado mais tarde em um edifício próximo, junto a outros 149.
"Os corpos foram deixados espalhados em todo o bairro", explica Rafat. "Eles encontraram pessoas até nos banheiros da mesquita. Você não pode imaginar as cenas. Até hoje eu ainda não entendo por que o mataram".