Homenagem a Sérgio Vieira de Mello reúne no Rio autoridades e trabalhadores humanitários
Homenagem a Sérgio Vieira de Mello reúne no Rio autoridades e trabalhadores humanitários
RIO DE JANEIRO, 19 de agosto de 2013 (ACNUR) – Autoridades e trabalhadores humanitários de diversos pontos do mundo se reuniram hoje no Rio de Janeiro para homenagear a vida e o legado do brasileiro Sérgio Vieira de Mello, morto há 10 anos após o bombardeiro contra a sede das Nações Unidas em Bagdá, no Iraque.
A homenagem foi prestada durante o seminário “10 anos sem Sérgio Vieira de Mello”, que também celebrou o Dia Mundial da Ação Humanitária, criado pela Assembleia Geral da ONU para lembrar a memória de Vieira de Mello e dos outros 22 funcionários da organização mortos naquele atentado.
“Sérgio não demonizava o ‘outro’, tinha um profundo compromisso com o Sistema ONU e com o multilateralismo e sempre buscou o diálogo para a resolução de conflitos”, afirmou o ministro brasileiro das Relações Exteriores, António Patriota, anfitrião do seminário organizado pelo Itamaraty e pelo Sistema ONU no Brasil, em parceria com a Fundação Alexandre Gusmão.
“Aqueles que atacaram Sérgio e seus colegas violaram os princípios da humanidade e da solidariedade. Infelizmente, trabalhadores humanitários são vistos cada vez mais como alvos, e isso tem consequências graves no auxílio a pessoas que necessitam de ajuda”, ressaltou a subsecretária geral da ONU e coordenadora de ajuda humanitária, Valerie Amos, presente ao evento.
Morto aos 55 anos, Sérgio exercia em Bagdá o posto de Representante Especial do Secretário Geral da ONU para o Iraque. Ele iniciou sua carreira nas Nações Unidas como funcionário do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR), agência para qual trabalhou por 30 anos. Como funcionário do ACNUR, serviu em diversas operações ao redor do mundo (em países como Paquistão, Bangladesh, Sudão, Cipros, Moçambique e Peru) e também na sede da organização, em Genebra.
Udo Janz, diretor do escritório do ACNUR em Nova Iorque, também participou do seminário no Rio de Janeiro e lembrou algumas das características do colega com quem trabalhou nos anos 90. “Ele tinha um grande rigor acadêmico em suas análises, o que dava substância às suas intervenções. Além disso, era um trabalhador humanitário apaixonado e possuía uma postura diplomática com todos seus interlocutores”, disse.
Ele lembrou ainda o empenho de Vieira de Mello na repatriação de refugiados no Camboja. “Conseguimos repatriar cerca de 100 mil pessoas, sem nenhum incidente, em uma região instável e com muitas minas interpessoais no solo”, disse Janz.
Outra autoridade presente ao seminário foi o ex-presidente do Timor Leste e vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 1996, José Ramos Horta. Ele lembrou o papel fundamental de Vieira de Mello no processo de paz e reconstrução do seu país, a partir de 1999. “O Timor Leste foi o primeiro caso eminentemente político de que Sérgio Vieira de Mello participou e representou as Nações Unidas. Ele serviu à causa da ONU, da paz, da humanidade, por mais de 30 anos”, afirmou Ramos Horta.
Medalha – Durante o seminário, o Itamaraty distribuiu a medalha Sérgio Vieira de Mello, em reconhecimento ao trabalho humanitário de indivíduos e organizações. Entre os premiados está a diretora do Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), Rosita Milesi, cuja organização é parceira do ACNUR na proteção e assistência a refugiados e solicitantes de refúgio no Brasil. Também foi homenageado o ministro Milton Rondó, que chefia a Coordenadoria Geral de Combate à Fome (CGFome), do Itamaraty, que realiza doações às operações humanitárias do ACNUR em diversas partes do mundo.
O seminário foi encerrado com a participação do cantor e compositor brasileiro Gilberto Gil, para quem a vida e o legado de Sérgio Vieira de Mello são “um exemplo extraordinário e heroico”.
Também em homenagem a Sérgio Vieira de Mello, a CGFome anunciou ontem a criação de uma bolsa destinada a financiar a participação de jovens brasileiros em ações humanitárias ao redor do mundo. A bolsa será oferecida em parceria com o Programa de Voluntários da ONU e terá duração de um ano, com prioridade para jovens que tenham acabado de concluir seus estudos universitários.
“O Brasil, como uma das maiores economias do mundo, não pode se furtar de suas responsabilidades internacionais. E a promoção dos direitos humanos, assim como a ciência, não tem fronteiras”, afirmou Milton Rondó Filho, coordenador-geral da CGFome.
Por Luiz Fernando Godinho, do Rio de Janeiro.