II Copa dos Refugiados em São Paulo mostra futebol como forma de integração e sensibilização
II Copa dos Refugiados em São Paulo mostra futebol como forma de integração e sensibilização
São Paulo, 03 de agosto de 2015 (ACNUR) – Sorrisos, cantorias, gols e muita sede de vitória. Foi assim que começou a primeira fase da II Copa dos Refugiados, realizada neste final de semana no Centro Esportivo, Recreativo e Educativo do Trabalhador (CERET), em São Paulo. Cerca de 240 jogadores, divididos entre 18 seleções, participaram da competição em uma disputa “mata-mata”.
No próximo sábado (08 de agosto), as semifinais serão entre Nigéria X Costa do Marfim e Camarões X Guiné Bissau. No mesmo dia, será disputa que definirá o campeão do torneio.
Organizada inteiramente pelos próprios refugiados e solicitantes de refúgio que vivem em São Paulo, a Copa contou com uma grande torcida de todas as seleções, e ainda com o público que estava no CERET. Para os participantes do torneio, o evento representa não só diversão, como também uma forma de dar visibilidade à causa do refúgio e promover a integração entre os diferentes países.
A Copa é promovida pelo Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) e pela Caritas Arquidiocesana de São Paulo, com o apoio da Prefeitura de São Paulo, Colégio São Luís, Cruz Vermelha, Serviço Social do Comércio (SESC), Sindibast, UGT, Colégio Espírito Santo, Da Veiga Corretora de Seguros, Irmãs Missionárias do Espirito Santo e Paróquia Cristo Rei – Tatuapé.
“Para nós, refugiados, esta Copa é um espaço de solidariedade e de amizade. Encontramos este caminho do futebol para nos comunicarmos com os brasileiros e informá-los sobre quem são os refugiados. Não somos pessoas perigosas, deixamos uma vida inteira em um país para nos salvar. Muitos brasileiros acham que o refugiado não tem valor, que é mau, mas escolhemos esse caminho para mostrar que o refugiado também é uma pessoa comum, que gosta do futebol, sabe jogar e precisa de atenção para a sua situação”, explica um dos organizadores da Copa, o congolês Jean Katumba.
Para o nigeriano Uchen Henry, integrante da seleção campeã do ano passado, a competição é também uma forma de esquecer, ainda que temporariamente, da vida que os refugiados deixaram para trás. “É muito raro ver um encontro deste tamanho com refugiados, porque estamos sempre muito ocupados trabalhando. Então, este tipo de evento nos une e faz com que, por algumas horas, não pensemos nos nossos problemas e nas nossas famílias, que foram deixadas nos nossos países. É muito doloroso, mas não somos o tipo de pessoa que está sempre triste. Esta Copa nos une, e fico feliz só de ver estes sorrisos”, resume Uchen.
A pesquisadora Aline Pizzol, que faz parte da equipe de arbitragem desde a primeira edição da Copa, afirma que o evento dará, cada vez mais, uma maior visibilidade à causa dos refugiados. “A Copa é muito importante, porque é uma forma deles usarem um esporte que é tão popular no Brasil e tão amado no mundo para se integrar um pouco mais à nossa cultura, para se sentirem mais pertencentes ao Brasil e ainda manter essa relação intercultural entre eles, que também é muito bacana”.
Confirmando que novas amizades surgiram em campo, o camaronês Franky Tresor Bitanga conta que se sentiu especial ao participar da competição e conhecer novas culturas. “É o evento mais legal que já participei no Brasil, porque estamos aqui com camaroneses, com o pessoal da Costa do Marfim, da Angola, da Síria e do Brasil. E tem muita coisa para dividir: não é só jogar futebol, é compartilhar as diferentes culturas. Eu conheci muita gente aqui. Se não fosse pela Copa, nunca teríamos nos conhecido e nos dado tão bem”.
Apesar de tanta afinidade, os jogadores não se esquecem da competitividade, torcendo para equipes consideradas mais “fáceis” de enfrentar na próxima fase e cantando vitória ainda nas eliminatórias. “Já está escrito, nós vamos ganhar a Copa. Camarões é bom demais!” comemora Franky, enquanto Uchen sentencia. “Tenho certeza que Nigéria vai ganhar mais uma vez e levar orgulho ao nosso país”.
De fato, as seleções africanas confirmaram o favoritismo e os finalistas da última edição, Camarões e Nigéria, foram classificados para as semifinais, juntamente com Guiné Bissau e Costa do Marfim. Camarões, aliás, foi a seleção responsável pelo placar mais expressivo do campeonato até o momento, ao vencer a seleção da Síria por 8x0. “Perdemos para Camarões como o Brasil perdeu para a Alemanha”, brincou Abdulbaset Jarour, representante da seleção síria.
Sob um sol escaldante, que não deu trégua durante o final de semana, as seleções disputaram o campeonato e os refugiados e solicitantes de refúgio celebraram as diferenças numa confraternização que envolveu música, risadas e provocações. A primeira fase da II Copa dos Refugiado foi, também, um momento para refletir sobre a integração. Segundo dados do governo federal, o Brasil recebeu cerca de 12 mil pedidos de refúgio em 2014, e o maior contingente teve como destino a cidade de São Paulo. Cerca de 3.600 solicitantes foram atendidos pela Caritas Arquidiocesana de São Paulo no ano passado.
Entre os torcedores, estava a aclamadíssima “madrinha” da seleção da Serra Leoa. Christina, uma leonesa baixa e de grande atitude que prestou atenção meticulosa aos jogos, afirmou que a Copa é uma forma de agradecer por tudo o que o Brasil tem feito pelos refugiados. “Temos uma organização entre nós [leoneses] e eu sou considerada a mãe de todos os que vivem no Brasil. Cuidamos de uns aos outros como família, e o Brasil nos acolheu. Só tenho a agradecer. A Copa também é uma celebração a isso”.
Por Carla Trabazo e Luiza Bodenmüller, de São Paulo