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Indígenas colombianos buscam segurança em povoado da Amazônia

Comunicados à imprensa

Indígenas colombianos buscam segurança em povoado da Amazônia

Indígenas colombianos buscam segurança em povoado da AmazôniaLETÍCIA, Colômbia, 21 de outubro de 2008 (ACNUR) – Depois de uma viagem de 16 dias por três rios distintos, atravessando a densa selva amazônica e passando pelo território brasileiro, um pequeno grupo de indígenas Baro chegou no começo deste mês à cidade de Letícia, que fica do lado colombiano do Rio Amazonas.
21 Outubro 2008

LETÍCIA, Colômbia, 21 de outubro de 2008 (ACNUR) – Depois de uma viagem de 16 dias por três rios distintos, atravessando a densa selva amazônica e passando pelo território brasileiro, um pequeno grupo de indígenas Baro chegou no começo deste mês à cidade de Letícia, que fica do lado colombiano do Rio Amazonas.

Localizada entre as fronteiras com Peru e Brasil, Letícia é a cidade colombiana que fica mais ao sul do país. Não há estradas para entrar ou sair do povoado e os rios são as únicas vias de transporte local. Isolada do resto do país, a região tem desfrutado de uma relativa paz diante do conflito armado interno que se vive em outra partes da Colômbia.

O padre Luis Alfonso Zabala, da Igreja Católica local, recebeu os seis indígenas Baro logo após a chegada do grupo na cidade. “Algumas das crianças estavam bastante doentes e seus pais não queriam descer do barco porque não tinham nenhuma relação com este lugar e estavam assustados”, afirmou o padre à equipe do ACNUR em Letícia.

As famílias estavam em estado de choque e fugiram depois que um grupo armado irregular entrou no território onde viviam. Diferentemente dos departamentos vizinhos de Caquetá e Putumayo, a região amazônica tem tido pouca presença de grupos armados irregulares.

As dificuldades não terminaram com a chegada em Letícia. Apesar de as leis colombianas garantirem ajuda a essas pessoas como vítimas do deslocamento forçado, as autoridades locais inicialmente se recusaram a fazer o registro do grupo pois não possuiam documentos de identificação.

“É relativamente comum entre os indígenas que vêm de partes remotas do país a falta de documentos de identidade, o que os torna extremamente vulneráveis durante o deslocamento”, afirmou o Representante Adjunto do ACNUR na Colômbia, Roberto Mignone, que esteve em Letícia no início do mês.

Nos últimos seis anos, o ACNUR tem desenvolvido campanhas de documentação em parceria com o governo colombiano em comunidades com alto risco de deslocamento, especialmente entre os indígenas e afro-colombianos. Desde então, mais de 600 mil cidadãos receberam documentos de identidade.

Em Letícia, as famílias indígenas Baro se dispersaram em bairros da periferia da cidade, onde as condições de vida são precárias, muito diferente das poucas ruas centrais construídas para o turismo. A maioria das famílias vive amontoada em barracas de plástico, sem serviços sanitários e água, num espaço muito pequeno.

A Amazônia colombiana, que abrange uma área de cerca de 100 mil quilômetros quadrados, é pouco povoada e possui somente 75 mil habitantes, sendo mais de um quarto deles indígenas. Contudo, em Letícia o espaço se tornou um problema. A pequena cidade, que conta atualmente com 25 mil habitantes, é cercada pela selva e pela água e por isso não tem para onde crescer. “A falta de casas dignas e de terra sobre a qual construir é um dos maiores problemas para as pessoas deslocadas”, disse Jaime Gómez-Cruz, representante da associação local da população deslocada.

Tradicionalmente organizados em pequenos grupos familiares, a população Baro encontra-se duplamente perdida em Letícia. Sem experiência alguma sobre a vida na cidade, existe um alto risco de se tornarem vítimas do tráfico de pessoas, da exploração infantil e da prostituição, que caracteriza muitas das zonas periféricas dos povoados.

Como muitos outros grupos indígenas, a identidade dessas famílias como pessoas depende fortemente dos laços com a terra que eles perderam e, por isso, a própria identidade do grupo está agora ameaçada. “É por isso que a prevenção é tão importante. Toda a proteção e ajuda oferecida depois do deslocamento jamais poderá substituir essa perda”, explicou Mignone.

Com menos de 700 membros, os Baro são um dos menores grupos indígenas dos 80 existentes na Colômbia, dos quais 27 estão em perigo de extinção (um grupo é considerado em risco quando sua população possui menos de 500 membros). Outras famílias indígenas que foram deslocadas para Letícia incluem membros dos grupos Huitoto, Kofan e Inga.

De acordo com as leis colombianas e internacionais, os membros de grupos indígenas vítimas do deslocamento forçado têm direito à proteção especial. Uma das prioridades do ACNUR na Colômbia é apoiar os esforços do Estado para cumprir esta obrigação.

Por Marie-Hélène Verney, em Letícia.