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Indígenas da Colômbia são forçados a buscar segurança nas cidades

Comunicados à imprensa

Indígenas da Colômbia são forçados a buscar segurança nas cidades

Indígenas da Colômbia são forçados a buscar segurança nas cidadesObrigada a deixar seu lar nas florestas do noroeste da Colômbia quando tinha 21 anos, Hilda vem reconstruindo a vida na cidade enquanto tenta conservar sua própria identidade.
18 Outubro 2012

MEDELLIN, Colômbia, 18 de outubro (ACNUR) – Obrigada a deixar seu lar nas florestas do noroeste da Colômbia quando tinha 21 anos, Hilda vem reconstruindo a vida na selva de pedra do país, enquanto tenta conservar sua própria identidade cultural e étnica.

Ela também faz campanha contra a discriminação e a estigmatização sofridas pelos povos indígenas, principalmente pelas mulheres, nas cidades. Membro da tribo colombiana Embera, esta professora de 36 anos faz parte das dezenas de milhares de indígenas que têm deixado seus lares por causa da violência e perseguição durante os longos conflitos internos na Colômbia.

Na Noruega, o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, António Guterres, felicitou o lançamento das negociações de paz entre o governo colombiano e as guerrilhas de esquerda esta semana. Entretanto, os povos indígenas continuam a sofrer diariamente na Colômbia.

Desde 1997, mais de 105 mil indígenas estão deslocados internamente, incluindo cerca de 4.080 somente no ano passado. Mais de 30 tribos estão ameaçadas de extinção num país onde estes grupos somam por volta de 3% da população e possuem uma rica herança cultural.

Hilda foi criada segundo as tradições de seu povo, o que inclui viver da terra nas florestas de Urabá Antioqueño, uma sub-região colombiana do departamento de Antioquia. No entanto, durante os anos 1990, a presença de grupos armados ilegais na região aumentou devido à concorrência por ricos recursos naturais e pelo controle de droga, rotas de contrabando e cultivo de coca.

Assim, os povos indígenas se encontraram encurralados. Muitos foram mortos, porém a maioria saiu em busca de segurança, como Hilda, que deixou para trás seu modo de vida único e a liberdade em seus territórios. Hoje, ele moram nas favelas das cidades, onde vivem em condições de pobreza, lutam por emprego e são discriminados.

Em 1997, depois de constantes ameaças e seguindo o conselho de pessoas próximas, Hilda fugiu com vários amigos para o município de Mutata. A jovem Embera trabalhou muitos anos como professora nesse município, porém, um dia, recebeu uma carta de um dos grupos armados que lhe pedia para encontrá-la na escola, foi assim que ela decidiu que era hora de partir.

“Fui ameaçada por eles porque eu sabia exatamente quais grupos armados estavam na área e quem perseguia a comunidade”, explicou Hilda. Mais do que isso, ela era a única pessoa da comunidade que falava espanhol, a língua do Governo.

Naquela época, Hilda encontrou abrigo primeiramente em Bello e, em seguida, nas vizinhanças de Medellin, capital de Antioquia e segunda maior cidade da Colômbia. Ela tentou voltar para casa depois de três meses, mas percebeu que era perigoso demais por causa dos grupos que controlavam as estradas.

Há mais deslocados internos procurando abrigo em Medellin do que em qualquer outro município – além de Bogotá, a capital do país. De acordo com o Sistema Nacional de Registro, mais de 230 mil pessoas chegaram a Medellin entre 1997 e dezembro do ano passado - quase 30 mil somente em 2011.

A maioria das pessoas deslocadas internamente, cerca de 80%, vem de áreas agrícolas. A maior parte delas simplesmente desaparece na selva de pedra, onde enfrenta inúmeros desafios sem ter apoio suficiente. Os povos indígenas, quase 0,5% da população de deslocados em Medellin. Para eles, a perda é também de sua identidade e cultura.

Por isso, Hilda decidiu levantar a voz em favor de seu povo, especialmente das mulheres indígenas deslocadas. Como professora e líder comunitária, e com seu exemplo, ela quer ajudar outras mulheres indígenas a combater a discriminação racial e preservar suas culturas. “Sou das florestas de Urabá Antioqueño e estou aqui na cidade de Medellin para tornar meus sonhos realidade”, como ela mesma disse.

Com a ajuda do ACNUR, esta professora tem realizado diálogos frequentes em Medellin por meio do Conselho de Chibcariwak, uma organização que reúne os povos indígenas da cidade. Nesses encontros, ela e outras indígenas discutem os riscos e desafios que enfrentam num contexto urbano, e buscam soluções.

Além das questões de discriminação e estigmatização, Hilda disse que os deslocamentos forçados também ameaçam a cultura e as tradições indígenas. Ela acrescentou que as crianças têm sido criadas numa cultura estrangeira e perdido o contato com suas raízes, principalmente em cidades grandes como Medellin.

“Quando perdemos nosso território, corremos igualmente o risco de perder nossa identidade”, salientou a professora. Para responder a esse problema, ela e suas companheiras de luta também pesquisam e praticam as tradições de suas tribos, como o canto, a música, a arte e a confecção de joias tradicionais.

O que Hilda mais gosta é a confecção de joias. Para ela, é uma arte que “ revitaliza, fortalece física e mentalmente, e ajuda a ganhar algum dinheiro”. Vê-se que esta professora é uma mulher com o coração no passado e a cabeça no presente – e este é um bom lugar para construir um futuro mais brilhante, enquanto espera, um dia, voltar para casa.

Por Diana Díaz Rodríguez e Lívia Mota em Medellin, Colômbia