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Jogando por um futuro na fronteira da Colômbia

Comunicados à imprensa

Jogando por um futuro na fronteira da Colômbia

31 Janeiro 2018
Meninos e meninas da equipe de futebol de La Victoria se sentem orgulhosos de suas conquistas dentro e fora de campo. © ACNUR/Regina de la Portilla
PASTO, Colômbia, 31 de janeiro de 2018 (ACNUR) – O irmão mais velho de Cristian foi brutalmente assassinado por um grupo armado. Sua mãe conseguiu escapar com seus filhos para o Equador, deixando para trás tudo que tinham. Uma década depois, Cristian e sua mãe, Dona Amparo, regressaram para sua cidade natal, La Victoria, localizada no sul da Colômbia, na fronteira com o Equador.

Durante anos, a população da cidade viveu com medo dos terríveis episódios de violência, incluindo homicídios, desaparecimentos, ameaças, violações e abuso sistemático de mulheres. “Não gosto de lembrar daqueles dias que perdi meu marido e meu filho”, diz Dona Amparo. Desde o início do conflito armado, mais de 6.000 pessoas foram forçadas a deixar suas casas em La Victoria.

Hoje, mesmo com a assinatura do Acordo de Paz entre o Governo da Colômbia e a ex-maior guerrilha do país, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), em novembro de 2016, La Victoria segue como território de disputa entre atores armados não-estatais que utilizam a região como um ponto de geração ilícita de renda, produção de drogas e tráfico. É uma cidade onde a presença institucional é baixa e os habitantes – que em sua maioria foram deslocados pelo conflito – ainda sofrem graves abusos contra os direitos humanos, como homicídios, desocupação de terras e recrutamento de jovens e crianças.

Cristian, pai de três filhos, está ciente dos riscos aos quais seus filhos estão diariamente expostos. Após perguntar para seu filho de 14 anos quais eram seus desejos, ele decidiu criar uma escola de futebol para crianças a fim de proporcionar atividades recreativas e ajudar a evitar que essas crianças sejam recrutadas para atividades ilegais.

“Trabalhei durante anos para fazer a escola de futebol virar uma realidade. Foi apenas quando vi um velho amigo, treinador físico profissional que regressou para a cidade, que decidimos seguir em frente com o projeto por nossa própria conta. Comprei algumas bolas e alguns cones, ele improvisou alguns pesos com garrafas pet e areia”, explica Cristian.

O primeiro treino de futebol foi praticamente um jogo entre os amigos de seu filho, mas com a continuidade da iniciativa, muitas meninas e meninos estavam ansiosos para participar da recém fundada escola de futebol.

“Cristian é um líder nato. Quando se dedica em algo, faz e atrai as pessoas porque tem grandes iniciativas”, explica sua mãe. Sua pró-atividade levou Cristian a se encontrar com o ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, e seu parceiro, a Pastoral Social, que trabalham para fortalecer a integração local na comunidade, chave para buscar soluções para a cultura da paz.

Com o apoio do ACNUR, a escola de futebol já conseguiu um treinador oficial e um campo de futebol, onde os pequenos jogadores podem praticar o esporte de forma segura. As famílias se reúnem para os incentivar, deixando para trás as diferenças e unindo esforços para apoiar suas filhas e filhos. Com o apoio de seus novos aliados, decidiram organizar uma pequena liga para encorajar outros times das cidades vizinhas e equipes do outro lado da fronteira. Isso é particularmente importante para os habitantes de La Victoria, que durante anos foram estigmatizados devido a contínua presença de grupos armados na região.

Dona Amparo, mãe e inspiração de Cristian, criador da escola de futebol em La Victoria, é também orgulhosa das iniciativa promovidas por seu filho para a consolidação da paz na região. © ACNUR/Regina de la Portilla

 

“Nessas aldeias remotas, onde a presença do Estado ainda não é suficientemente forte – inclusive quase um ano depois da assinatura do Acordo de Paz –, apoiar este tipo de iniciativas é crucial para empoderar as comunidades e para aperfeiçoar os projetos”, explica Manuel Nucamendi, chefe do escritório do ACNUR em Pasto. Manuel ressalta que ao promover atividades esportivas, o ACNUR e seus parceiros contribuem para reforças as redes de proteção locais ao longo do “corredor fronteiriço”, proporcionando ambientes seguros para crianças e jovens, além de mitigar alguns riscos dos quais estão expostos diariamente.

“Nossa relação com o Equador é extremamente importante. Aquele país acolheu muitos de nós “Victorianos” que tivemos que deixar a Colômbia durante o conflito. Fomos bem recebidos e sempre encontramos uma mão acolhedora. Os torneios com o Equador nos ajudaram a fortalecer nossa amizade”, explica José Luis Pineda, presidente da Junta de Ação Comunitária (que funciona de forma similar a um conselho municipal).

Pineda também descreveu como a escola se tornou uma prioridade para a comunidade: “É incrível ver o interesse dos pais e crianças neste programa. Aprenderam a trabalhar juntos e a escutar uns aos outros”. Os pais estão apoiando a escola e os seus filhos, em grande parte porque observam que estão adquirindo valores como companheirismo, responsabilidade, disciplina e dedicação. Como liderança local, José Luis acredita que o desenvolvimento mais importante é o empoderamento da comunidade por meio desta escola. “O conflito nesta área não apenas desintegrou a comunidade, como também causou a desestruturação dentro das famílias”, explica.

Hoje a escola tem 45 pequenos jogadores de futebol, que também participam de oficinas de paz organizadas pelo ACNUR, proporcionando para esses jovens as ferramentas necessárias para que se tornem participantes ativos do processo de construção da paz. O sucesso da escola fez com que uma equipe de jovens mulheres fosse criada, contribuindo para combater a discriminação de gênero.

“La Victoria foi esquecida por mais de duas décadas, quando apenas os atores armados estavam presentes e as leis eram ditadas por eles. Praticamente tínhamos perdido toda a esperança e não podíamos sequer imaginar um futuro para nossa juventude. Agora, como resultado desse projeto, podemos ver nossos filhos crescerem como exemplos de ‘Victorianos’. Eles nos ajudarão a demonstrar as grandes qualidades de nossa cidade nesta era nova que é o processo de paz”, conclui Cristian.

Logo após assinar o histórico acordo de paz, a Colômbia atravessa um processo de construção da paz que visa encerrar os 52 anos de conflito que matou mais de 220.000 pessoas e deslocou mais de 7,6 milhões de colombianos. O ACNUR continua trabalhando e colaborando com as autoridades para promover soluções para a população deslocada, um fator chave para construir uma paz sustentável.