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Jovem refugiado indígena Warao participa de teste no Flamengo no Rio de Janeiro

Comunicados à imprensa

Jovem refugiado indígena Warao participa de teste no Flamengo no Rio de Janeiro

2 Julho 2024
ACNUR apoiou ida de Greyver Moraleda ao Rio de Janeiro para fazer teste do Flamengo ©️ Bernardo Camara/ACNUR

“Eu quero ser jogador de futebol!” O jovem indígena Greyver Moraleda não tinha completado 10 anos de idade quando dividiu com a família este sonho pela primeira vez. “Eu fiquei olhando para ele, olhando para nossa situação e pensando em como isso seria difícil”, relembra a mãe, Josefina Moraleda, que pertence ao povo Warao.

Vivendo no Brasil há seis anos, Josefina e a família vieram da Venezuela para buscar melhores condições de vida. Desde que chegaram, viveram na rua, passaram por abrigos, enfrentaram discriminação e fome. Mas o que parecia uma realidade distante começou a se tornar mais palpável este ano. Foi quando Greyver e Josefina pegaram um avião pela primeira vez para que o pequeno garoto Warao — agora com 13 anos — fizesse um teste no clube do Flamengo, no Rio de Janeiro. 

Josefina Moraleda e seu filho Greyver Moraleda ©️ Bernardo Camara/ACNUR

“É uma conquista e uma chance muito especial participar dessa seleção”, diz o menino, que foi selecionado após um olheiro do Flamengo tê-lo visto em campo durante um campeonato de escolinhas em Belém. A viagem para o Rio de Janeiro foi concretizada com o apoio do ACNUR, que garantiu alimentação e hospedagem para mãe e filho, e da Azul Linhas Aéreas, que doou as passagens.  

“Como mãe, estou muito agradecida, de coração, à equipe do ACNUR Brasil. São poucos os indígenas que têm essa oportunidade.”

Josefina Moraleda, mãe de Greyver

Treinador dando instruções para jovens participantes do teste do Flamengo, dentre eles o venezuelano Greyver Moraleda. Sua mãe, Josefina Moraleda, acompanhou as atividades. ©️ Bernardo Camara/ACNUR

Os Warao no Brasil

Hoje, Josefina e Greyver vivem na cidade de Ananindeua, na região metropolitana de Belém (PA). E não são os únicos. Atualmente, há cerca de 11.500 indígenas refugiados vivendo no Brasil. Deste total, os Warao são maioria — há pelo menos 7.500 deles espalhados por vários estados do país. Esse número deu um salto a partir de 2016, quando os deslocamentos da Venezuela para o Brasil se intensificaram. 

No caso dos Warao, a chegada em território brasileiro quase sempre se dá pelo Norte do país, via estado de Roraima. E de lá, muitas famílias seguem viagem para outros estados, onde existe uma rede de apoio de familiares ou amigos. Hoje, aproximadamente 1.200 indígenas da etnia vivem no Pará, e cerca de 850 estão concentrados na capital Belém e em municípios vizinhos, como Ananindeua.

Com escritório na capital paraense, o ACNUR tem um trabalho contínuo de apoio a indígenas refugiados. Após implementar uma Escola de Lideranças Indígenas em 2021, cujos módulos abordaram temas relacionados a direitos e acesso a políticas públicas, a Agência da ONU para Refugiados segue promovendo o fortalecimento comunitário por meio de uma parceria com o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB). Um dos frutos deste trabalho foi a criação mais recente do Conselho Warao Ojiduna, uma organização liderada por indígenas e da qual Josefina faz parte.

Exemplo em campo e em casa

Foi a partir dessas articulações com o ACNUR que Josefina solicitou apoio para que o filho conseguisse ir ao Rio participar do teste no Flamengo. O jovem faz parte de uma escola de futebol que o clube mantém em Ananindeua. E, segundo os treinadores, além do talento em campo, o menino também bate um bolão nos estudos e em casa. 

“O Greyver é um rapaz muito educado, receptivo, que sabe escutar. É estudioso, respeitador e nunca deu problema algum com os professores”, diz o CEO das escolas do Flamengo em Belém e Ananindeua, Luiz Hass. 

CEO das escolas do Flamengo em Belém e Ananindeua, Luiz Hass, Jofefina Moraleda e Greyver Moraleda, e Douglas Miscoto, coordenador das escolas do Flamengo em Belém e Ananindeua ©️ Bernardo Camara/ACNUR

Foi com esse repertório que Greyver desembarcou no Rio de Janeiro durante o mês de junho, para uma semana de testes no clube carioca. Após cinco dias demonstrando habilidades com a bola, infelizmente ele não foi selecionado. Mas, segundo os treinadores, esse foi apenas o primeiro de outros testes de que provavelmente o jovem participará. “Os jogadores que hoje são famosos passaram por muitos testes antes de serem aprovados em algum time. Isso é super comum. O Cafu, por exemplo, chegou a fazer 14 testes e se tornou, mais tarde, campeão mundial”, diz Luiz. 

Ao receber o resultado negativo, Greyver teve apenas alguns minutos de tristeza. Logo, a frustração deu lugar à alegria. Em sua passagem pelo Rio de Janeiro, afinal, o jovem indígena conheceu o mar, visitou as dependências do clube do Flamengo — seu time do coração — e ainda fez uma visita especial ao estádio do Maracanã.

O adolescente ganhou do Flamengo ingressos para o "Match Day", uma visita exclusiva ao estádio, em que ele pôde entrar no vestiário do time, conhecer o auditório das coletivas de imprensa e acompanhar de perto a entrada dos jogadores do Flamengo para o jogo.

Jovem Greyver Moraleda, de 13 anos, participou de "peneira" do Flamengo, um teste para compor a equipe oficial do time ©️ Bernardo Camara/ACNUR

Minutos antes de assistir ao Flamengo jogando e vencendo o Grêmio por 2 a 0 numa partida do Campeonato Brasileiro, Greyver adentrava o campo do estádio com os olhos cheios de lágrimas, para conhecer e tocar com as próprias mãos um dos gramados mais famosos do Brasil. 

“Acho que eu dei sorte para o Flamengo”, disse ele após o jogo, abrindo um grande sorriso. E se ele pensa em desistir?  “Não mesmo!”, avisa, sem hesitar. “Vou continuar correndo atrás do meu sonho.”