Jovens deslocados buscam reaproximar cidade dividida na Colômbia
Jovens deslocados buscam reaproximar cidade dividida na Colômbia
LA GLORIA, Colômbia, 07 de dezembro de 2016 – Um grupo de jovens deslocados internos na região amazônica da Colômbia deu exemplo para os mais velhos com uma estratégia para aliviar as suspeitas e hostilidades que pairam em sua comunidade dividida.
Com o acordo de paz para acabar com o conflito mais antigo da América Latina quase concluído, jovens homens e mulheres em La Gloria, na província de Caquetá, tomaram medidas com as próprias mãos para reconciliar as diferentes facções em sua comunidade de deslocados internos, organizando atividades culturais para a geração mais jovem.
La Gloria estava em processo de construção como parte de um plano governamental para abrigar pessoas deslocadas quando a primeira onda chegou em 2011, após inundações e desastres naturais. O desenvolvimento foi mal supervisionado e as casas eram de má qualidade. Algumas foram apenas parcialmente construídas.
Em 2013, as pessoas que fugiram do conflito interno entre forças governamentais e os rebeldes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) foram transferidas para novas casas sociais mais funcionais que foram construídas como parte de um processo de realocação.
A tensão e o ressentimento cresceram entre os vários grupos de diferentes origens, em razão da qualidade variável e do tipo de acomodação que foram oferecidos.
“Eu não fiquei feliz quando cheguei a La Gloria. Havia muita rivalidade entre todas as pessoas que vivem no bairro.”
“Eu não fiquei feliz quando cheguei a La Gloria”, disse Samuel, de 14 anos, cuja família fugiu do conflito. “Eu não conhecia ninguém e todo mundo estava sozinho. Havia muita rivalidade entre todas as pessoas que vivem no bairro”.
Barreiras invisíveis cresceram entre os grupos de recém-chegados, que geralmente ficavam em seus próprios bairros e não se misturavam. Crianças de áreas diferentes não podiam brincar juntas.
Depois que os colombianos por pouco rejeitaram um acordo de paz em um referendo em setembro, o governo e as FARC chegaram a um novo acordo revisado que foi assinado no dia 24 de novembro. O objetivo é acabar com 52 anos de conflito que matou mais de 220 mil pessoas. O ato foi comemorado pelo ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados.
Como resultado do conflito, há mais de 72 milhões de deslocados internos na Colômbia. O ACNUR está concentrando esforços para ajudar os deslocados internos, promovendo integração local, que é vital para garantir que os seus direitos sejam respeitados e que tenham meios dignos para se sustentar.
Cansado de viver em um ambiente insustentável em La Gloria, Samuel e outros adolescentes que têm participado de oficinas de arte para jovens fornecidas pelo ACNUR decidiram tomar a iniciativa de tentar melhorar o espirito comunitário.
Eles começaram com a organização de atividades para crianças e jovens. “No começo, as crianças não podiam vir, mas insistimos com seus pais e lentamente eles deixaram que elas viessem”, disse Samuel.
Com o apoio do ACNUR, Samuel e seus companheiros construíram um centro de jovens, onde todos podiam se reunir, aprender, compartilhar ideias e desenvolver atividades sem terem que se preocupar com o lugar de onde vieram.
Os jovens moradores de La Gloria também decidiram juntar-se do “Festival da Vida e dos Direitos” financiado pelo ACNUR, no qual toda a comunidade participa de atividades e compartilha experiências.
A ideia decolou e seu sucesso foi confirmado quando mais tarde a comunidade foi capaz de se reunir para encontrar soluções para problemas como o aumento da criminalidade, o tráfico de drogas e famílias mudando-se para outras áreas em decorrência da falta de moradia em La Gloria.
Frequentemente, assentamentos informais e municípios vulneráveis, como La Gloria, onde vivem mais de 350 famílias deslocadas, ficam desamparados, assumindo responsabilidade por sua própria segurança e encontrando formas de ganhar a vida.
Para assegurar a coesão social, são encorajados a desenvolver as suas próprias ideias, a trabalhar em equipe, implementar projetos – com o apoio do ACNUR – e a aprender a organizarem-se e a funcionar como uma comunidade conjunta. Eles recebem orientações sobre como negociar com autoridades locais e estaduais.
“A melhor coisa sobre o festival é que ele nos representa – os jovens que conseguiram deixar para trás as rivalidades dos adultos.”
Este ano, o projeto alemão de biodiversidade Trópico também se juntou ao festival de três dias, oferecendo oficinas de música, arte e teatro com um forte componente ambiental.
Sinfonía Trópico se descreve como “uma iniciativa que conscientiza sobre a perda de biodiversidade e os riscos de desmatamento e mudanças climáticas na Colômbia por meio de eventos que combinam arte e ciência”.
O encerramento do festival contou com uma exposição fotográfica e um show de talentos, no qual as crianças e os jovens mostraram aos pais e à comunidade o que tinham aprendido e seu desejo de construir um futuro melhor.
Samuel se juntou às aulas de música e ficou feliz em subir ao palco: “Usar minha voz e conhecer todos os professores que vieram à comunidade me mostrou que as pessoas se preocupam com nós, estão interessadas e ansiosas para ajudar a nossa comunidade”, disse.
Natalia, amiga de Samuel, apesar de morar do outro lado da cidade, disse: “A melhor coisa sobre o festival é que ele nos representa – os jovens que conseguiram deixar para trás as rivalidades dos adultos, diminuir as hostilidades entre os dois lados da cidade e desenvolver um senso de pertencimento à comunidade. É por isso que estamos motivados a continuar trabalhando todos os dias para construir uma vida melhor”.