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Jovens refugiados e migrantes da Venezuela renovam esperança no futuro como aprendizes em empresas brasileiras

Comunicados à imprensa

Jovens refugiados e migrantes da Venezuela renovam esperança no futuro como aprendizes em empresas brasileiras

17 Dezembro 2019
Misael Rodrigues fala durante as Oficinas de Criatividade, em Boa Vista. Hoje, ele trabalha no Instituto Batista de Roraima (IBR) © ACNUR/Allana Ferreira

Brasília, 16 de dezembro de 2019 – O sorriso no rosto de Julio, refugiado venezuelano de 16 anos e estudante do ensino médio em Brasília, revela a alegria de ser o mais novo Jovem Aprendiz contratado pela Gerência de Recursos Ambientais da Caixa Econômica Federal (CEF) – um dos principais bancos públicos do país.

Com seu salário, Julio compra medicamentos para a mãe e ajuda a manter sua família no Brasil. “Gosto de trabalhar aqui. As pessoas me tratam bem, e sinto que posso ser independente”, afirma Julio.

A milhares de quilômetros de Brasília, outro jovem venezuelano vive situação semelhante à de Julio. Na cidade de Boa Vista, Misael (18 anos) reconstrói sua vida com o salário de Menor Aprendiz do Instituto Batista de Roraima (IBR). “Cresci muito como pessoa. Agora estou nessa empresa e crescendo profissionalmente. Tenho muitas razões para ficar, mais até do que voltar”, afirma Misael.

Julio e Misael fazem parte de um grupo de cerca de 40 jovens que passaram pelas Oficinas de Criatividade oferecidas pelo Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), em parceria com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e o Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH). Como resultado do curso, ambos – assim como outros estudantes – conseguiram empregos regulares e voltaram a sonhar com seu futuro.

Esta iniciativa prepara jovens refugiados e migrantes para o mercado de trabalho, com aulas de comunicação, liderança e trabalho, postura profissional e imagem nas redes sociais, como redigir currículos e sobre entrevistas de emprego. A oficina já aconteceu em Boa Vista e Manaus e, mais recentemente, em Brasília.

“A formação que as oficinas oferecem é uma oportunidade de fortalecer as competências e habilidades dos jovens para o primeiro emprego e, também, de estimular sua condição de cidadãos por meio do preparo profissional e do trabalho. Muitos jovens, graças a essa iniciativa, conquistam uma vaga no mercado de trabalho, contribuindo para o sustento da família, realização pessoal e redução da evasão escolar”, afirma Rosita Milesi, diretora do IMDH.

A integração social e econômica de refugiados e migrantes venezuelanos tem sido uma das prioridades do trabalho do ACNUR no Brasil. A chegada desta população ao país, mais intensa desde 2017, é resultado da situação política, socioeconômica e de direitos humanos na Venezuela – que, segundo estimativas da ONU, já forçou mais de 4,7 milhões de pessoas a buscar proteção além das fronteiras venezuelanas.

Dados da Polícia Federal indicam que cerca de 225 mil pessoas venezuelanas se encontram no Brasil. Quase 120 mil solicitaram o reconhecimento da situação de refúgio, sendo 21 mil solicitações já confirmadas e aprovadas pelo governo brasileiro – fortalecendo a proteção destas pessoas. Outros 105 mil possuem vistos de residência temporária no país. Se as tendências atuais continuarem, 6,5 milhões de venezuelanos poderão estar fora da Venezuela até o final de 2020.

A inserção dessas pessoas no mercado de trabalho é um caminho duradouro para que elas possam seguir adiante. Paulo Sérgio de Almeida, Oficial de Meios de Vida do ACNUR no Brasil, afirma ser “imprescindível que jovens refugiados e migrantes tenham acesso ao mercado de trabalho para que possam ter autonomia e viver com dignidade”. Para ele, “as oficinas do CIEE ajudam na inserção desses jovens e garantem um crescimento não só para essas pessoas, mas para as empresas e as comunidades locais onde elas vivem”.

As oficinas também recebem apoio financeiro da União Europeia por meio de seu Instrumento para a Estabilidade e a Paz (IcSP, sigla em inglês), que tem ajudado a fortalecer a resposta aos venezuelanos promovendo a convivência pacífica e a integração dessas pessoas.

Dividindo seu tempo entre a escola, o trabalho e um curso técnico na área mecânica, Julio tem hoje a esperança e a segurança de seguir adiante, com planos de se tornar psicólogo. “Adoro ajudar e motivar as pessoas. Quero ser psicólogo para fazer isso. Na escola, ajudo meus colegas com palavras de motivação quando os vejo triste. Ganhei até um apelido: Dr. Venezuela!”, brinca o jovem aprendiz.

Em Boa Vista, Misael conta que o sonho de ser músico precisou ser adiado por causa da situação em seu país. Em meados de abril de 2017, sua comunidade foi invadida e saqueada. “Meu pai colocou o piano que tínhamos em casa para travar a porta não deixar ninguém entrar. Meu irmão, de 11 anos, perguntou: ‘mãe é hoje que a gente vai morrer?’. Isso foi a gota d’água para sairmos de lá”, lembra o jovem.

No Brasil desde agosto de 2017, ele e a família agora estão à salvo. Ele conseguiu seu emprego no Instituto Batista de Roraima (IBR) dois meses após concluir a oficina do CIEE. “Todo mundo quer voltar pra casa, ainda mais por ter sido obrigado a sair para viver, mas eu só quero ter uma vida normal e digna”, afirma.

As aulas, além de ensinaram sobre o mercado de trabalho local, também serviram como um ambiente de acolhimento para Misael. “Vi que eu não era o único venezuelano que tinha vontades e desejos de evoluir pessoalmente e profissionalmente. Não foi só o conteúdo das oficinas, mas a troca de experiência que tivemos. Achamos interessante essa iniciativa de dar oportunidade para jovens estrangeiros”, relata.

Para Deise Araújo, Orientadora Social do CIEE, “as Oficinas de Criatividade deram uma oportunidade aos jovens refugiados e migrantes da Venezuela de entender como os processos seletivos funcionam e se sentir mais preparados, aumentando a possibilidade de inserção no mercado de trabalho. Foi um processo extremamente importante para todos: a comunidade, os instrutores e os alunos”.

Júlio e Misael têm um longo caminho pela frente. Apesar de tudo ainda ser muito novo, eles têm algo em comum. Ambos tiveram de deixar tudo para trás e encarar uma nova realidade. A esperança de crescer e serem pessoas com melhores condições e que possam realizar seus sonhos é imensa. Essa esperança tem deixado os dias difíceis cada vez mais distantes. Para eles, o importante é persistir.

Em resposta ao impacto humanitário da situação política e socioeconômica da Venezuela, 137 organismos (incluindo 17 agências da ONU, organizações não-governamentais e entidades da sociedade civil) estão atuando em 17 países sob as diretrizes do Plano Regional de Resposta a Refugiados e Migrantes (RMRP) de 2020, uma ferramenta de coordenação operacional com o objetivo de atingir quase quatro milhões de pessoas – incluindo refugiados e migrantes venezuelanos e comunidades de acolhida.

No Brasil, a prioridade é apoiar venezuelanos em situações vulneráveis em obter documentação, abrigo de emergência, itens básicos de sobrevivência, assistência alimentar e nutricional, principalmente em áreas de fronteira. Para 2020, é estimado um orçamento de US$ 88 milhões a ser executado por 40 organizações em mais de 500 atividades de resposta à emergência humanitária.

Mesmo que as dificuldades ainda sejam constantes, a esperança de Júlio e Misael ganhou um novo tom. Seja qual for o destino, com seus empregos eles podem planejar o futuro como sempre quiseram.