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Judoca congolês que vive no Brasil estreia hoje nos Jogos Tóquio 2020

Comunicados à imprensa

Judoca congolês que vive no Brasil estreia hoje nos Jogos Tóquio 2020

27 Julho 2021
Atualmente, o judoca Popole Misenga treina em uma escola de judô no Rio de Janeiro, fundada pelo medalhista olímpico Flávio Canto. © ACNUR/Benjamin Loyseau
São Paulo, 27 de julho de 2021 - Popole Misenga é uma referência do judô internacional pela sua dedicação ao esporte. Seu nome e sua história ficaram conhecidos mundialmente em 2016, ano em que ele participou pela primeira vez de uma edição dos Jogos Olímpicos, no Rio de Janeiro. É no Rio também que Popole buscou proteção internacional em face das adversidades enfrentadas na República Democrática do Congo, seu país natal.

Na próxima madrugada, Popole entrará no templo do judô, o estádio Budokan, para iniciar sua disputa pelos Jogos Tóquio 2020, integrando novamente a Equipe Olímpica de Refugiados, novamente revivendo um sonho que se realiza.

“No Brasil eu consigo construir minha carreira para chegar aonde almejo. Eu me casei no Rio de Janeiro, tornei-me pai e sou um exemplo a ser seguido. Estou lutando para que a vida dos meus filhos seja melhor do que a minha, para que outras pessoas refugiadas se inspirem para alcançar seus sonhos”, disse Popole em uma entrevista concedida ao Comitê Olímpico Internacional.

Aos 29 anos, Popole já construiu uma história longa com o esporte. Quando tinha apenas 9 anos de idade, foi forçado a deixar Kisangani - no República Democrática do Congo -, fugindo de conflitos violentos na região. Ele perdeu sua mãe e separado da família, foi resgatado oito dias depois de ter sido encontrado em uma floresta da região. De lá, foi levado para a capital, Kinshasa, onde descobriu o judô em um centro para crianças deslocadas.

Com muito treino e disciplina, Popole tornou-se atleta da modalidade, mas outro pesadelo começou ao competir internacionalmente. A cada competição que não vencia, Popole sofria duras consequências, chegando a ser privado de água e comida.

O cenário mudou em 2013 durante o Campeonato Mundial de Judô realizado no Rio de Janeiro, momento em que ele decidiu desertar da equipe nacional e solicitar proteção internacional no Brasil.

Depois de conseguir o status de refugiado, Popole começou a treinar no Instituto Reação, escola fundada pelo consagrado Flávio Canto, medalhista olímpico brasileiro. Na época, o atleta reforçou a importância do esporte em sua vida e como a modalidade lhe deu serenidade para continuar.

“No meu país, eu não tinha um lar, uma família ou amigos. A guerra causou muita morte e confusão, eu tive que aproveitar a chance que eu tive para estar em segurança em outro local”.

Esta outra localidade foi justamente o Rio de Janeiro, cidade que o acolheu com aplausos pela sua participação na Rio 2016. Mesmo que no Japão Popole não conte com torcedores o apoiando, os motivos que o fazem competir não serão esquecidos.

A Equipe Olímpica de Refugiados que disputam os Jogos Tóquio 2020 é uma iniciativa do Comitê Olímpico Internacional, com apoio da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).

Trajetória de Popole Misenga nas Olimpíadas

Em sua primeira disputa olímpica, nos Jogos Rio 2016, Pople conseguiu vencer o experiente indiano Avtar Singh e fez história ao se tornar o primeiro atleta refugiado a passar de fase nas Olimpíadas. Na competição seguinte, foi eliminado nos últimos 40 segundos da luta pelo campeão mundial, o sul-coreano Donghan Gwak.

Mesmo com a derrota, Popole tornou-se um símbolo para diversas comunidades e espectadores dos Jogos naquele ano, tornando-se reconhecido publicamente, em especial entre a juventude brasileira, que se inspirou em seu passado de superações.

Após a Rio 2016, o judoca seguiu comprometido com os treinos e ampliando sua experiência. Em 2017, garantiu uma vaga para Tóquio 2020 durante o Torneio de Abertura na Arena Deodoro, no Rio de Janeiro, com uma medalha de prata na competição.

Em Tóquio, Popole fará sua estreia no início da madrugada de quarta-feira (dia 29), competindo contra o judoca húngaro Krisztian Toth. “Meu sonho no judô é vencer, alcançar o topo, ser campeão e exemplo”, afirma o atleta.

Atleta judoca refugiada estreia contra brasileira em Tóquio

Na madrugada de amanhã (dia 29), pouco antes da luta de Popole, outra atleta da Equipe Olímpica de Refugiados estará em disputa nos Jogos Tóquio 2020. Trata-se da afegã Nigara Shaheen, que enfrentará a judoca brasileira Maria Portela.

Assim como Popole, Nigara começou a praticar judô ainda criança, quando tinha 11 anos, vivendo como refugiada em Peshawar, no Paquistão. Nigara tem grande determinação pelo esporte pelo fato das artes marciais serem uma tradição da família, algo que a inspira ainda mais a disputar suas lutas.

Além de se dedicar aos treinos e competições internacionais, Nigara, agora com 28 anos, estuda comércio exterior e sonha em conquistar seu mestrado. Essa conquista também revela seu mantra de “sempre se levantar quando estiver caída”.