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Mãe síria supera tragédia e recomeça vida no Reino Unido

Comunicados à imprensa

Mãe síria supera tragédia e recomeça vida no Reino Unido

19 Fevereiro 2020
Refugiados sírios caminham pelo campo de Azraq no norte da Jordânia, março de 2016 © ACNUR/Annie Sakkab

Em 2012, quando fugiu da Síria para a Jordânia, Asmaa tinha apenas 21 anos e estava grávida do segundo filho. Na época, ela já havia sido exposta a diversas experiências traumáticas, entre elas o desaparecimento de seu irmão, a morte de seu marido Noor e o fim prematuro de sua juventude.


Asmaa e sua família estavam vivendo como refugiados em Amã, capital da Jordânia, tentando se recuperar do luto e sofrimento causado pelo deslocamento quando mais uma tragédia aconteceu. Uma reportagem televisiva sobre eventos na Síria confirmou a morte de Mohammad, irmão de Asmaa. Ele tinha apenas 16 anos. Mas a agonia não parou por aí.

“Meu pai desligou a TV, segurou minha mãe e disse a ela: 'Não fique triste. Não somos as únicas pessoas que perderam alguém'”, lembrou Asmaa. “Então ele teve um ataque cardíaco. Ligamos para o 190 e eles vieram, mas nos disseram que ele havia morrido.”

“Eu queria ser uma mulher independente”

Jovem viúva e com dois filhos pequenos para sustentar, Asmaa procurou a ajuda de instituições de caridade locais e trabalho para sobreviver. Mas, além da ajuda, ela também costumava receber conselhos indesejados.

“Muitas vezes, as pessoas me perguntavam: ‘Por que você vai até instituições de caridade, por que você quer trabalhar? Você deveria se casar e deixar seu marido cuidar de você.’ Mas eu não queria fazer isso”, explicou. “Eu queria conseguir um emprego, porque queria ser uma mulher independente.”

Apesar disso, Asmaa decidiu que a educação oferecia o melhor caminho para a independência. Ela se inscreveu nos exames do ensino médio, que nunca havia passado, e aprendeu inglês através de cursos no British Council, em Amã. Lá, ela ouviu falar de um programa de bolsas da União Europeia para estudar pela Universidade Aberta do Reino Unido. Asmaa foi uma das seis pessoas selecionadas entre 150 candidatos e optou por estudar direito.

Agora com 29 anos e após três anos de intenso estudo, ela se prepara para fazer as provas finais nos próximos meses. Mas uma mudança de vida ainda maior significa que a revisão teve que ficar em segundo plano nas últimas semanas.

“Isso significa um futuro melhor para eles”

Com base no nível de vulnerabilidade, o ACNUR, Agência da ONU para Refugiados, avaliou Asmaa e sua família como elegíveis para reassentamento em um outro país. No final do ano passado, ela, seus dois filhos, sua mãe e irmão mais novo, foram aceitos para reassentamento no Reino Unido e em breve se mudarão para o nordeste da Inglaterra.

Asmaa disse que a medida dará a ela e aos filhos a chance de recomeçar suas vidas, algo que ela tem buscado desde que deixou a Síria.

“Fiquei chocada, mas muito feliz. Especialmente porque irei para o Reino Unido, justamente depois de estudar as leis do Reino Unido”, explicou. “Acho que tudo será diferente. Vou conseguir um emprego e terei bons amigos lá. Para meus filhos, isso significa um futuro melhor para eles.”

“As oportunidades de trabalho e educação são limitadas na Jordânia, mas você não pode cobrar essas coisas porque o país já te acolheu e te deu tudo o que pode” continuou Asmaa. “Mesmo as famílias jordanianas enfrentam os mesmos problemas agora.”

Asmaa e sua família estavam entre os 81.666 refugiados encaminhados globalmente em 2019 pelo ACNUR para reassentamento em 29 países. Mais de 90% dos casos referidos foram aceitos pelos estados receptores.

No total, mais de 63.000 refugiados foram reassentados em 2019, superando a meta estabelecida na Estratégia Trienal de Reassentamento e Caminhos Complementares (2019-2021) como parte do Pacto Global sobre Refugiados.

Apesar desses números animadores, o ACNUR projeta que um total de 1,4 milhão de refugiados residentes em 65 países anfitriões em todo o mundo precisam de reassentamento, o que significa que os casos apresentados em 2019 representam apenas 6% do total de necessidades. Além disso, as estimativas atuais sugerem que menos de 60.000 chances de reassentamento serão disponibilizados em 2020, ficando aquém da meta de 70.000 chegadas prevista na Estratégia Trienal.

“Sei que se eu trabalhar duro, vou encontrar oportunidades”

Asmaa diz que sabe que sua família está entre os poucos sortudos que têm a chance de recomeçar em um novo país, mas está determinada a retribuir a oportunidade com muito trabalho em seu novo lar. Sua maior preocupação no momento é como fará para transportar a pilha de livros jurídicos quase tão pesados quanto ela e que precisa para estudar para as provas finais.

“Depois de terminar minha graduação, quero encontrar um emprego, ser independente e ganhar meu próprio dinheiro”, ela. “Sei que se eu trabalhar duro, vou encontrar oportunidades para mim e para os meus filhos. Não quero que o governo do Reino Unido gaste dinheiro comigo. Aceitar minha família e eu em seu país já é suficiente.”