Mais de 7.500 pessoas deixam o Mali após nova ofensiva
Mais de 7.500 pessoas deixam o Mali após nova ofensiva
BAMAKO, Mali, 22 de Janeiro (ACNUR) – Cerca de 7.500 pessoas deixaram o Mali e refugiaram-se em países vizinhosdesde que as forças francesas e malinesas lançaram sua contraofensiva a militantes islâmicos. O êxodo continua.
Desde 11 de janeiro, quando começaram os combates, mais de 4 mil refugiados chegaram à Mauritânia. Depois de registrados no centro de trânsito de Fassala, eles são levados para o campo de refugiados de Mbera, que já abriga mais de 55 milrefugiados de êxodos anteriores.
No mesmo período, o Níger recebeu 1.300 malineses, principalmente das regiões de Manaka e Anderamboukane. Cerca de 1.800 novos refugiados foram para Burkina Faso, principalmente das etnias touareg e songhai, oriundos das zonas de Gossi, Timbuktu, Gao e Bambara Maoude.
Segundo o porta-voz do ACNUR, Adrian Edwards, “dois galpões foram instalados em Inabao, principal local de entrada na fronteira com o Mali, para acolher os refugiados. A organização parceira Plano Burkina consertou uma bomba de extração de água e foram construídas latrinas de emergência”, disse o porta-voz. Segundo ele, “estas medidas contribuem para aliviar as tensões com a população local”.
Os refugiados têm dito ao ACNUR que deixaram as suas casas devido aos ataques aéreos franceses, mas também por receio da aplicação da Sharia, ou lei islâmica. Eles reportam também escassez de alimentos e de combustível, o que dificulta o funcionamento dos mercados tradicionais. A falta de cereais está fazendo os criadores de gado venderem ou abaterem alguns dos seus animais, uma vez que não têm como alimentá-los.
Alguns refugiados deslocam-se em carro particular ou caminhão, enquanto outros chegam a pé ou de burro, esperando que os demais membros da família se juntem a eles nos próximos dias, vindos do Mali.
O ACNUR e organizações parceiras continuam auxiliando os refugiados nos campos de Burkina Faso, Niger e Mauritânia, providenciando água potável, estruturas de higiene e saneamento, comida, abrigo, atendimento médico e educação.
Em Burkina Faso, os veículos fazem trajetos sucessivos entre as fronteiras para transportar as pessoas com dificuldades de locomoção. “Estamos realocando os refugiados da fronteira para lugares mais seguros no interior do país”, afirmou o porta-voz Edwards.
Há duas semanas, uma caravana com 568 refugiados deixou os campos de Ferrerio e Gandafabou na região de Sahel, no norte de Burkina Faso, para realocá-los no campo de Goudebou, perto da cidade de Dori. Ferrerio será usado apenas como centro de trânsito, até que os recém-chegados sejam transportados para Goudebou. No total, Burkina Faso já acolhe cerca de 38.776 refugiados malineses.
Desde o início da crise no Mali, em janeiro de 2012, cerca de 150 mil malineses buscaram refúgio nos países vizinhos, incluindo os deslocados deste ultimo mês. Os deslocados internos no Mali já são cerca de 229 mil, sobretudo oriundos das regiões de Kidal, Timbuktu e Gao.
As necessidades mais imediatas tanto dos deslocados internos como dos refugiados são água, comida, abrigo e cuidados médicos. As condições de vida são particularmente precárias para os deslocados internos, e o ACNUR está organizando em Bamako, capital do Mali, atividades de captação de recursos.
No entando, o acesso para assistência humanitária a outras regiões do Mali está muito condicionado por questões de segurança. Abdullah, de 41 anos, vive na capital, num pequeno quarto na casa do seu pai. Ele deixou a cidade de Diabaly, no sul do país, que foi tomada pelos militantes em 14 de janeiro.
Abdullah trabalhava como motorista de uma empresa privada em Diabaly. Ele contou ao ACNUR que em 14 de janeiro estava trabalhando “quando foi atacado por 6 homens armados com kalashnikovs, que pediram as chaves do carro e levaram o veículo.” Voltou para casa e ficou com sua família, enquanto os sons de tiros e explosões ecoavam na cidade.
Na manhã seguinte, decidiu partir a pé com a mulher e os 4 filhos rumo à capital, “nos juntamos a muitas outras pessoas que deixavam Diabaly. Levei meu filho mais novo aos ombros e fomos direto a Bamako”, contou Abdullah.
No abrigo provisório da família, a mulher e os 4 filhos dormem na cama enquanto Abdullah se acomoda no chão. “Esta sala é normalmente usada como armazém”, disse, “quero voltar a Diabaly e ao trabalho para poder cuidar da minha família.”
Por Hélène Caux em Bamako, Mali
Obrigado a voluntária do UNV Online Vânia Magalhães pelo apoio na tradução deste texto do inglês.