“Me sinto privilegiada por poder usar meu trabalho em prol da proteção de pessoas”
“Me sinto privilegiada por poder usar meu trabalho em prol da proteção de pessoas”
Livia das Neves é Coordenadora de Campo do ACNUR no Iraque. Ela faz parte da equipe de mais de 11 mil funcionários do ACNUR, sendo que a maioria atua em campo, como ela. Para celebrar o Dia Mundial Humanitário, ela compartilhou conosco como é o dia a dia de um trabalho tão desafiador quanto recompensador.
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Aos 21 anos eu estava em um trabalho que não achava gratificante, e então decidi procurar algo novo. Uns anos mais tarde tive a oportunidade de fazer um estágio no ACNUR e foi uma experiência fantástica. Desde então soube que queria trabalhar no setor humanitário. No ACNUR, me sinto uma pessoa privilegiada por poder usar o meu trabalho em prol da proteção e assistência de pessoas que foram obrigadas a fugir de suas casas.
É muito gratificante estar presente nos lugares onde o ACNUR opera, podendo encontrar as pessoas para as quais trabalhamos, escutar delas quais seus seus desafios e anseios, refleti-los em nosso trabalho e presenciar o impacto de nossas intervenções humanitárias. Esse trabalho também me permite viver em vários lugares do mundo e ter a oportunidade de conhecer diferentes culturas em toda a sua diversidade.
Não poder responder a todos os desafios e anseios identificados pelos refugiados e outras populações para as quais trabalhamos, já que os recursos humanitários disponíveis são muito aquém do necessário para atender às demandas que encontramos no campo, é muito desafiador
O meu trabalho me proporciona momentos que me dão a motivação para continuar. Os melhores momentos são aqueles em que vejo refugiados alcançarem grandes conquistas apesar de todos os desafios que encontram durante o deslocamento forçado. Lembro, por exemplo, de uma formatura de um grupo de refugiados sirios que viviam no campo de Zaatari, na Jordânia, e que graças a uma bolsa de estudo conseguiram alcançar o sonho de se formar.
Mas já vivi dias muito difíceis. Uma vez me deparei com o caso de uma refugiada que foi sequestrada enquanto tentava fugir do conflito em seu país de origem. Ela chegou ao campo onde eu trabahava em um estado de saúde muito delicado após ter sobrevivido à violência sexual e tortura. Quando chegou ao campo sua saúde já estava muito debilitada, e apesar de todos os esforços para asegurar-lhe o tratamento médico necessário, ela não resistiu e veio a falecer algunas semanas mais tarde. Fiquei muito afetada com sua história e até hoje me lembro dela quando me deparo com outros casos de sobreviventes de violência sexual e de gênero.